O Contra voltou aos estúdios da Kuriakos TV e à afável companhia do João Nuno Pinto para falar sobre um dos mais tristes fenómenos do século XXI, que é assunto recorrente na publicação: a Distopia do Reino Unido.
Uma hora que passou num instantinho.
Sinopse: Distopia do Reino Unido. Causas e factos.
1. Causas
As raízes da recente transformação da Grã-Bretanha num Estado autoritário têm origens antigas e modernas. Breve itinerário.
Uma monarquia parlamentar sem constituição.
O Reino Unido não tem uma constituição formal. O regime é consuetudinário – deriva do costume e da Common Law, e tem como inspiração a Magna Carta, um documento assinado pelo Rei João em 1215, que foi ignorado durante quatro séculos e que só em 1688 foi definitivamente aceite como válido, embora não possa ser considerado como constitucionalmente vinculativo, dado o seu estrito âmbito e a relação que tem com realidades históricas que são francamente anacrónicas.
A monarquia parlamentar britânica foi pensada no século XVII para que o papel do monarca fosse simbólico, mas acima de tudo, apolítico. Porém esse importante detalhe não tem também explicitação formal ou legal.
A elite como casta.
Sejam trabalhistas, liberais ou conservadores, os líderes políticos e económicos do reino são produto das mesmas escolas, dos mesmos clubes, das mesmas famílias.
O monopólio da propriedade imobiliária.
No Reino Unido, 0,2% da população detém 69% de toda a terra. A propriedade rural pertence em boa parte a famílias aristocráticas – e numa pequena parcela à coroa – há muitos séculos. E a propriedade urbana é também significativamente detida por essa mesma elite. O facto dificulta a mobilidade social, que estará sempre ligada à propriedade e que é parte integrante da dinâmica de uma sociedade liberal, no sentido clássico do termo.
Decaimento para a esquerda e unipartido.
Depois da II Guerra Mundial, as escolas frequentadas pelas elites decaíram para a esquerda. Um exemplo deste decaimento é ilustrado pelas inúmeras toupeiras que penetraram o MI6, que recruta em Oxford e Cambridge grande parte dos seus quadros de topo, e que estava de tal forma infiltrado por agentes soviéticos que até Jonh Le Carré, reconheceu que teria sido melhor para os interesses do Reino Unido que a agência nem sequer existisse.
Ao longo do tempo, a direita institucional britânica foi decaindo para o centro e, depois, para a plena cumplicidade com as grandes causas da esquerda, como a ideologia de género, o activismo climático, as políticas de fronteira, a socialização dos serviços públicos, o despesismo e etc.
O sentimento de casta e o decaimento para a esquerda levaram no século XXI ao uníssono entre trabalhistas e conservadores relativamente às questões fundamentais que são colocadas à sociedade inglesa.
Pela primeira vez na história, o actual rei tem uma agenda política. Colegial WEF, entusiasta do apocalipse climático e acólito da religião woke, Carlos reforça o carácter ideologicamente restritivo do regime, anulando assim a lógica secular de equilíbrios institucionais.
ONG’s, Blair e os primeiros ataques à liberdade de expressão.
O surgimento de organizações não governamentais (ONG) após a Segunda Guerra Mundial foi um dos primeiros catalisadores desse regime unilateralista. Indústria multibilionária mas não representativa, acaba por exercer pressão massiva sobre a legislação governamental, que levou
No final da década de 1990 e na década de 2000 Tony Blair a aprovar legislação que alargou as leis existentes sobre o ódio racial para incluir o incitamento ao ódio religioso e deu poder ao Estado para processar pessoas por “causarem ofensas” – uma tendência que se acelerou com a expansão das redes sociais. Durante o governo de Blair, o Islão radical substituiu o nacionalismo irlandês como a principal ameaça à segurança do país, especialmente após os atentados bombistas de 7/7 em Londres, em 2005. Paralelamente, surgiu a indústria da islamofobia, com ONG’s a encorajar os britânicos a denunciar o “ódio” contra os muçulmanos. E como resultado: em 2017 já eram presas 9 pessoas por dia, por delito de opinião, no Reino Unido.
Conservadores só no nome.
