Um veterano do exército foi na semana passada condenado por rezar em silêncio perto de uma clínica de aborto.

Adam Smith-Connor, que serviu no Afeganistão, foi processado e condenado a uma pena suspensa de dois anos, por violar a proibição de protestos dentro de uma zona tampão em torno de uma clínica em Bournemouth, Dorset, em Novembro de 2022. A sua cabeça estava inclinada e as mãos entrelaçadas enquanto rezava em penitência por ter permitido o aborto de um feto de que era progenitor, há mais de duas décadas.

A oração de Smith-Connor não durou mais que três minutos.

Ao relatar o caso, o grupo de defesa legal Alliance Defending Freedom (ADF) afirmou que a condenação foi

“a primeira condenação conhecida de um ‘crime de pensamento’ na história britânica moderna”.

A declaração acrescenta ainda que Smith-Connor tem agora de pagar 9.000 libras (10.770 euros) de custas judiciais à acusação, apenas por ter rezado silenciosamente nas imediações da clínica. O grupo está a analisar a possibilidade de recurso da condenação. Mas o facto do Reino Unido não ter uma constituição escrita, que proteja certos valores fundamentais, vai dificultar esse processo.

 

 

Durante o julgamento no Tribunal de Magistrados de Poole, Smith-Connor negou a acusação de não cumprir a Ordem de Protecção do Espaço Público, mas a juíza distrital Orla Austin disse que o que ele fez foi “deliberado”.

A notícia surge no momento em que o governo trabalhista de Keir Starmer está a considerar a possibilidade de proibir especificamente as orações silenciosas à porta das clínicas de aborto.

Antes da decisão, Lois McLatchie Miller, que é responsável pelas comunicações da ADF UK, descreveu o caso como “definidor de uma era”, acrescentando:

“Ou se pode ser julgado e condenado pelas crenças que se tem na cabeça, ou não se pode.”

Acontece que se pode.

Convém lembrar que em Agosto deste ano, entre centenas de cidadãos que foram condenados e encarcerados por delito de opinião a propósito dos protestos contra a imigração que ocorreram depois de um adolescente de origem imigrante ter esfaqueado até à morte três crianças em Southport, um outro cidadão britânico foi preso e acusado criminalmente por ter publicado nas redes sociais “retórica anti-sistema”.

Ou seja, considerando que o crime de opinião expressa também é um crime do pensamento, este não é de todo o primeiro caso do género e, para sermos justos com Keir Starmer (por muito que ele não mereça a justiça), o fascismo de estado não começou agora. Foi inaugurado até sob governos conservadores como o de Boris Johnson.