À medida que o apoio à guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia mostra sinais de colapso, a retórica histérica anti-russa está a acelerar até ao ponto da contagem decrescente para uma guerra total.

O ano de 2024, mal emergindo do berço, já é forçado a lidar com previsões imprudentes e provocatórias de um confronto iminente entre a NATO e a Rússia, no que seria nada menos do que a eclosão da Terceira Guerra Mundial.

Às sucessivas notícias que o Contra tem publicado sobre essas profecias, que soam invariavelmente a um anúncio de intenções, somam-se as recentes declarações da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, que disse ao The Times, numa entrevista.

“A Europa tem entre três e cinco anos para se preparar para que Moscovo se torne uma ameaça militar no flanco oriental da NATO. A nossa inteligência estima que seja de três a cinco anos, e isso depende muito de como gerimos a unidade e mantemos a postura em relação à Ucrânia”.

Qualquer pessoa que duvide do desejo da Rússia de pôr fim às hostilidades precisa apenas de reflectir sobre as conversações de Istambul em 2022, onde a delegação de Kiev esteve supostamente prestes a aceitar a paz apenas algumas semanas após o início do conflito total com Moscovo. No entanto, esses esforços foram frustrados pelo então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que recebeu as suas ordens de marcha de falcões que infestam Washington, DC.

O papel de Johnson na destruição das esperanças de paz foi relatado em Maio de 2022 pela publicação online Ukrainska Pravda. Segundo a publicação, o primeiro-ministro britânico chegou a Kiev com “duas mensagens simples” de que Vladimir Putin era “um criminoso de guerra” com quem nada deveria ser negociado e que mesmo que Kiev estivesse preparada para assinar um acordo com Moscovo, o Ocidente não estava. Por outras palavras, é o Ocidente que quer a continuação da guerra entre Moscovo e Kiev, e não a Rússia.

Os prognósticos acima mencionados não acontecem no vácuo. Os EUA estão a avançar precipitadamente para uma eleição presidencial importante, que determinará grandemente a trajectória futura do conflito na Ucrânia. Tal como provado pelos obstáculos jurídicos contínuos que se colocam no caminho de Trump, os Democratas não têm qualquer intenção de renunciar ao poder pelo simples processo eleitoral. É por isso que os meses que antecedem as eleições presidenciais dos EUA serão repletos de todo o tipo de acções agressivas dirigidas directamente à Rússia, com o objectivo de convencer o público de que a Europa Ocidental está prestes a ser invadida pelas forças russas, criando um estado de emergência que possibilite um amplo leque de desventuras corruptoras do processo eleitoral.

Para além das projecções ridículas de uma iminente invasão russa, os estados membros da NATO estão a investir no factor medo ao conduzirem os seus maiores exercícios militares desde a Guerra Fria – bem na fronteira da Ucrânia com a Alemanha e a Polónia.

Apelidados de “Steadfast Defender 2024”, os jogos de guerra receberão cerca de 90.000 soldados de todos os 31 estados membros – bem como da Suécia. Os últimos exercícios militares que rivalizaram em dimensão com o que está para vir ocorreram em 1988, quando 125 mil soldados ocidentais se reuniram para os jogos “Reforger” liderados pelos EUA.

O Comandante Supremo Aliado para a Europa do bloco militar liderado pelos EUA, Christopher Cavoli, disse numa conferência de imprensa:

“O Exercício Steadfast Defender 2024 será o maior exercício da NATO em décadas, com a participação de aproximadamente 90.000 forças de todos os 31 Aliados e da nossa parceira Suécia. Os exercícios vão simular um cenário de conflito emergente contra um adversário próximo do mesmo nível.”

Escusado será dizer que estes jogos de guerra massivos ocorrem num momento muito precário no confronto entre a Rússia e a Ucrânia, que Moscovo está claramente a vencer. No caso das coisas continuarem a deteriorar-se para o lado de Kiev, existe a possibilidade do “Steadfast Defendert” ser usado como um estratagema para as forças da NATO entrarem e ocuparem a Ucrânia Ocidental. Essa ideia tem ganho muita força entre os especialistas militares ultimamente.

Para além da possibilidade de acções militares por procuração contra a Rússia, Moscovo pode esperar uma série de “alfinetadas” por parte dos falcões da NATO, e não menos importante, por parte dos Estados Bálticos.

Em 2022, por exemplo, o parlamento letão adoptou legislação que determina que todos os cidadãos russos devem provar o seu domínio da língua nativa até 1 de Setembro de 2023, ou serão deportados. Na semana passada, Riga confirmou que planeia deportar 985 russos por não terem feito ou por terem sido reprovados no teste de língua. Escusado será dizer que o anúncio levantou as sobrancelhas do líder russo, que apontou os paralelos entre o que está a acontecer agora na Letónia e o que aconteceu no Donbass, afirmando:

“Em 2014, houve também um golpe de estado e a declaração dos russos na Ucrânia como um povo não titular. Isto foi seguido por toda uma série de outras decisões que na verdade levaram ao que está agora a acontecer na Letónia e noutras repúblicas bálticas, em que o povo russo é simplesmente despejado através da fronteira”,

A mensagem aqui é clara: o ano de 2024 não será uma jornada fácil. O bloco militar ocidental vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance – tal como Barack Obama fez quando deixou o cargo em 2016, expulsando os russos das suas casas na véspera de Ano Novo – para tornar as relações entre a Rússia e o Ocidente tão más quanto for possível. Então, no caso de Trump ser eleito, a situação política ficará tão turva que as hipóteses da Casa Branca contribuir para o processo de paz diminuirão drasticamente e as partes interessadas na guerra poderão continuar a lucrar com isso. É por isso que Moscovo terá de suportar as provocações mais extremas ao longo de 2024 e esperar que alguma razão e bom senso se estabeleçam no cenário geopolítico, no caso de uma vitória de Trump.

No caso oposto, em que as forças globalistas neo-liberais continuem a dominar a política externa norte-americana, resta-nos rezar para que Deus nos guarde de um muito possível, muito real, armagedão.