As últimas cinco nomeações de Trump para o seu executivo são de tal forma contraditórias que deixam qualquer analista confuso. Vamos começar pelas menos significativas:

O presidente eleito nomeou Kristi Noem, a governadora do Dakota do Norte e criadita do sionismo internacional, para chefe do ICE, a polícia aduaneira dos EUA (talvez para compensar a nomeação de Tom Homan, este sim, um genuíno populista, como ‘Czar da Fronteira’). Apesar de se afirmar como conservadora, Noem é conhecida pelas suas posições polémicas sobre ideologia de género, que nada têm a ver com o mandato eleitoral que deu uma vitória histórica aos republicanos.

Trump anunciou também a nomeação do congressista Mike Walz, mais um sionista intestinamente ligado ao pântano de Washington, como Conselheiro de Segurança Nacional. Uma decisão tenebrosa.

 

Trump escolhe Marco Rubio para Secretário de Estado. Uma péssima opção.

O Senador Marco Rubio (R-FL) foi escolhido para liderar a diplomacia da administração Trump. A oposição à nomeação do republicano da Flórida tem sido muito forte na Internet. Muitos eleitores MAGA e apoiantes da agenda America First estão preocupados com as opiniões agressivas do senador em matéria de política externa, especialmente no que diz respeito ao Médio Oriente e à guerra na Ucrânia. A nomeação de Rubio como o principal diplomata da nação poderá minar completamente os esforços de Trump para acabar com os conflitos globais que eclodiram durante a presidência de Joe Biden.

O argumento contra a nomeação de Rubio para Secretário de Estado é forte e foi apresentado pela campanha republicana nos seus próprios documentos de avaliação do senador quando este foi considerado como uma possível escolha para vice-presidente. No início do primeiro mandato de Trump – e mesmo antes – Rubio posicionou-se contra o líder do movimento MAGA. Os documentos de verificação observam:

“Em 2016, Rubio afirmou que Trump era perigoso e não se lhe podiam confiar os códigos nucleares da América – uma posição que ele continuou a manter mesmo depois de desistir das primárias do Partido Republicano de 2016.”

Ainda mais preocupante, Rubio apoiou com entusiasmo a fraudulenta investigação de Robert Mueller sobre o embuste da Rússia. Em 2017, o republicano da Flórida insistiu que Mueller realizaria sua investigação “de forma justa e equilibrada”. Posteriormente, as alegações de que a campanha de Trump de 2016 conspirou com a Rússia foram consideradas uma farsa, apesar da recusa de Mueller em reconhecer esse facto.

Além disso, o senador da Florida tem repetidamente sido cúmplice das difamações do Partido Democrata e do Deep State, alegando que Trump é um peão do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em 2022, Rubio disse que era “lamentável” que Trump parecesse elogiar Putin e advertiu que o líder do America First deveria ser “cuidadoso” com a sua linguagem.

Porém, as maiores preocupações em relação à nomeação de Rubio como chefe da diplomacia norte-americana giram em torno de suas visões neo-conservadoras da política externa. Rubio é um intervencionista convicto e tem indicado repetidamente que apoia a intervenção militar dos EUA no Irão com o objectivo de mudar o regime, contra as declarações de campanha do próprio Presidente Eleito. Embora o Irão seja um antagonista regional dos interesses dos EUA no Médio Oriente, Trump conseguiu isolar e, em última análise, marginalizar o regime islâmico através de sanções e da diplomacia durante a sua primeira administração presidencial – evitando em grande medida um conflito directo.

Rubio é também um defensor do envolvimento militar contínuo dos EUA na Síria. Em 2019, criticou a decisão da administração Trump de retirar as tropas americanas do norte da Síria, afirmando:

“O governo Trump cometeu um grave erro que terá implicações muito além da Síria”.

Já em 2011, o senador  apoiou a intervenção militar dos EUA na Líbia para derrubar Muammar Gaddafi. Kadhafi foi assassinado no final de 2011, mergulhando o país no caos, o que permitiu que elementos islâmicos assumissem o controlo de grandes extensões do território da Líbia. O país continua a ser um Estado falhado, onde prospera a escravatura, e uma importante plataforma de lançamento da imigração ilegal para a Europa.

Outro aspecto preocupante das opiniões políticas de Rubio é o seu apoio à imigração em massa. Durante a luta no Senado em 2024 sobre a chamada’Lei das Fronteiras’ – que, na realidade, se destinava a conceder ajuda militar adicional à Ucrânia, a Israel e a Taiwan – Rubio culpou os “malucos do MAGA” pelo fracasso da legislação.

Rubio também criticou os esforços de Trump para construir um muro ao longo da fronteira sul dos EUA. Em 2019, denegriu o plano de Trump de declarar uma emergência nacional para facilitar a conclusão do muro, afirmando:

“Temos uma crise na nossa fronteira sul, mas nenhuma crise justifica a violação da constituição”.

Antes de se alinhar com o Presidente eleito, Rubio foi um dos promotores originais do movimento Never Trump. O Senador da Flórida insistiu repetidamente nos pontos de discussão Never Trump durante as primárias presidenciais republicanas de 2016, chamando “vigarista” ao candidato populista e acusando-o de interpretar a “maior fraude da história política americana”.

