Comissários políticos numa parada militar germano-soviética na Polónia ocupada . Setembro de 1939

 

Os recentes despedimentos nos meios de comunicação social tradicionais americanos, em particular a purga de mais de 100 propagandistas no Los Angeles Times, bem como a queda de audiências nos principais sites de notícias corporativos, levaram a um debate público sobre o futuro do dito “jornalismo”.

A comunicação social estabelecida aproveitou o pânico para renovar os apelos para que o Congresso desenterre um projecto-lei chumbado pela Câmara dos Representantes que visava salvar a indústria, e que é totalmente apoiado pelo aparelho da censura: o Journalism Competition and Preservation Act (JCPA).

À semelhança do Online News Act no Canadá e do News Media Bargaining Code na Austrália, o JCPA abriria um funil estatal de receitas publicitárias para os maiores conglomerados de media do país, deixando a imprensa ainda mais, se possível, dependente da boa vontade das elites políticas em Washington e dos tecnocratas em Silicon Valley.

O JCPA projecta a criação de um cartel dos meios de comunicação social, que pode negociar colecivamente os pagamentos das tecnológicas californianas. Estas últimas nem teriam escolha na matéria: o projecto-lei permite que os acordos lhes sejam impostos através de arbitragem. Tal como os pacotes legislativos canadiano e australiano, o JCPA cria um fluxo de rendimento praticamente garantido para as empresas de comunicação social, independentemente da qualidade e fiabilidade e independência e decência do “jornalismo” que produzem.

É bestial.

 

Acabar com a concorrência.

Embora apresentado como um meio de salvar o “jornalismo”, o projecto-lei, na realidade, apenas protege a indústria de desinformação que passa por imprensa contra os seus concorrentes independentes. Dois importantes estrangulamentos excluem os meios de comunicação social dissidentes, tais como podcasters, streamers, sites editoriais não licenciados pela mafia do governo federal e autores de boletins informativos online como aqueles que econtramos no Substack, por exemplo.

O primeiro obstáculo consiste nas licenças: qualquer organização que pretenda formar um cartel dos meios de comunicação social, ou juntar-se a um cartel já existente, tem de ser um “organismo de radiodifusão elegível” com uma licença emitida pela FCC ou possuir uma “publicação elegível” que seja propriedade de uma organização sem fins lucrativos 503(c) ou que possua um International Standard Serial Number (ISSN) antes da aprovação da lei.

Uma vez que a grande maioria dos criadores independentes de media digital não cumprem nenhum destes critérios, seriam excluídos do cartel. Em vez disso, os pagamentos exigidos pelo Estado a Silicon Valley iriam para os cofres dos meios de comunicação social que são propriedade dos grandes conglomerados globalistas e neo-liberais.

O segundo estrangulamento consiste em critérios de entrada que os próprios cartéis estabelecem. A JCPA permite que as empresas de media alinhadas com o regime formem um cartel e dá-lhes carta branca para estabelecerem critérios de entrada para outros que desejem tornar-se membros. Os únicos critérios que não podem ser usados como motivo de exclusão, segundo o projecto-lei, são a “dimensão ou o ponto de vista” de uma publicação.

Isto deixa uma grande margem de manobra. Um cartel dos meios de comunicação social poderia facilmente inserir uma condição de entrada que incluísse a alegada “fiabilidade” de uma publicação, um critério neutro apenas do ponto de vista que é frequentemente utilizado como instrumento para desacreditar e censurar os meios de comunicação social independentes. Numerosas organizações, todas alegando serem “neutras em ponto de vista”, empregam actualmente o pretexto da “fiabilidade” para manter listas negras de meios de comunicação independentes. Estas incluem o Global Disinformation Index (GDI) e a NewsGuard, ambos nomes conhecidos, pelas piores razões, na indústria da censura.

Os meios de comunicação social que desafiam as narrativas oficiais são susceptíveis de acabar nas listas negras, que a NewsGuard e a GDI utilizam depois para desvalorizar o seu real impacto mediático junto dos anunciantes, empresas de redes sociais e até mesmo nas salas de aula americanas, com o evidente objectivo de denegrir, devastar financeiramente e até mesmo retirar as plataformas aos meios de comunicação social independentes.

Se o JCPA for aprovado, é bem possível que uma dessas organizações seja usada para determinar quais os meios de comunicação “confiáveis” o suficiente para se juntarem ao cartel corporativo e quais devem ser deixados de fora – e talvez seja por isso que a NewsGuard apoia vocalmente o JCPA.

No seu manifesto, a NewsGuard cita especificamente o problema da “desinformação” e o papel dos meios de comunicação social no seu combate:

As plataformas digitais permitiram que a desinformação e os boatos se tornassem extremamente populares nas redes sociais e nos resultados de pesquisa. As plataformas não fornecem aos seus utilizadores ferramentas que lhes permitam distinguir entre jornalismo de alta qualidade e fornecedores de desinformação. É altura de os editores de notícias fiáveis de todos os quadrantes poderem unir forças para fazer frente a estas plataformas irresponsáveis e restabelecer modelos de receitas sustentáveis para apoiar as redacções de todo o país.