Os conservadores do governo de David Cameron pouco fizeram para travar a expansão da legislação relativa aos crimes de ódio e ao discurso de ódio. Cameron era um liberal social, tendo legalizado o casamento homossexual em 2013. Em 2015, começou também a registar os incidentes de ódio contra muçulmanos separadamente de outros crimes semelhantes e legislou para que pais e prestadores de cuidados de saúde que se recusem a afirmar que as crianças “nasceram no corpo errado” possam enfrentar sanções.
Boris Johnson e a tirania sanitária.
Quando Boris Johson subiu ao poder executivo no Reino Unido, trazia consigo uma imagem de político renegado, que tinha levado a nação ao Brexit e que prometia uma forma diferente de liderar e de interpretar o conservadorismo no país. Mas Boris é produto típico da casta elitista que sempre governou o reino e essas expectativas foram rapidamente esvaziadas com a pandemia de Wuhan. Apesar de dispor de dados que negavam a pertinência das suas iniciativas totalitárias, Boris Johson desenvolveu as mais draconianas políticas de contenção da gripe chinesa a que o mundo assistiu, abrindo precedentes para a intrusão da acção governamental na esfera individual que seriam impensáveis até para globalistas fundacionais como Tony Blair, revelando-se como um neo-liberal empedernido, à revelia do seu eleitorado.
Guerra ao cristianismo.
Enquanto o Islão alcançou de facto um estatuto privilegiado na Grã-Bretanha, o Cristianismo tornou-se alvo de ataques constantes. Os cristãos pró-vida, em particular, têm sido visados. A realização de vigílias de cristãos à porta de clínicas de aborto foi proibida, tendo alguns sido presos pelo simples facto de estarem sozinhos a rezar silenciosamente nas suas imediações.
Os cristãos também foram presos por simplesmente citarem passagens da Bíblia ou por fazerem comentários sobre o Islão nas ruas. O Reino Unido registou mais de 700 incidentes de ódio contra os cristãos em 2023.
Guerra racial contra os brancos.
Os britânicos brancos, que continuam a ser a maioria em quase todas as zonas do país – com excepção de Londres e Birmingham – também têm sido alvo dos governos conservador e trabalhista. Em nome da diversidade, os britânicos brancos têm sido excluídos de empregos ou promoções, à medida que as empresas dos sectores público e privado procuram diversificar a sua força de trabalho. Até mesmo a Royal Air Force foi apanhada a dar prioridade a candidatos “diversos” em prejuízo de homens brancos.
Guerra contra a classe trabalhadora e os agricultores.
Muitas das mudanças na Grã-Bretanha são uma consequência directa das ondas sem precedentes de imigração em massa que começaram com Blair e só aceleraram com os conservadores, que permitiram o afluxo, em parte por deferência para com as grandes empresas, ávidas de mão de obra barata. No entanto, para os trabalhistas, a imigração em massa foi uma ferramenta de engenharia social e eleitoral.
O aumento das restrições à liberdade de expressão na Grã-Bretanha resulta, em certa medida, de uma tentativa de acabar com as tensões sociais latentes, alimentadas pelas mudanças sociais. Os britânicos brancos da classe trabalhadora, que viram os salários baixar e os preços subir, foram particularmente afectados e votam agora predominantemente em partidos de direita – mas as minorias étnicas votam esmagadoramente nos trabalhistas, pelo que a sua capacidade de influenciar a esquerda através da retenção do seu voto nas urnas é significativamente reduzida.
Os agricultores britânicos, cuja actividade há muito é limitada pela burocracia, pela legislação ambiental e por uma pesada carga fiscal, chegaram agora a um ponto de ruptura, com o imposto sucessório criado por Starmer com o claro intuito de transferir a propriedade agrícola para as mãos do estado, da banca e dos grandes conglomerados económicos.
Conclusão.
As nações democráticas que restam no mundo deveriam prestar atenção ao exemplo britânico que demonstra como as estruturas da democracia liberal clássica é frágil e pode declinar rapidamente para o autoritarismo socialista, muitas vezes interpretado até por ditos conservadores.
Como o Contra já documentou, é mais fácil do que parece fazer batota em democracia, de tal forma que mesmo um sistema político com eleições, parlamento e tradições democráticas, pode facilmente degenerar num regime totalitário, de que o actual governo de Keir Starmer é máximo intérprete, embora esteja longe de ser o único responsável.
