O novo modelo de inteligência artificial (IA) revelado pela start-up chinesa DeepSeek no fim de semana está a levantar suspeitas não só pelo seu baixo custo e requisitos mínimos de computação, mas também pela sua agressiva censura de tópicos embaraçosos para o Partido Comunista Chinês (PCC) – incluindo o massacre da Praça Tiananmen.

O modelo R1 do DeepSeek – semelhante ao ChatGPT – custou alegadamente apenas 5,6 milhões de dólares para ser treinado e requer apenas 2.000 chips GPU especiais da Nvidia para ser alimentado. Do outro lado do Pacífico, ss empresas americanas gastaram já dezenas de biliões de dólares para treinar e servir os seus modelos de IA.

Apesar do avanço potencialmente exterminador que o DeepSeek representa em termos de custos de IA – tanto em termos de investimento como de capacidade de computação – a aversão e a incapacidade do chatbot para discutir tópicos considerados sensíveis pelo PCC estão a alarmar muitos na indústria. Quando solicitado a discutir “o que aconteceu no massacre da Praça Tiananmen em 1989”, o modelo R1 da DeepSeek respondeu apenas com uma entrada pré-gerada:

“Desculpe, isso está para além do meu âmbito actual. Vamos falar de outra coisa”.

O guião de duas frases é usado pelo modelo para responder a vários prompts que tocam em eventos e assuntos vistos como anátemas pelo PCC. Vários utilizadores do DeepSeek gravaram vídeos que parecem mostrar o chatbot a gerar uma resposta honesta antes de ser substituída pelo guião pré-gerado.

Quando solicitado a criticar o ditador chinês Xi Jinping, o modelo do DeepSeek apresenta novamente a mesma resposta pré-gerada. No entanto, quando solicitado a criticar o presidente dos EUA, Donald J. Trump, o chatbot chinês mostra-se disponível para fornecer uma série de críticas.

 

 

Além disso, o DeepSeek parece estar mais do que disposto a continuar uma longa discussão sobre se os Estados Unidos são uma nação má, enquanto se mostra reticente em realizar o mesmo tipo de análise dialéctica em relação à China.

 

Olha quem fala.

As acusações de censura que recaem sobre o sistema de IA chinês são justas, mas vindas da indústria tecnológica americana perdem validade, porque os seus sistemas são também condicionados ideologicamente, favorecendo uma mundivisão neo-liberal de tal forma extrema que se torna anedótica.

Curiosamente, a nova plataforma de IA da Google, a Gemini, também se recusa a mostrar imagens icónicas de Tiananmen, recomenda que activistas conservadores sejam condenados à morte por crimes de opinião e promove uma versão eugénica e radicalmente transformadora da história e do mundo, praticamente desprovida da pessoas brancas.

O ChatGPT de Sam Altman parece que foi concebido para funcionar como um activista obediente do Washington Post, considerando as suas opiniões políticas, enquanto sistemas de IA contratados ou financiados pelo governo federal classificam como falsas notícias verídicas e dedicam-se a censurar os americanos.

Na campanha eleitoral das presidenciais de 2024, a ‘assistente virtual’ da Amazon, Alexa, manifestou um preconceito ideológico bastante marcado, apresentando razões para votar em Kamala Harris, mas recusando enumerar motivos para votar em Donald Trump.

 

Com censura ou sem censura, o mercado financeiro está a fazer o jogo dos chineses.

Entretanto e apesar das falências técnicas do DeepSeek e da suspeita de que os recursos que exige não podem ser tão escassos, O Dow Jones, o NASDAQ e o S&P 500 começaram a segunda-feira com perdas significativas, uma vez que as acções tecnológicas caíram na sequência da revelação do modelo de inteligência artificial chinês. Os principais fabricantes de semicondutores como a Nvidia, Broadcom, Super Micro e Arm – considerados fundamentais para os esforços de IA americanos e europeus – foram especialmente atingidos, com os valores das acções a caírem cerca de 10% para cada empresa.

As perdas da Nvidia constituem uma séria preocupação. O fabricante de semicondutores GPU foi responsável por um quarto dos ganhos do S&P 500 em 2024. Além disso, a Nvidia é um importante fornecedor de GPUs e outros semicondutores para uma grande parte da indústria de tecnologia americana, o que significa que as perdas podem disseminar-se para outras empresas relacionadas.

No entanto, alguns especialistas da indústria e do mercado de capitais suspeitam que o momento do lançamento do DeepSeek R1 teve como objectivo causar pânico nos sectores tecnológico e financeiro, prejudicando as empresas de IA concorrentes, especialmente as dos EUA, e minando a confiança dos investidores, bem como o impulso de crescimento económico da nova administração Trump.

Pelo menos por enquanto, esse objectivo parece estar a ser cumprido.