Quase nove meses depois de um jovem de 20 anos ter tentado assassinar o então candidato presidencial republicano Donald Trump num comício em Butler, as razões que levaram à ocorrência são ainda desconhecidas, enquanto o FBI tem obstruído os esforços para resolver o mistério da razão pela qual Thomas Matthew Crooks, que não deixou qualquer manifesto, fez o que fez.
A polícia local e os antigos amigos, colegas e professores de Crooks estão confundidos e frustrados. Aqueles que talvez saibam a verdade sobre a motivação de Crooks – os seus pais Matthew e Mary – recusaram todas as entrevistas e permanecem na sua pequena casa, isolados do mundo como eremitas. Os vizinhos dizem que eles só saem às 3 da manhã para fazer compras.
“Já agora, porque é que não sabemos nada sobre aquele tipo em Butler? gritou Elon Musk para a audiência da Conferência de Acção Política dos Conservadores, na semana passada, antes de avisar que o director do FBI “Kash [Patel] vai chegar ao fundo da questão”.
Numa extensa reportagem publicada pelo New York Post, que está na base deste artigo, um investigador privado veterano de Erie, na Pensilvânia, que foi contratado por um cliente privado para investigar Crooks pouco depois do fatídico evento de 13 de Julho, disse que acredita que uma “rede criminosa” estava a operar com o atirador na altura da tentativa de assassinato, e que esta rede ainda está activa e mantém o objectivo de matar o Presidente Trump.
Doug Hagmann, cuja equipa de seis outros investigadores trabalha no caso há meses e entrevistou mais de 100 pessoas, disse que também realizou uma extenso rastreio de telemóveis e tablets não pertencentes a Crooks que foram encontrados em sua casa, no campo onde praticava tiro ao alvo, no comício de Butler e no liceu Bethel Park, onde se graduou em 2022.
“Não achamos que ele agiu sozinho”, disse Hagmann, acrescentando.
“Isto exigiu muita coordenação. Na minha opinião, Crooks foi manipulado por mais de um indivíduo e foi usado para a tentativa de assassinato. E eu não excluiria a possibilidade de haver pessoas no próprio comício a ajudá-lo”.
Hagmann disse que um dos dispositivos electrónicos relacionados com Crooks e restreado em vários locais diferentes na altura do tiroteio ainda hoje emite um ping – oriundo do liceu Bethel Park.
Crooks, empoleirado num telhado a 130 metros de distância, abriu fogo contra o palco principal em Butler minutos depois de Trump ter iniciado o seu discurso. Disparou oito tiros, atingindo o antigo presidente na orelha direita, matando o manifestante Corey Comperatore, de 50 anos, e ferindo gravemente dois outros, David Dutch, de 57 anos, e James Copenhaver, de 54 anos.
O relatório da autópsia indica que Crooks foi declarado morto às 18h25 do dia 13 de Julho devido a um tiro na cabeça disparado por um contra-atirador.
Hagmann disse que foi escoltado pessoalmente até à fronteira do condado de Butler e que lhe foi dito para sair duas vezes durante a investigação da sua equipa. As pessoas que o fizeram eram agentes federais ou pertencentes a algum tipo de segurança privada.
Segundo o actual conselheiro para a segurança nacional, Mike Waltz, antigo congressista do Partido Republicano, funcionários do FBI que serviram o Presidente Joe Biden acederam ao telefone, computador e aplicações de mensagens encriptadas de Crooks na Bélgica, Nova Zelândia e Alemanha. No entanto, a agência nunca divulgou qualquer tipo de dados que tenha recolhido a partir destas fontes e a recente nomeação de Kash Patel para director do FBI não parece estar a produzir grandes resultados, nem sobre este caso nem sobre outros que assombram a credibilidade já de si falida da instituição.