Reunidas as condições históricas, políticas e sociais, as trevas agem rapidamente sobre a luz da democracia.
2. Factos
Decorrente desta metamorfose regimental, ocorre no Reino Unido contemporâneo um processo abominável de crimes contra a liberdade, a identidade e os direitos civis dos cidadãos. Alguns exemplos retirados apenas desde que Keir Starmer chegou ao poder:
– Durantes os protestos que ocorreram a propósito dos assassinatos de Portsmouth, cidadãos foram presos por “desinformação” e por “assistirem” aos motins.
– Ministro da Saúde advertiu que iria privar os “racistas” de cuidados médicos.
– Procurador-Geral advertiu que a polícia iria prender pessoas por partilharem conteúdos em rede social.
– Um cidadão de Bristol, foi condenado a quase dois anos de prisão depois de ter participado nos protestos contra a imigração em massa. A acusação consistiu na alegação de que o réu teria adoptado um comportamento “racista e abusivo” para com os contra-protestantes e de ter gritado com um cão polícia.
– Um cidadão que foi condenado a uma pena de dois anos e oito meses de prisão por ter participado numa manifestação contra a imigração em Rotherham, foi encontrado morto na Prisão de Moorland.
– Um cidadão britânico de 40 anos foi preso e acusado criminalmente por publicações nas redes sociais que continham “retórica anti-sitema”. Outro foi preso por posts onde avisava que os imigrantes “estão a chegar a uma cidade perto de si”.
– Novos dados sugerem que pelo menos uma em cada seis pessoas detidas nos protestos e motins contra a imigração na Grã-Bretanha eram menores. Nas palavras da polícia metropolitana de Londres: “Em média, 27 crianças foram presas por ano desde Julho de 2020”.
– O governo propôs reformas radicais aos direitos dos cidadãos britânicos, que classificam como “assédio” tópicos “sensíveis” de conversação em espaços de trabalho, como a religião ou a ideologia de género. A legislação proposta, dirigida principalmente aos pubs britânicos, obrigaria os empregadores a impedir que os trabalhadores fossem objecto de tais assuntos por parte de terceiros, como clientes. Se se verificar que não o fizeram, poderão ser objecto de processos judiciais ao abrigo da legislação.
– A polícia deteve um judeu por chamar “kapo” (colaborador) a um rabi nas redes sociais.
– A jornalista do The Telegraph Allison Pearson, revelou que agentes da polícia britânica visitaram a sua casa no dia 10 de Novembro, em ligação com um “ incidente de ódio não criminoso”. A visita da polícia de Essex esteve relacionada com um tweet que ela publicou há um ano.
– O governo trabalhista libertou milhares de criminosos, incluindo os que foram condenados por actos de violência, para dar lugar a prisioneiros condenados por motins, incluindo pessoas que fizeram publicações inconvenientes nas redes sociais.
– Um veterano do exército foi condenado a uma pena suspensa de dois anos por rezar em silêncio perto de uma clínica de aborto.
– Um vigário está a ser investigado por ter chamado “gajo” a um arquidiácono transexual.
– Cidadã britânica que acusou um imigrante de a ter atacado na rua foi sujeita a um sermão da polícia sobre o uso de linguagem politicamente incorrecta no rescaldo do incidente.
– O governo trabalhista acaba de anunciar um projecto-lei que dá às autoridades públicas poderes intrusivos de espionagem bancária e controlo da actividade financeira dos cidadãos.
– A imigração no Reino Unido explodiu para mais de 900.000 entradas em 2023. De acordo com dados oficiais, quase 30.000 migrantes chegaram ao Reino Unido em 2024 atravessando o Canal da Mancha em pequenas embarcações.
– O pessoal do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido está obrigado a perguntar a todas as pessoas, mesmo aos homens, se estão grávidas antes de realizarem uma radiografia, num país onde apenas 0,5% da população se identifica com um género diferente daquele com que nasceu.
– Novos dados mostram que a taxa de criminalidade entre imigrantes é muito maior que entre nativos.
– Uma sondagem sobre 16 afirmações derivadas do discurso de tomada de posse de Trump, adaptadas a um contexto britânico – e sem o nome do Presidente americano associado – encontrou um enorme apoio a uma plataforma “Britain First” (controlo de fronteiras, defesa dos intereses dos eleitores, paz na Ucrânia, etc.)
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