O chanceler austríaco Karl Nehammer

 

 

Alimentando as crescentes tensões entre o chanceler austríaco Karl Nehammer e o Partido da Liberdade (FPÖ), que ganhou as eleições legislativas de Outubro de 2024, a retirada do partido liberal NEOS das negociações para uma coligação que exclua o FPÖ do governo está a intensificar os apelos a novas eleições ou à formação de um governo liderado pelos populistas, que têm toda a legitimidade democrática para o fazer.

O FPÖ exigiu a demissão imediata do chanceler Karl Nehammer, acusando-o de se agarrar a um cargo de chanceler que o eleitorado rejeitou nas eleições federais de Setembro passado.

Michael Schnedlitz, secretário-geral do partido e membro do Conselho Nacional, afirmou que a recusa de Nehammer em afastar-se representa uma séria ameaça à estabilidade política do país.

Falando a partir de Viena, Schnedlitz condenou o que caracterizou como uma tentativa contínua por parte dos partidos globalistas de excluir o FPÖ –  apesar de ter sido o partido mais votado – da formação do próximo governo.

As tensões atingiram um ponto de ruptura quando o partido liberal NEOS se retirou das negociações com o Partido Popular Austríaco (ÖVP) de Nehammer e o Partido Social Democrata da Áustria (SPÖ), na sexta-feira.

Após quase 100 dias de discussões, a líder do NEOS, Beate Meinl-Reisinger, anunciou que diferenças importantes entre o ÖVP e o SPÖ – supostamente a política fiscal agressiva do SPÖ – tornaram impossível um acordo viável. Meinl-Reisinger afirmou que “não houve qualquer avanço” em questões importantes, acrescentando que a NEOS se recusou a pensar apenas nas “próximas eleições”.

 

 

O colapso destas conversações coloca em risco a reivindicação de Karl Nehammer à chancelaria. Schnedlitz criticou Nehammer por, nas suas palavras, ignorar os avisos do FPÖ sobre a construção de um governo ao estilo alemão que, desde o início, estava destinado ao fracasso. Schnedlitz insistiu que cada hora que Nehammer permanece em funções gera danos adicionais, apelando a que enfrente imediatamente os cidadãos e a reconheça que o que verdadeiramente o motiva é a sua própria sobrevivência política.

“Se o Chanceler, que está nas cordas, jogar agora ainda mais jogos para formar uma variante perdedora instável – seja um modelo bidirecional com o SPÖ ou uma nova coligação perdedora com os Verdes em vez do NEOS – então gostaria de clarificar: o povo está farto! Está na hora de se demitir, Sr. Nehammer!”

Com o FPÖ a registar actualmente 35% das intenções de voto (mais 4% do que somou nas eleições do ano passado), há uma sensação palpável de que os eleitores poderão punir severamente os partidos tradicionais se a Áustria regressar às urnas.

O Presidente Alexander Van der Bellen foi também criticado por Schnedlitz, que o acusou de desrespeitar o voto popular ao conceder a Nehammer o mandato para formar governo. Foi o Partido da Liberdade que recebeu a maior parte dos votos, mas Van der Bellen não fez qualquer convite ao líder do FPÖ, Herbert Kickl, alegando que era inútil, uma vez que os outros partidos tinham anunciado que não iriam aceitar a ideia de ele liderar o país.

A questão que agora paira sobre a política austríaca é se o presidente persistirá em apoiar as tentativas hesitantes de Nehammer para construir uma coligação ou se abrirá a porta ao FPÖ, que, segundo tudo indica, estaria disposto a tentar formar um governo.

A saída abrupta do NEOS, que muitos acreditavam ser o eixo de uma coligação viável que excluísse o FPÖ, desencadeou uma série de cenários possíveis. Alguns pensam que o ÖVP e o SPÖ poderiam tentar forjar uma coligação, embora essa pequena maioria não tivesse grande resiliência.

Outros sugerem que uma outra coligação, desta vez envolvendo os Verdes em vez dos liberais do NEOS, poderá impedir o FPÖ de governar, mas terá dificuldade em colmatar divisões ideológicas evidentes entre os partidos.

Uma terceira possibilidade, caso o Presidente Van der Bellen mude de rumo, seria o de convidar Herbert Kickl para conduzir negociações de coligação. Ou convocar novas eleições, que de qualquer forma só vão fazer com que o Partido da Liberdade reforce o seu apoio à custa dos partidos que o estão a tentar afastar do poder executivo.