O deputado Clay Higgins (R-La.), que também está a investigar a tentativa de assassinato de Crooks há meses, não viu os dados de geolocalização de Hagmann, mas minimizou a sua importância, afirmando que acredita que Crooks agiu sozinho e que não houve conspiração. No entanto, também disse que o FBI obstruiu continuamente a sua investigação. O seu relatório sobre o que ele chama de “J13” foi publicado a 5 de Dezembro como parte da comissão bipartidária sobre a tentativa de assassinato de Trump.
Higgins admitiu que, mesmo depois de meses de pesquisa – incluindo exaustivos exames de balística, viagens à sede do FBI em Quantico, Virgínia, e longas conversas com o importante escritório de advocacia de Pittsburgh que representa os pais de Crooks – ele tem apenas uma teoria: Ele acha que Crooks deve ter tomado algum tipo de medicamento que o fez, nas palavras de Higgins, “enlouquecer”.
No entanto, o médico legista do condado de Pittsburgh, estranhamente, não efectuou testes toxicológicos para produtos farmacêuticos – ou pelo menos não os incluiu no relatório da autópsia. Mais estranho ainda é o facto de o corpo de Crooks ter sido entregue aos pais oito dias após o tiroteio, sem conhecimento da maior parte dos funcionários envolvidos na investigação – e ter sido prontamente cremado.
Referindo que Crooks tinha sido aceite e recebeu uma bolsa de estudo da Universidade Robert Morris, onde começaria a estudar no Outono de 2024, Higgins afirmou:
“Thomas Crooks era um brilhante estudante de engenharia que estava no caminho do sucesso. Aconteceu algo que o fez enlouquecer e é por isso que penso que podem ter sido produtos farmacêuticos. Ele estava determinado na tentativa de assassinato e foi até ao fim – até à morte. Não agia de forma errática, mas era ao mesmo tempo um lunático selvagem, incrivelmente calculista e incrivelmente inteligente”.
Mas termos como “lunático selvagem” e “incrivelmente calculista” não são adjectivos que os antigos colegas de turma, professores, vizinhos e amigos que o New York Post entrevistou durante uma semana na zona de Bethel Park tenham usado para descrever Crooks.
Ao invés, as pessoas que o conheciam nestas cidades industriais e mineiras, transformadas em subúrbios a sul de Pittsburgh, disseram que ficaram chocadas e devastadas quando souberam que tinha sido Crooks a alvejar Trump.
Muitos deles disseram que a narrativa sobre Crooks nos meios de comunicação social nos primeiros dias após o tiroteio – que ele era um solitário problemático, usava uniforme militar e roupa de camuflagem, ameaçou disparar contra a sua escola secundária em 2019 e foi rejeitado pelo clube de tiro da sua escola – era falsa.
“Ele era meu amiguinho”, disse o professor Xavier Harmon, de 48 anos, que, durante dois anos, teve Crooks na sua aula de tecnologia da computação no Steel Center for Career and Technical Education.
“Não acreditei quando ouvi. O Tom era o rapazinho peculiar e engraçado que também gostava de se destacar nas aulas. Quando acabava, voltava sempre para ajudar os colegas. Era muito inteligente”.
Harmon e outros professores da escola secundária e do Community College do condado de Allegheny, onde se formou em 2024 com um diploma de engenharia, disseram que não havia indicação de que Crooks estivesse a usar qualquer tipo de substância – legal ou ilegal.
Crooks era um aluno dotado, com notas quase sempre altas durante todo o liceu e faculdade. De acordo com os registos, obteve 1530 pontos de um total de 1600 possíveis nos seus exames. Harmon suspeita que Crooks foi iludido sobre o que estava realmente a fazer:
“Não acho que ele tenha planeado matar o presidente. O meu palpite é que ele se meteu com as pessoas erradas e não sabia o que ia fazer. Qualquer pessoa que planeasse fazer isto deixaria algum tipo de vestígios. Mas não há nada – nem papelada, nem itinerário, nem sequer dados de navegação na Web.”
