Farto-me de rir com os americanos. Enquanto a esquerda se diverte com o atentado a Trump, parodiando até o facto de o homem ter apelado à luta logo depois de ter sido baleado, e desistindo de disfarçar a desilusão pelo tiro não ter feito mais estragos que aumentar as hipóteses eleitorais do velho magnata, a direita vangloria-se: um milímetro para o lado direito e era a guerra civil, o levantamento de um povo subitamente feito guerreiro de trincheira, sangue nas ruas e bombas no Capitólio, enfim, a revolução populista a ferro e fogo.

O X está agora repleto de posts deste género:

 

 

A sério? Os conservadores americanos são todos os dias baleados na sua dignidade, nos seus direitos, nas suas tradições, nas suas liberdades, nas suas convicções religiosas. São odiados pela imprensa, desprezados pelos políticos que elegem, fascizados pelo governo federal, espiados pela CIA e perseguidos pelo FBI. São desempregados pela oligarquias industriais, mal tratados por activistas de extrema-esquerda, ignorados pelas elites corporativas, envenenados pelos médicos, drogados pelas farmacêuticas e engordados com rações rápidas. São ocupados por povos alienígenas, condenados – inocentes – pelos juízes e periodicamente enviados para morrer num deserto qualquer, do outro lado da galáxia, pelo Pentágono. São moralmente corrompidos pela ideologia de género e os valores satânicos de Hollywwod, deseducados e espoliados pelas universidades, roubados pelo Tio Samuel, empobrecidos pela Reserva Federal, chantageados pelos bancos e ludibriados pelos corretores.

Ainda assim, têm continuado, pacíficos e obedientes, com as suas vidinhas, como se nada fosse. Era agora por causa de alguém ter acertado um tiro em cheio na cabeçorra de Donald Trump que iam pegar em armas e escangalhar a tirania?

Não me entendam mal. A segunda guerra civil americana está em campo. Já desde os tempos de Barak Obama. Mas só tem uma frente armada: o Governo Federal e as suas máquinas industrial, financeira, militar e de propaganda. Do outro lado, não há exército, não há soldados, não há rebeldes. Só há civis inconscientes de tudo. Só há vítimas.

Farto-me de rir com os americanos.