A Boeing prepara-se para reduzir significativamente a sua força de trabalho, devido a problemas de segurança dos seus aviões, incumprimento de contratos e greves, mas sobretudo, à ganância dos gestores de fundos de Wall Street.
A empresa planeia reduzir em 10% por cento o número de quadros – aproximadamente 17.000 pessoas, segundo informou a CNBC na sexta-feira.
A medida surge “numa altura em que as perdas da empresa aumentam e uma greve de maquinistas que paralisou as suas fábricas de aviões entra na sua quinta semana”, refere o artigo, acrescentando que a Boeing está também a adiar o lançamento do seu avião de fuselagem larga 777X para 2026.
O director executivo Kelly Ortberg está há mais de dois meses no cargo e foi incumbido de ajudar a empresa a recuperar a estabilidade após problemas significativos de segurança e qualidade de construção.
O mais recente exemplo desses problemas manifestou-se em Julho, quando um avião da Boeing que transportava 174 passageiros perdeu uma roda no ar depois de descolar do Aeroporto Internacional de Los Angeles, o segundo incidente deste tipo este ano.
Outro incidente ocorreu em Maio, quando um avião Boeing fez uma aterragem de emergência na Indonésia devido a um incêndio no motor. Havia 468 passageiros a bordo.
A Boeing espera registar um prejuízo de 9,97 dólares por acção no terceiro trimestre, segundo revelou a própria empresa num surpreendente comunicado emitido na sexta-feira. O construtor espera registar um prejuízo antes de impostos de 3 biliões de dólares na unidade de aviões comerciais e de 2 biliões de dólares no seu negócio de aviação militar.
A greve dos maquinistas é mais um desafio para Ortberg. As agências de notação de crédito avisaram que a empresa corre o risco de perder a sua avaliação de investimento, e a Boeing tem estado a gastar dinheiro naquilo que os líderes da empresa esperavam que fosse um ano de viragem.
Mas as negociações entre a Boeing e o seu sindicato “fracassaram”. A Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais afirmou que a Boeing se recusou a ceder numa série de questões, desde salários e planos de reforma a férias e baixas por doença.
2024 tem sido um ano negro para aquela que foi um dia a mais prestigiada empresa de aeronáutica do mundo.
Em Março, enquanto um denunciante, que depois apareceu ‘suicidado’, revelava graves problemas de produção industrial na empresa, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) auditou a produção do 737 Max e os resultados foram assustadores: em certos casos, mais de metade dos protocolos de qualidade industrial estavam a ser desrespeitados, e operários foram vistos a testar vedante de portas com cartões de quartos de hotel.
Em Abril, a FAA e ouviu as alegações de mais um denunciante que revelava os mesmos e sérios problemas de segurança e qualidade de construção na Boeing. Em Maio, 3 dos seus aviões sofreram acidentes em apenas 48 horas, enquanto mais 10 informadores anunciaram que estavam preparados para revelar problemas de segurança e qualidade nas fileiras industriais da empresa.
Ainda em Maio, a FAA anunciou que tinha identificado uma avaria em 292 aviões 777 registados nos EUA, que pode fazer com que os seus motores a jacto descarreguem energia electrostática nos depósitos de combustível e os façam explodir em pleno ar.
Em Junho, famílias dos militares mortos num acidente com um V-22 Osprey na Califórnia, em 2022, intentaram uma acção judicial contra a Boeing, a Bell Textron e a Rolls-Royce, acusando estas empresas de escamotearem problemas de fiabilidade do avião, que já matou mais de 60 pessoas.
Também o negócio aerospacial tem estado debaixo de fogo. Em Junho, esta divisão da Boeing foi notícia, quando a sua nave Starliner avariou, deixando dois astronautas abandonados na Estação Espacial Internacional (ISS). Inicialmente, os astronautas deveriam permanecer na ISS durante uma semana, mas a NASA anunciou que vão ficar retidos no espaço até 2025, altura em que a Crew Dragon da SpaceX deverá deixar na estação orbital uma nova tripulação de astronautas e recolher os que já deviam estar na Terra.
Em Agosto, auditores da NASA acusaram a Boeing de “deficiências gritantes na qualidade”, atrasos na produção, orçamentos inflaccionados e recursos humanos desadequados.
Tudo isto porém não conforma a causa dos prejuízos da Boeing, constituindo apenas os efeitos do processo a que a empresa foi submetida nas últimas décadas, desde que foi conduzida às lógicas do capital anónimo. Aquela que outrora foi essencialmente uma companhia liderada por engenheiros conhecidos pela inovação e pela perícia, funciona agora segundo os interesses de Wall Street. O resultado é o triunfo dos corretores e a falência da engenharia.
E o preço está ser pago pelo trabalhadores, claro. Porque aqueles que que são os reais responsáveis pelo desastre, gestores de fundos, corretores, accionistas e altos quadros da empresa, registaram apenas uma consequência dos seus actos: Ficaram muito mais ricos.
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