Como as pessoas vivem enclausuradas em bolhas de informação digital, cujos algoritmos só lhes dão os inputs que gostam de receber, formam ideias completamente divergentes da realidade. E se o fenómeno acontece principalmente à esquerda do espectro político, há que reconhecer que também se plasma com significado à direita.
Vem este parágrafo a propósito da percepção que muita gente parece ter de que Donald Trump lidera neste momento as sondagens para as presidenciais de 5 de Novembro. Como já em 2020 sucedeuu, esse optimismo não tem razão de ser. Eu explico.
Para já: não é verdade que Trump lidere as sondagens. Há sondagens que lhe dão vantagem, curta, no total nacional, mas a maior parte dão empate técnico ou vantagem, curta, a Kamala. Umas como outras, estão dentro da margem de erro.
O candidato republicano é favorito no contexto do colégio eleitoral, ou seja, no mecanismo que faz dos EUA uma república federal, mais do que uma democracia, e que, de forma a dar voz aos estados menos populosos, valoriza o número de votos colegiais sobre a votação nacional.
Como aconteceu em 2016, Trump poderá ser eleito mesmo que não tenha a maioria dos votos, desde que vença nos estados tradicionalmente vermelhos e em quatro ou cinco dos seguintes estados-chave: Georgia, Pensilvânia, Carolina do Norte, Florida, Wyoming, Michigan e Arizona.
Porém, a Pensilvânia está tremida e o Michigan é sempre difícil para um candidato republicano, seja ele quem for. Donald Trump terá assim forçosamente que vencer nos restantes estados. E não é liquido que o faça na Georgia e no Arizona, por exemplo.
O seu favoritismo, ainda assim, decorre principalmente de três factores: A dinâmica da sua campanha, o desastre da actual administração democrata e a imbecilidade de Kamala Harris. O facto do candidado republicano ser generoso em presenças públicas, entrevistas e comícios, bem como as duas tentativas de assassinato de que foi alvo, oferecem momento e entusiasmo ao seu esforço eleitoral. O legado do regime Biden foi de tal forma catastrófico, tanto em termos económicos como de política externa, que até Harris, que é ‘segunda em comando’ desta administração, se está a apresentar como uma candidata “de mudança”. O problema é que Kamala, de cada vez que abre a boca, demonstra à audiência que é paralítica do cérebro.
E é por isso que nas casas de apostas, por exemplo, Trump lidera por mais de 20 pontos.
Ninguém no seu perfeito juízo quer pôr o seu dinheiro num cavalo que não tem capacidade intelectual para o galope.
Ainda assim, e pondo de parte a alta probabilidade da fraude eleitoral, não é de todo um dado adquirido que o candidato republicano tenha a eleição no bolso.
A verdade, verdadinha, é que tudo pode acontecer na noite de 5 de Novembro, na madrugada de 6 e até mesmo nos dias seguintes, já que em certos estados a contagem de votos pode estender-se loucamente. E tudo pode acontecer também, nos dias que ainda restam cumprir até lá chegarmos.
Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura
Relacionados
1 Nov 24
O ódio como motor da tirania.
Qualquer pessoa minimamente sensata perceberá que um regime democrático liderado por uma classe política que despreza metade da sua população é insustentável. E de facto, o ódio das elites para com as massas está a transformar o Ocidente num bloco de tiranias.
31 Out 24
What a wonderful world, what a damn old soul.
Num pungente lamento pela civilização que perdemos, Walter Biancardine evoca os tempos em que no Ocidente as coisas faziam sentido e as pessoas sabiam agir em função do presente e sonhar em função do futuro.
30 Out 24
Boletim meteorológico, com previsão do estado do tempo para os próximos meses.
O clima nos EUA está a ser dominado pela ansiedade que precede a tempestade e o discurso dos media começa a sugerir uma eventual guerra civil, que acontecerá faça chuva ou faça sol. Neste contexto, o Contra arrisca algumas previsões para o curto prazo.
29 Out 24
Haverá saída por vias democráticas?
Walter Biancardine pergunta-se: será possível, por meios democráticos e pacíficos, vencer a pressão crescente dos diversos aspirantes ao domínio global - califado islâmico, eurasianismo e globalismo ocidental? Ou estamos condenados a uma guerra que nos reduza a todos a cinzas?
28 Out 24
Odair e o elitismo sistémico.
Odair Moniz é o George Floyd da Cova da Moura - uma vítima do sistema e da violência policial, de raiz racista. Acontece que não. Acontece que é, sim, mais um instrumento que as elites usam para nos virarem uns contra os outros. Uma crónica de Afonso Belisário.
28 Out 24
O Contra errou. E pede desculpa.
O ContraCultura meteu os pés pelas mãos quando desconfiou da candidatura de Robert F. Kennedy Jr. por causa da sua campanha ser dirigida por uma ex-agente da CIA. Amaryllis Fox Kennedy é afinal uma rapariga de transparente agenda, que não merece a suspeição.