A conversa de três horas entre Joe Rogan e Donald Trump, emitida na sexta-feira passada, há-de ficar para a história dos media e serve para confirmar a morte dos meios de comunicação social convencionais. Só no Youtube, o podcastrecolheu, no momento em que são escritas estas linhas e 48 horas depois de ser publicado, 32 milhões de visualizações.

 

 

E o principal veículo de distribuição do “The Joe Rogan Experience” é o Spotify, não o Youtube. Este podcast estará neste momento a competir com o célebre primeiro episódio de Tucker Carlson no Twitter (agora X), logo depois de ter deixado a Fox News, em Junho de 2023, para o título de objecto mediático mais visto de sempre.

Durante a entrevista, Rogan referiu que cada vez mais jovens no país estão a ficar fartos daquilo a que ele chamou “muita desta treta woke” e acrescentou:

“Os jovens estão cansados de serem gritados e repreendidos. Estão fartos de que estas pessoas, que eles acham que são doentes mentais, lhes digam quais devem ser os padrões morais da sociedade actual, e as pessoas estão chateadas”.

E continuou neste tom:

“Os liberais são agora a favor do silenciamento da crítica. São a favor da censura online. Estão a falar em regular a liberdade de expressão e depois em regular a Primeira Emenda. É uma loucura ver isto”.

Em resposta à observação de Rogan sobre a censura que tem sido promovida pelos poderes instituídos em Washington, Trump afirmou:

“Joe, eles perseguem os seus adversários políticos. Já fui mais investigado do que Alfonse Capone”.

O candidato do Partido Republicano tem feito frequentemente a mesma afirmação em diferentes comícios políticos relativamente aos múltiplos processos judiciais contra ele.

No início do programa, Rogan perguntou a Trump como foi a experiência dos primeiros dias como presidente, em 2016. Trump caracterizou essa vivência como “surreal” e que a prioridade foi sobreviver aos ataques da imprensa corporativa e focar-se no governo o país.

“Concentrei-me realmente em governar o país e em sobreviver. Porque a partir do momento em que ganhei – antes de chegar ao cargo, de repente – eles caíram em cima de mim. Nunca ninguém foi tratado desta forma”.

 

 

Rogan também disparou contra os meios de comunicação social durante o programa, chamando a atenção para os múltiplos embustes que foram direccionados contra Trump. O candidato republicano interveio, falando sobre a “farsa do banho de sangue”, quando disse que a indústria sofreria um “banho de sangue” se Joe Biden assumisse o cargo. Na altura, muitos meios de comunicação social retiraram a citação do contexto, dando a entender que Trump estava a apelar à violência após as eleições, caso não as ganhasse.

Durante muito tempo, Rogan mostrou-se apreensivo em trazer Trump para o seu canal, no entanto, durante o a conversa, revelou uma das razões para receber o nomeado do Partido Republicano. Trump perguntou-lhe se a entrevista que concedeu a Theo Von foi a razão pela qual Rogan decidiu finalmente convidá-lo, ao que o anfitrião respondeu:

“Não… Depois de o alvejarem, pensei: ‘Ele tem de vir aqui’.”

 


Trump também disparou contra a vice-presidente Kamala Harris, dizendo que ela não seria capaz de aguentar as três horas de entrevista sem desmaiar no entretanto. Na semana passada circularam noticias de que Kamala Harris estava a planear ir ao Joe Rogan Experience, no entanto a eventualidade já foi negada por responsáveis da campanha democrata.

A conversa teve momentos humorísticos como aquele em que o magnata de Queens disse que gostava de fazer psicanálise a baleias, afirmação que espoletou significativa produção de memes:

 

 

Trump também afirmou que está a equacionar, no caso de ser eleito, acabar com o imposto sobre o rendimento (income tax) nos EUA, manifestando a sua preferência por um sistema de tarifas. E perguntado sobre os erros do seu primeiro mandato, afirmou que algumas das pessoas com que decidiu rodear-se eram “más e desleais.”

Está carregado de razão, claro. Entre o genro – o insuportável globalista Jared Kushner, o vice-presidente Mike Pence, o director da CIA Mike Pompeu, a embaixadora na ONU Nikky Haley e o falcão do aparelho industrial-militar John Bolton, venha o diabo e escolha a pior das companhias. Resta-nos esperar, mesmo que apreensivos, que faça melhores escolhas no futuro, caso seja eleito.

No meio da conversa, Joe Rogan enunciou um ponto de vista que na verdade está na génese do ContraCultura, afirmando:

“Os rebeldes agora são republicanos. Queres ser um rebelde? Queres ser punk rock? Queres, tipo, contrariar o sistema? És conservador, agora”.

 

 

Obrigado pela colaboração, Joe!

A verdade é que todos os candidatos a cargos públicos de topo deviam ser submetidos a este critério do longo formato. Porque proporcionam não só informação detalhada sobre as suas políticas, como permitem uma avaliação mais profunda das suas personalidades e das suas histórias de vida.

No caso de Trump, só alguém com o cérebro completamente lavado pela propaganda democrata e da imprensa corporativa é que, depois de ter assistido a esta conversa, pode pensar que o homem é a reencarnação de Hitler, que parece ser precisamente a aposta da campanha de Kamala Harris para os últimos dias do ciclo eleitoral.

É claro que se em 2010 alguém afirmasse que o mais importante evento mediático nos EUA em 2024 ia ser uma conversa entre o apresentador do “The Apprentice” e o apresentador do “Fear Factor”, esse alguém seria imediatamente enfiado num manicómio, mas este é o mundo que temos agora.

Seja como for, eis o podcast que está rebentar com a Internet, na sua integridade: