O clima nos EUA, neste momento, é de cortar à faca. Uma ilustração desse pesado ambiente sócio-político é este discurso de Tucker Carlson, que está no limite do bom senso e – em certos segmentos – do bom gosto. Não é que o homem não esteja carregado de razão, mas o tom histriónico é sintomático: a menos de 15 dias das eleições, está toda a gente à beira de um ataque de nervos.
Não é por isso de espantar que o prenúncio da tempestade seja manchete por todo o lado:
E as presidenciais de 5 de Novembro não estão só a espoletar crises neuróticas nos EUA. Reparem bem neste headline do britânico – e esquerdista – Independent:
Ou seja: as eleições são subsidiárias, porque a guerra civil é inevitável.
Mas diga o que disser Tucker Carlson, escrevam o que escreverem os apparatchiks da imprensa corporativa, e como o ContraCultura tem sugerido, a direita americana não vai desencadear guerra civil nenhuma, haja o que houver. Dá até a sensação de que mesmo que lhes violassem os filhos e os sentassem numa plateia para assistir ao espectáculo, os tais deploráveis-nazis-armados-até-aos-dentes do Midwest americano limitar-se-iam a redigir uns protestos indignados no X.
E ainda bem para eles, porque um levantamento conservador nos EUA seria imediatamente esmagado pelo Pentágono, pelas guardas estaduais, pelas forças de segurança federais e pelo punho de aço dos poderes instituídos em Washington.
No caso de Donald Trump vencer as eleições, porém, a conversa é outra. A guerra civil que poderá acontecer não será uma guerra convencional, claro, mas é bastante provável a eclosão de dois tipos de fenómenos beligerantes, patrocinados pela esquerda e pelos grupos de interesse neo-liberais:
a) Uma espécie de movimento Black Lives Matter sob esteróides, com motins urbanos, confrontos violentos e actividade criminosa/terrorista nas grandes metrópoles da federação, numa escala nunca vista;
b) Uma guerrilha instestina entre a burocracia de Washington e a Casa Branca, em que a desobediência e a hostilidade do governo federal para com o seu líder executivo será uma constante. Este fenómeno será acompanhado e activamente sustentado pelas agências de segurança e inteligência, como a CIA e o FBI, bem como pelo Pentágono (neste último caso em tudo o que tenha a ver com políitica externa, pelo menos).
No caso de uma vitória de Trump, que não seja acompanhada por maiorias na Casa dos Representantes e no Senado, há ainda uma outra hipótese, institucional, de guerra civil, que é a de o Capitólio não reconhecer o resultado das urnas e recusar-se a certificar o Presidente eleito. Sim, isto pode acontecer.
No caso da reacção a uma eventual presidência republicana atingir níveis insustentáveis de destruição e desordem, com mortos à mistura, talvez, em última análise, a direita decida recorrer também a violência. Mas ainda assim, duvido muito. E a acontecer, será implacavelmente esmagado, como já referi.
If Trump wins the electoral college next week, get ready for 2 months of street riots, a media onslaught the vote was illegitimate, crisis gov’t pressure on social platforms, followed at the end by an attempt by Congress to nullify the election on January 6, 2025. pic.twitter.com/la1OKQ2fK9
— Mike Benz (@MikeBenzCyber) October 27, 2024
Se Kamala Harris sair vitoriosa das urnas, de forma legítima ou fraudulenta, nada de extraordinário acontecerá, a curto prazo. A não ser um intensificar do regime despótico que já vigora nos EUA, com incremento da instrumentalização do estado e do aparelho judiciall no sentido da perseguição de opositores políticos e da interdição da liberdade de expressão, intensificação da política de fronteiras abertas que visa a substituição demográfica e a alteração dos históricos equilíbrios eleitorais e a continuação das suicidárias políticas monetárias e económicas, que de qualquer forma foram também seguidas por líderes republicanos como Trump e Bush filho e que têm como resultado este feérico gráfico:
This is not Apple, Tesla or even Nvidia.
This is interest payments on the US national debt of $36 trillion.
We now pay nearly $1.2 trillion per year in interest on the debt, about 23% of all taxes, tariffs and fees collected by the US govt goes to paying interest on the debt. pic.twitter.com/UoMe8MbZKL
— Wall Street Silver (@WallStreetSilv) October 21, 2024
Isto tudo para dizer: continuo convencido de que Kamala Harris vai residir na Casa Branca nos próximos 4 anos, a bem ou a mal e apesar do último texto que o Contra publicou sobre as sondagens. E que os EUA são uma federação condenada, não por qualquer movimento inssurecto, mas pela ensandecida dívida soberana, que pode demorar a cair na rua, mas quando isso acontecer, bom Deus:
All hell will break loose.
Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura
Relacionados
25 Mar 25
Os tiranos da Covid não são vítimas. São criminosos.
Os “peritos” da Covid não foram vítimas do vírus. Escolheram a tirania não científica dos confinamentos, dos mandatos de vacinação e das regras mesquinhas e ineficazes, mas não tinham que o fazer. São criminosos e é assim que devem ser tratados. Uma crónica de Afonso Belisário.
20 Mar 25
Trump libera documentos secretos do caso JFK.
Não sejamos ingénuos ao ponto de esperarmos tirar revelações contundentes dos arquivos confidenciais, divulgados por ordem de Donald Trump, já que estiveram nas mãos do “deep state” norte-americano por mais de 60 anos. Uma crónica de Walter Biancardine.
19 Mar 25
Never Trump: uma bolha de nariz empinado.
Depois de ter lido "Tha Case for Trump", do professor Victor Davis Hanson, Lourenço Ribeiro escreve sobre essa tribo elitista de ditos conservadores norte-americanos que conseguem odiar mais Donald Trump do que os próprios democratas, se possível.
18 Mar 25
A república dos mortos-vivos.
O sr. Sousa esqueceu-se que os portugueses não votam num governo, mas na composição partidária da Assembleia da República, que pode ou não apresentar condições de governabilidade. E tomou a pior decisão possível, como era expectável.
18 Mar 25
Cristo Rei: Festa espiritual, nunca ferramenta ideológica.
Walter Biancardine desmonta nesta crónica o infame paper co-autorado por Judas B. Peterson, onde se argumenta descabidamente que a expressão "Cristo é Rei" resulta do extremismo político em vez da mais linear e canónica das convicções cristãs.
17 Mar 25
O segundo mandato de Donald Trump está a ficar cada vez mais parecido com o primeiro.
É lamentável, mas a presidência de Donald Trump está a dar sinais de desprezo pelo seu claro mandato eleitoral, cedendo à tentação imperialista, às pressões do estado profundo, à pulsão despesista e ao belicismo do aparelho militar e industrial norte-americano.