No seu monólogo de sábado passado, Neil Oliver coloca, muito assertivamente, o foco numa consequência deveras séria que resulta dos impensados e constantes embustes que as elites dirigentes das sociedades ocidentais armam sobre as massas: quando a verdade emerge, e a verdade vem sempre à superfície da História, o produto final desse movimento ascendente é uma brutal e insuperável crise de confiança nas instituições e nos seus intérpretes.
Entre muitas outras revelações espantosas que nos últimos meses têm sido oferecidas à audiência global, o que nos dizem os Twitter Files e os Lockdown Files e as imagens do Capitólio a 6 de Janeiro e as evidências estatísticas sobre os excessos de mortalidade e a ineficácia das vacinas e de praticamente todas as políticas anti-pandémicas e os esquemas de corrupção da Comissão Europeia e os factos conclusivos sobre o atentado aos gasedutos Nordstream e as verdadeiras origens da pandemia, é que estamos a ser aldrabados a um ritmo alucinante pelos mentirosos compulsivos que em má hora elegemos para os cargos públicos e pelos impenitentes falsários da imprensa e pelos senhores do universo de Silicon Valley, de Wall Street e de Davos.
Somos todos os dias desviados dos factos e condicionados a narrativas delirantes sobre a desinformação, a inflação, o clima, as vacinas, a guerra na Ucrânia, a imigração e a diversidade; somos quotidianamente enganados sobre as políticas monetárias, industriais e agrícolas; somos constantemente agredidos com obras de ficção sobre as virtudes dos veículos eléctricos e das cidades de 15 minutos e com manobras de distração sobre os problemas reais das populações.
As elites mentem sobre ciência como mentem sobre história como mentem sobre economia como mentem sobre tudo e mais alguma coisa porque são muito simplesmente incapazes de dizer a verdade. Não há aqui exagero nenhum: se quisermos perceber o que de facto se passa nos Estados Unidos, devemos ler tudo o que Joe Biden diz na oposição semântica do seu discurso. Quando o senil inquilino da Casa Branca afirma que a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos são os movimentos de supremacia branca, temos a obrigação de ler as suas palavras como significando que a maior ameaça à segurança da América vem dos movimentos de supremacia woke. Quando Macron anuncia aos franceses o fim da prosperidade, o que está de facto a prometer é o empobrecimento das massas em favor do enriquecimento das elites. Quando Rishi Sunak se recusa a descer os impostos em nome do equilíbrio orçamental do Reino Unido, o que afirma de facto é que precisa desse dinheiro para cumprir a sua agenda globalista, entregando biliões de libras a fundos climáticos sem qualquer relação com a economia britânica ou os interesses objectivos do seu eleitorado. Quando Trudeau fala em combater a desinformação, o que ele quer de facto é obliterar é a dissidência. Quando Costa fala em inclusão, o que as suas palavras traduzem é a irredutível intenção de proteger os grupos de interesse, as ambições e as carreiras dos quadros do seu partido.
Mas a mentira tem um preço, como todos sabemos. Nas sociedades contemporâneas esse dispêndio reflecte-se na falência da confiança entre governos e governados, líderes e liderados, patrões e empregados, elites e massas. E esse problema é mais grave do que pode parecer à partida porque desconfiar de políticos e empresários, jornalistas e militares, burocratas e académicos pode, no actual quadro, ser uma excelente ideia. E é, sem dúvida, no curto prazo. O Contra até subscreve a máxima libertária de que confiar que um político trabalhe para os interesses dos seus eleitores é equivalente a acreditar que a prostituta está apaixonada pelo seu cliente. Mas a questão tem profundidades abissais, que transcendem a espuma dos memes e dos juízos imediatistas.
Quando as sociedades ocidentais forem de facto atingidas por uma praga a sério, do género dantesco das pestes medievais, ou sujeitas a um cataclismo natural de primeira grandeza, ou realmente atacadas, realmente invadidas e destruídas por uma potência beligerante, quem é que vai voltar a acreditar nas directivas das elites? Há pelo menos meio mundo que não vai de certeza. E isso é muito preocupante porque é precisamente em momentos de crise que os estados devem provar o seu valor e a sua utilidade, até porque são, na maior parte dos casos, as únicas entidades com recursos militares, logísticos e financeiros capazes de fazer frente a essas ameaças de carácter bíblico.
Pedro, o alarmista, gritou em falso tantas vezes que, quando a alcateia chegou à aldeia, ninguém levou a sério o seu derradeiro e verdadeiro alerta. Esse é o síndroma que resultou destas duas primeiras décadas do século XXI. Quando o lobo for real e surgir pela calada da noite, muitos de nós vão ignorar os avisos de todos os pedros que habitam os corredores dos poderes instituídos. Muitos de nós vão até fazer questão de prosseguir como se nada fosse. E percebe-se porquê. Mas, por uma vez, ignorar as elites pode ser uma péssima ideia.
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