Em declarações ao Breitbart News em Outubro de 2022, no meio de um intenso impulso para adicionar o JCPA à Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), o cofundador da NewsGuard, Gordon Crovitz, disse que esperava que a lista negra de sua empresa fosse usada para limitar a adesão ao cartel dos media que será possibilitado pelo JCPA:

No caso das plataformas de Silicon Valley pagarem taxas de mercado pelo valor que recebem do trabalho dos jornalistas, é compreensível que tanto as tecnológicas como os editores procurem formas de excluir dos pagamentos obrigatórios os sites que apenas se disfarçam de sites de notícias, como os sites de desinformação dos governos russo, chinês e iraniano e os milhares de sites falaciosos sobre cuidados de saúde que identificámos.

Os critérios do NewsGuard para classificar os sites de notícias como de baixa qualidade ou portadores de desinformação são muito mais amplos do que apenas “desinformação chinesa e iraniana”. Por exemplo, o reputadíssimo e influente site conservador The Federalist, recebe uma classificação abismal de 12,5 em 100 porque questionou as narrativas do establishment sobre a Covid-19 e os acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, no Capitólio.

Quando os utilizadores têm a extensão do NewsGuard activa no seu Browser, qualquer ligação para o The Federalist é sobreposta com um aviso gigante para “proceder com o máximo cuidado”.

Se o JCPA for aprovado, a NewsGuard espera que estas classificações envenenadas por preconceitos puramente ideológicos se tornem o padrão que determina o acesso aos cartéis dos media corporativos.

A News Media Alliance, a principal força de lobby por trás do JCPA, está igualmente ciente de como a narrativa da “desinformação” beneficia seus objectivos. Em Julho de 2020, quando o Facebook estava a enfrentar um boicote publicitário promovido pela Liga Anti-Difamação e outras agências pró-censura, a organização publicou um anúncio a encorajar os anunciantes a levarem os seus negócios para os meios de comunicação social tradicionais:

Caros anunciantes do Facebook:

Preocupados com o facto de os vossos anúncios aparecerem ao lado de desinformação ou discurso de ódio?
O nosso jornalismo é escrito e editado por profissionais. Assumimos a responsabilidade pelo que fazemos.

As nossas audiências continuam a crescer. O público quer e precisa de notícias e informações de qualidade mais do que nunca.

O JCPA ainda não foi aprovado nos Estados Unidos – mas não é por falta de tentativas. Anos de trabalho dos lobistas dos media valeram a pena no final de 2022, quando as disposições do JCPA foram adicionadas à Lei de Autorização da Defesa Nacional (NDAA). Uma contraofensiva de última hora liderada pelo Breitbart News, pelo então líder do Partido Republicano Kevin McCarthy e por vários senadores republicanos impediu que o JCPA chegasse ao rascunho final, mas o facto de ter estado tão perto de ser integrado numa lei relacionada com a defesa e a segurança dos EUA, dá-nos a justa medida da importância deste projecto-lei para a organização criminosa que domina as cúpulas do poder em Washington.

Os lobistas dos media corporativos acreditam claramente que o JCPA pode ser aprovado. Em Setembro do ano passado, milhares de representantes de redacções de todo o país viajaram para Washington D.C. para pedir aos legisladores que aprovassem a legislação. Muito dependerá do homem que substituiu McCarthy como speaker da Câmara, o representante Mike Johnson (R-LA), que, tal como o seu antecessor, tem o poder de bloquear a iniciativa, pelo menos enquanto os republicanos detiverem a maioria no hemiciclo.

 

Leis de protecção da imprensa corporativa: Um jogo fraudulento, à escala global.

Graças à pressão combinada da indústria da censura, das agências governamentais, dos grupos de interesse e dos próprios meios de comunicação social – as empresas tecnológicas já dão um tratamento favorável aos meios de comunicação social tradicionais. Nas plataformas da Apple, Google e Microsoft, é difícil encontrar feeds seleccionados com histórias dos meios de comunicação alternativos, mas máquinas de propaganda regimental como a CNN a MSNBC, a BBC, o Washington Post,o New York Times ou o The Guardian aparecem sempre nas primeiras entradas de cada pesquisa.

Além da hierarquização por algoritmo, as empresas de tecnologia também injectam dinheiro nos media tradicionais. Muito dinheiro. Em 2021, foi noticiado que a Meta planeava pagar mais de 1,5 mil milhões de dólares a títulos corporativos no espaço de cinco anos, com escassa informação divulgada sobre quais as empresas que receberam os pagamentos e em que montantes e sob que condições ou contrapartidas. Além de manipular os seus algoritmos para favorecer os media do regime globalista, a Google também se orgulha dos seus investimentos globais de biliões de dólares nesta decadente e fraudulenta indústria.

