O ContraCultura sempre suspeitou que a verdade sobre diversos dossiers secretos que têm minado a confiança dos americanos nas suas instituições nunca será revelada pela classe política, independentemente de quem detém o poder executivo ou legislativo, e o que aconteceu ontem em Washington só confirma esta suspeita.

Depois de anunciar que tinha os ficheiros Epstein literalmente “na sua secretária” e que os ia revelar na quinta-feira, a procuradora federal Pam Bondi, que, convém lembrar, foi nomeada por Donald Trump depois de Matt Gaetz ter desistido da nomeação por impossibilidade de ultrapassar as objecções do Senado, não conseguiu mais do que disponibilizar um maço de papeis com informação de contacto e de viagem, altamente censurada, que Epstein tinha em seu poder e que já tinha caído no domínio público há dois anos, desculpando-se com o facto do FBI não lhe ter dado acesso a documentos que tem em seu poder.

 


 

Pam Bondi afirma que o FBI de Nova Iorque está a reter documentos sobre Epstein e exige uma investigação.

A Procuradora-Geral Pam Bondi afirmou ontem que o Federal Bureau of Investigation (FBI) está a reter documentos relacionados com o ex-bilionário pedófilo Jeffrey Epstein. Bondi enviou uma carta ao Director do FBI, Kash Patel, exigindo que os documentos sejam entregues.

A carta, datada de 27 de Fevereiro, afirma que Bondi e o DOJ receberam cerca de 200 páginas de documentos do FBI. Tratava-se sobretudo de registos de voos e dos contactos de Epstein. Bondi afirma que o FBI alegou que os documentos enviados eram tudo o que a agência tinha, mas que entretanto descobriu que uma delegação do FBI em Nova Iorque tem mais uns bons milhares de páginas de documentos que não foram entregues.

 

 

Na sua carta a Patel, Bondi exige que todos os documentos de Epstein, incluindo gravações vídeo e áudio, sejam entregues no seu gabinete até às 8 horas do dia 28 de Fevereiro. Bondi também dá instruções ao Director Patel para que inicie uma investigação sobre a razão pela qual a ordem de divulgação dos documentos não foi cumprida e apresente uma proposta de “acção pessoal” no prazo de duas semanas.

A divulgação dos documentos de Epstein foi uma promessa de campanha feita pelo Presidente Donald J. Trump. A administração Trump tem-se dedicado a esforços de transparência nas suas primeiras semanas, tendo também procedido à desclassificação de ficheiros relacionados com os assassinatos dos antigos presidentes John F. Kennedy, Robert F. Kennedy Sr. e Martin Luther King Jr.

 

Um desastre de relações públicas, na Casa Branca.

Um dos pormenores mais intrigantes que aconteceram ontem é o facto de o próprio presidente Donald J. Trump ter estado numa sala com as pastas que continham os registos de voos e chamadas telefónicas de Epstein. Uma das páginas continha mesmo o nome do Presidente Trump, que constava da lista telefónica de Epstein.

Mais uma vez, esta informação não é nova. Mas é embaraçosa para a Casa Branca, tanto mais que as pastas foram entregues primeiro a um conjunto de influenciadores, antes sequer de chegarem à maior parte dos elementos do staff do Presidente.

A Procuradora-Geral Pam Bondi e a sua equipa estão a ser claramente responsabilizados pelo desastre, já que não avisaram nem os influenciadores presentes nem o pessoal da Casa Branca das suas intenções de distribuir dossiers de informação que continham poucas informações novas, frustrando tanto a administração como o público em geral.

A congressista Anna Paulina Luna foi às redes sociais para expressar a sua frustração com a situação, uma vez que tem estado na linha da frente da divulgação desta informação ao público há anos e, mais uma vez, não foi informada antecipadamente da situação.

 

 

Várias personalidades importantes reuniram-se na manhã de ontem com influenciadores dos meios de comunicação social, no âmbito de outra iniciativa da Casa Branca para integrar meios de comunicação social e vozes alternativas nos canais de distribuição noticiosa da administração Trump.

As reuniões da manhã incluíram a presença do Vice-Presidente J.D. Vance e do Presidente Donald Trump. Os influenciadores dos meios de comunicação social também fizeram uma visita rápida à Sala Oval, onde estiveram presentes o Director do FBI, Kash Patel, o Secretário da Saúde e dos Serviços Humanos, Robert F. Kennedy, e outros membros do Gabinete e altos funcionários da administração. O Presidente Trump terá distribuído objectos de recordação da Casa Branca.

Quando o grupo saiu da Sala Oval, vários dos influenciadores presentes mostraram as suas pastas para a imprensa reunida, a maior parte da qual estava lá para cobrir a visita do Primeiro-Ministro britânico à Casa Branca.

Só depois deste momento mediático é que os influenciadores das redes sociais foram informados de que a Procuradora-Geral Bondi não queria que o público soubesse da distribuição das pastas, uma advertência que chegou demasiado tarde. Um dos jornalistas presentes chamou a todo o incidente um “fiasco”, com muitos deles a ressentirem-se do facto de os influenciadores das redes sociais estarem a ser culpados por não divulgarem mais informações quando lhes foi pedido que não o fizessem, mas apenas depois dos jornalistas dos meios de comunicação convencionais terem registado que essa informação já lhes tinha sido facultada.

Mais do que uma conspiração dos influenciadores das redes sociais, este acontecimento parece ter sido uma tentativa falhada de obter o favor das redes sociais por parte da procuradora-geral, que se esforçou na tarde de quinta-feira para exigir que o FBI divulgasse mais ficheiros. Isto apesar de ela ter afirmado que tinha as listas de clientes de Epstein “na sua secretária”, numa entrevista a Jesse Watters, da Fox News, esta semana.

O incidente é mais um erro da procuradora-geral e da sua equipa do que qualquer outra coisa, na medida em que os dossiers contêm pouca ou nenhuma informação nova, o que sugere, mais uma vez, que se tratou mais de uma manobra de relações públicas falhada ou – pior – uma tentativa de esconder do público a verdade sobre a actividade sinistra de Epstein e a identidade dos seus mais directos associados.