Jim Knapp, que foi conselheiro de orientação de longa data e treinador no liceu Bethel Park antes da sua recente reforma, conhecia os pais e a irmã mais velha de Crooks, Katie, de 23 anos, antes de conhecer Thomas. Sobre o perfil do rapaz, afirmou:
“Ele era um jovem de classe média de uma família típica de Bethel Park. Nem Thomas nem Katie se enquadravam no perfil de um miúdo problemático e os seus pais também não pareciam estranhos. O Tom era um bom miúdo. Era muito reservado, mas também tinha amigos”.
Knapp, um católico devoto, diz que “algo aconteceu” com Crooks entre o momento em que ele se formou no ensino médio em 2022 e o tiroteio 18 meses depois.
“Acredito que o mal existe no mundo e que o diabo o levou a passar-se. Algo entrou no seu cérebro e controlou-o. O diabo alimentou-se dele e levou-o a passar-se. O diabo alimentou-se dele e apanhou-o, com o anzol, a linha e o chumbo.”
Os vizinhos da rua tranquila onde os pais de Crooks ainda vivem disseram que a família nunca foi considerada estranha ou sinistra. Kelly Little, 38 anos, que vive do outro lado da rua e cujo filho andou no liceu com Crooks, testemunhou:
“Ele era nerd mas simpático.”
Os pais de Crooks, Matthew, 54, e Mary, 53, são ambos assistentes sociais licenciados. Higgins disse que o advogado tentou convencê-los a falar com ele, mas eles recusaram. Mary é deficiente visual.
“Nós nunca os vemos”, disse um vizinho que não quis ser identificado, acrescentando:
“Eles saem para fazer compras de supermercado às 3 da manhã. É estranho. Mas na altura assustava-me de morte. Pensei: como é que eles não sabiam o que o filho andava a fazer naquela casa?”
A irmã Katie, que trabalha como empregada de limpeza numa escola próxima, vive num prédio de apartamentos a cerca de um quilómetro de distância. Dois homens mais velhos foram à porta do prédio quando o The Post chegou, dizendo que ela não queria ser incomodada e avisando um repórter:
“A história está morta. Lembrem-se disso”.
O amigo de Crooks da sua turma de economia do liceu, Mark Sigaroos, disse ao The Post que o caso
“ainda hoje me deixa perplexo. É apresentado como um caso fechado, do género: ‘Oh, ele enlouqueceu’, mas não faz sentido. É como o JFK.”
Há quem acredite que Crooks se radicalizou enquanto esteve no Community College do condado de Allegheny, mas o seu conselheiro académico Todd Landree duvida. Ele lembra-se de Crooks como sendo inteligente e de ter ficado impressionado com um dos seus trabalhos, um projecto de xadrez que imprimiu em 3-D para que os cegos pudessem jogar, que ele disse ser “fantástico”.
Apesar de Higgins ter sido nomeado presidente de uma nova subcomissão que irá continuar a investigação do tiroteio, o professor Xavier Harmon duvida que a verdade alguma vez venha ao de cima e conclui:
“Só quero que toda a gente perceba quem era realmente o Thomas e a pessoa que eu conhecia. O monstro que está a ser criado não é o indivíduo que esteve na minha sala de aula durante dois anos. Vou concentrar o meu coração e a minha mente nesse jovem.”
Como o ContraCultura documentou anteriormente, uma análise forense de áudio sugeriu a presença de dois atiradores, enquanto a incompetência aberrante dos serviços secretos em Butler é excessiva para ser plausível. Acresce que Thomas Matthew Crooks tinha contas de mensagens encriptadas em plataformas de três países estrangeiros, facto que suscita ainda mais questões sobre o seu passado. Crooks é um perfeito bode expiatório e as contradições e os silêncios que perfazem o seu perfil lembram um outro personagem envolvido numa conspiração assassina: Lee Harvey Oswald, um homem também socialmente inepto, que sendo oficialmente declarado como um radical comunista, e tendo até vivido na União Soviética, estava ligado a grupos de activistas que lutavam pela queda de Fidel Castro e era muito provavelmente um activo da CIA.
Donald Trump prometeu revelar as conclusões de um relatório que solicitou ao FBI, mas até agora nada veio a público.
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