Em Março de 2016, Rubio acusou Trump de promover a violência política e a divisão. Afirmou que a candidatura e a retórica do candidato republicano fariam com que a América fosse “rasgada pelas costuras”. Além disso, Rubio difamou o movimento MAGA, chamando-lhe um “desenvolvimento assustador, grotesco e perturbador na política americana”. O sítio Web da campanha presidencial de Rubio em 2016 incluía um apelo aos seus apoiantes para que “parassem Donald Trump”.

Neste contexto, a escolha de Marco Rubio para Secretário de Estado é mais que estranha. É uma traição ao mandato eleitoral de Donald Trump e à sua agenda anti-sistema. E um arrepiante encobrimento das suas posições claramente antagónicas à ideologia populista e dos seus ataques ao carácter do Presidente eleito.

 

Matt Gaetz  será o Procurador-Geral da futura administração.

Transitando para as boas notícias e as escolhas acertadas: Matt Gaetz (R-FL) irá chefiar o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) e tentar restaurar a fé dos americanos no sistema judicial da federação.

Congressista republicano da ala populista do partido, Gaetz liderou o processo de destituição do o ex-speaker da Câmara dos representantes Kevin McCarthy (R-CA), depois deste último quebrar vários acordos que havia feito com os legisladores do America First para garantir a presidência da Câmara em Janeiro passado. Mais recentemente, Gaetz empenhou-se em proteger os arguidos do 6 de Janeiro da retaliação dos procuradores federais quando estes procuram obter uma nova sentença na sequência da decisão do Supremo Tribunal dos EUA no processo Fischer v. United States.

Além disso, Gaetz fez pressão para reprimir as organizações não governamentais que ajudaram a perpetuar a crise da imigração ilegal na fronteira sul dos EUA.

No comunicado emitido a este propósito, Donald Trump afirmou:

“É com grande honra que anuncio que o deputado Matt Gaetz, da Flórida, foi nomeado Procurador-Geral dos Estados Unidos. Matt é um advogado profundamente dotado e tenaz, formado no William & Mary College of Law, que se distinguiu no Congresso pelo seu empenho em conseguir a tão necessária reforma do Departamento de Justiça. Poucas questões nos Estados Unidos são mais importantes do que acabar com a instrumentalização partidária do nosso sistema de justiça. Matt vai acabar com essa instrumentalização, proteger as nossas fronteiras, desmantelar as organizações criminosas e restaurar a fé e a confiança dos americanos no Departamento de Justiça. No Comité Judicial da Câmara, que supervisiona o DOJ, Matt desempenhou um papel fundamental na derrota do embuste Rússia, Rússia, Rússia e na exposição da alarmante e sistémica corrupção do Governo. Ele é um defensor da Constituição e do Estado de Direito”.

 

Tulsi Gabbard vai ser a Directora dos Serviços Secretos Nacionais.

Donald J. Trump nomeou Tulsi Gabbard, a ex-candidata presidencial democrata que derivou recentemente para a barricada populista, como Directora de Inteligência Nacional. A veterana da Guerra do Iraque, conhecida pela sua oposição às “guerras eternas” neo-conservadoras, participou na campanha de Trump de 2024, argumentando que um voto na candidata democrata Kamala Harris era equivalente a “um voto em Dick Cheney”.

Num comunicado sobre a nomeação, Trump afirmou:

“Tenho o prazer de anunciar que a ex-congressista, tenente-coronel Tulsi Gabbard, servirá como directora de inteligência nacional. Durante mais de duas décadas, Tulsi lutou pelo nosso país e pelas liberdades de todos os americanos. Como ex-candidata à nomeação presidencial democrata, ela tem um amplo apoio em ambos os partidos – agora é uma republicana orgulhosa! Sei que Tulsi trará o espírito destemido que definiu a sua ilustre carreira para a nossa Comunidade de Informações, defendendo os nossos Direitos Constitucionais e assegurando a Paz através da Força. Tulsi vai deixar-nos a todos orgulhosos!”

 

Tiros certeiros, tiros no pé e tiros no eleitorado.

Estas duas últimas decisões não podiam ser mais acertadas, na verdade. Mas com figuras como JD Vance, Elon Musk, Robert F. Kennedy Jr., Tulsi Gabbard, Tom Homan e Matt Gaetz no executivo, as tensões entre populistas e neo-conservadores como Marco Rubio e Mike Walz no seio da administração vão ser difíceis de gerir.

Velhos hábitos são difíceis de contrariar e Donald Trump parece estar a repetir afinal os mesmos erros da sua anterior presidência. E isto apesar de ter reconhecido durante a campanha eleitoral que a principal fragilidade dessa estadia na Casa Branca tinha sido precisamente o péssimo critério nas escolhas que fez para a constituição do seu executivo.

Trump está nitidamente a arranjar lenha para se queimar. E a defraudar as expectativas do seu eleitorado. Como o Contra já tinha previsto que ia acontecer rapidamente.