Dezenas de brigadas de polícia em toda a Alemanha invadiram casas antes do amanhecer, numa acção coordenada, realizada na passada terça-feira. A polícia estatal não estava à procura de drogas ou armas, mas sim de pessoas suspeitas de publicar “discursos de ódio” na Internet.

Entretanto, um segmento especial do programa “60 Minutes”, da cadeia noticiosa americana CBS, sobre as leis alemãs relativas ao “discurso de ódio”, que incluía rusgas policiais a cidadãos de todo o país e que os ‘jornalistas’ americanos pareciam subscrever, provocou um potencial conflito diplomático entre os EUA e a Alemanha e levou à indignação nas redes sociais

O programa levou Elon Musk a reagir às imagens chocantes, escrevendo:

“Graças a Deus que a América tem liberdade de expressão”.

 

 

Apesar das críticas ao facto da Alemanha estar a caminhar para um estado policial autoritário, as forças de segurança e o Ministério do Interior do país, que para todos os efeitos está demissionário, não mostram sinais de abrandamento, com rusgas contra indivíduos que publicam “discursos de ódio”, “insultos” ou “memes racistas”.

O deputado Wolfgang Kubicki, membro do Partido Democrata Livre (FDP), declarou no X:

“Quem ainda consegue dormir tranquilamente perante tais imagens não compreendeu o valor da liberdade de opinião para a comunidade democrática. A liberdade de opinião é a base da liberdade em geral. Estas buscas minam a confiança na validade da Lei Fundamental. Vamos assegurar que o próximo Bundestag impeça tais excessos autoritários”.

 

 

No entanto, as rusgas domiciliárias podem também resultar em consequências diplomáticas entre os EUA e a Alemanha.

O vice-presidente JD Vance, que em Munique já tinha deixado sérias advertências aos défices democráticos na Europa e às leis totalitárias sobre o livre discurso adoptadas pelos governos leninistas-globalistas da União Europeia, escreveu no X:

“Insultar alguém não é um crime e criminalizar o discurso vai colocar uma verdadeira pressão nas relações entre a Europa e os EUA. Isto é orwelliano e toda a gente na Europa e nos EUA deve rejeitar esta loucura.”

 

 

Musk também publicou mais posts na sequência do especial da CBS, partilhando outros segmentos do programa, incluindo um post de John LeFevre, onde lemos:

“Chamar violador a um violador é mais ofensivo do que ser um violador na Alemanha. E o 60 Minutes não se importa com isso…”.

 

 

O vídeo também apresenta procuradores alemães que se riem das buscas domiciliárias efectuadas na Alemanha, com um utilizador alemão do X, Marc A. Wilms, a escrever:

“Isto mostra a rapidez com que chegámos a condições orwellianas. A propósito, estes senhores estão a divertir-se muito com o facto das pessoas ficarem chocadas quando lhes tiram os telemóveis durante uma busca domiciliária. Mesmo que não sejam punidos, só o facto de lhes tirarem o telemóvel já é um castigo! Hehe! De um programa que foi para o ar na televisão americana”.

 

 

Um dos pontos principais é saber se um “insulto” é um crime. Os procuradores alemães tiveram o cuidado de sublinhar à CBS que “insultar” alguém ou um político é um crime e que até mesmo a partilha de um insulto é um crime.

 

 

De facto, centenas de pessoas – se não milhares – tiveram as suas casas revistadas e os seus aparelhos electrónicos apreendidos, bem como foram alvo de processos judiciais, por terem “insultado” políticos. Entre os insultos, conta-se o de chamar à ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, a “pior ministra dos Negócios Estrangeiros”. Noutro caso, um homem teve a sua casa invadida quando chamou “idiota” ao ministro da Economia, Robert Habeck.

 

 

No entanto, os insultos deixam de ser uma infracção passível de ser procurada judicialmente quando são dirigidos ao partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD). Há poucos meses, por exemplo, o tribunal de Colónia considerou que as ameaças extremistas contra o AfD constituíam “liberdade de expressão”. Um líder de opinião alemão, Peter Fischer, disse  à RTL o que pensava sobre a repressão a que são sujeitos os cidadãos dissidentes e os eleitores e membros do AfD:

“Arrombem-lhes as portas e os portões, dêem-lhes uma bofetada na cara. Vomitem na cara deles. Estou-me nas tintas.”

Apesar de ter apelado à violência contra um partido e os seus apoiantes, o tribunal considerou que as declarações violentas de Fischer, antigo presidente do clube de futebol Eintracht Frankfurt, são um discurso protegido. O procurador de Colónia, Ulrich Bremer, declarou a este propósito:

“As declarações proferidas pelo arguido são […] consideradas plenamente abrangidas pelo direito à liberdade de expressão, nos termos do artigo 5º da Lei Fundamental. Não existe, portanto, qualquer suspeita inicial de incitamento público à prática de crimes ou de incitamento ao ódio ou ao insulto, etc..”

Como é que esta gente dorme à noite?