Ainda assim, estes investimentos não satisfazem a voracidade das redacções soviéticas do Ocidente, e dos seus camaradas censores. O JCPA é apenas uma componente de um esforço mundial para apoiar os meios de comunicação social tradicionais com dinheiro das grandes tecnológicas. Como já foi referido, tanto a Austrália como o Canadá aprovaram leis (o News Media Bargaining Code, no primeiro caso, e o Online News Act, no segundo) que obrigam as plataformas digitais a pagarem às empresas de comunicação social em troca da publicação dos seus conteúdos. O regime distópico do Canadá, para além de ter proíbido oficialmente os meios de comunicação independentes, através de uma lei que condena à prisão e a uma pesada multa qualquer cidadão que crie ou partilhe na web artigos que sejam considerados “falsos” pelos verificadores de factos, também financiou directamente os meios de comunicação social com 600 milhões de dólares em subsídios, e Trudeau não consegue parar de se gabar do facto, nem de admitir que é assim que controla a informação publicada no seu país.

É instrutivo considerar quem é deixado de fora destas leis. Os lobistas dos media argumentam que as redes sociais lucram com os seus conteúdos e com o tráfego que estes geram. Mas as empresas de redes sociais lucram muito mais com os milhares de milhões de utilizadores que produzem conteúdo casualmente nas suas plataformas todos os dias, bem como com o vasto ecossistema descentralizado de criadores profissionais e semi-profissionais: autores de boletins informativos, streamers, canais independentes do Rumble ou do YouTube e uma variedade de outras formas, como este modesto ContraCultura.

Não só estes criadores são totalmente deixados de fora de leis como o JCPA, como também não lhes são oferecidas quaisquer salvaguardas contra a desmonetização arbitrária e a censura por parte de plataformas tecnológicas, dos processadores de pagamentos online e dos anunciantes. O resultado final destas leis é o protecionismo: o máximo de benefícios para os meios de comunicação tradicionais e zero para os criadores independentes que competem com eles.

 

O papel dos media na estrutura da indústria da censura.

O complexo indústrial de censura não tem apenas o objectivo de suprimir as fontes desfavorecidas – também quer promover as favorecidas. Um dos principais objectivos da indústria da censura online é manipular o jogo a favor dos principais meios de comunicação social – conduzindo o tráfego nesse exclusivo sentido, reforçando a percepção da sua fiabilidade e legitimidade, contra todas as evidências, e aumentando os seus lucros.

Os media são um dos quatro pilares da estrutura da indústria da censura para combater a “desinformação”. Neste quadro, os meios de comunicação social e os verificadores de factos actuam como árbitros da verdade, assinalando quais as narrativas que devem ser promovidas e quais as que devem ser suprimidas. Os exemplos incluem o RussiaGate, os votos por correspondência e a interferência eleitoral em 2020, a Covid-19 e a guerra na Ucrânia.

Grande parte desta iniciativa tem origem no governo dos EUA. Um relatório da FFO do início deste ano explicou como a National Science Foundation (NSF) financiou um “painel digital” para “ajudar os jornalistas a detectar e corrigir a desinformação e partilhar mensagens contendo a verdade verificável em redes de desinformação”. O governo financiou também a criação de uma base de dados massiva de cidadãos americanos (ou “tweeters de desinformação, retweeters de desinformação, seguidores de desinformação e seguidos de desinformação”, como diz a NSF), explicitamente concebida para dar ordens de marcha aos jornalistas.

Os media defendem a visão oficial dos poderes instituídos que a “desinformação” ameaça. Quando a “desinformação” for eliminada, essa visão oficial do mundo será tudo o que restará, dominando a perceção pública, tal como acontecia na era pré-digital, quando as empresas de comunicação social centralizadas controlavam os únicos pontos de acesso significativos às notícias. A indústria da censura surgiu, em grande parte, como resposta à ruptura digital desse ecossistema e ao consenso político que ele sustentava.

A indústria da censura e os seus aliados políticos reconhecem que a situação é precária. A confiança nos meios de comunicação social é consistentemente baixa e os jovens têm uma tendência crescente para confiar nas publicações das redes sociais em detrimento das organizações tradicionais de comunicação social. A pandemia e as suas fraudes multidimensionais contribuíram decisivamente para o cepticismo de milhões de cidadãos, que deixaram de creditar cegamente a imprensa tradicional. Isto coloca os títulos corporativos numa corrida contra o tempo. Conseguirão suprimir os seus concorrentes online descentralizados e independentes, antes de serem eclipsados por eles?

A resposta a esta questão pode ser decisiva para o futuro do Ocidente.