O governo global é último objectivo das elites neo-liberais. E esse desígnio passa necessariamente pelo controlo total de todos os aspectos da vida de todas as pessoas do planeta.

Isso tem sido evidente para qualquer pessoa que preste atenção ao que aconteceu nos últimos anos, senão décadas, e qualquer pequena porção de dúvida remanescente foi removida quando assistimos às acções tomadas pelos poderes instituídos relativamente à “pandemia” Covid-19, e às afirmações constantes e públicas sobre as ambições globalistas de alguns dos principais intérpretes do programa.

A Covid marcou uma aceleração da agenda globalista, uma corrida louca para a linha de chegada que parece ter perdido o ímpeto antes da vitória, mas que ainda está a decorrer. O objectivo não mudou, mesmo que os anos que se seguiram possam ter visto um ligeiro abrandamento no seu ímpeto.

Sabemos o que eles querem em termos conceptuais, mas o que é que isso significa em termos práticos? Como é que um potencial “governo global” se plasma na realidade?

Em primeiro lugar, eis o que NÃO vamos ver.

Não teremos um governo global declarado. É quase certo que não teremos um “governo mundial” oficial, pelo menos a curto ou médio prazo. Essa é uma lição que as elites aprenderam com a Covid – dar um nome e um rosto ao globalismo só fomenta a resistência colectiva a esse desígnio.

As nacionalidades não vão ser oficialmente abolidas. Podem ter a certeza de que Klaus Schwab (ou quem quer que seja) não vai aparecer em todas as televisões do mundo a anunciar que agora somos todos cidadãos do mundo e que os Estados-nação já não existem. Em parte porque a nacionalidade é um valor que as pessoas sentem intensamente e a iniciativa de a abolir criará resistências monumentais por toda a parte. O facto de uma boa fatia dos cidadãos no Ocidente desprezarem os seus países não é para esta conversa um argumento de significado, porque se estamos a falar de um governo global, temos que considerar os povos do mundo, temos que considerar russos e chineses, paquistaneses e indianos, japoneses e coreanos, brasileiros e argentinos. Mas a extinção das nacionalidades não acontecerá também porque o tribalismo e o nacionalismo são demasiado úteis para todos os manipuladores da opinião pública. E, claro, a existência contínua de Estados-nação não exclui de forma alguma a existência de um sistema de controlo supranacional, tal como a existência da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta não exclui, infelizmente, os poderes totalitários da Terceira República.

Nunca haverá uma declaração aberta de uma mudança de sistema. Não nos será dito que estamos unidos sob um novo modelo; em vez disso, a ilusão da regionalidade e das diversidades superficiais irá camuflar uma falta de escolha real em toda a paisagem política. Uma fina pele polissistémica esticada sobre um esqueleto monossistémico. À imagem do que acontece já com os unipartidos do Congresso americano e da Câmara dos Comuns no Reino Unido, por exemplo.

Capitalismo, comunismo, socialismo, liberalismo, democracia, tirania, monarquia… O significados destas palavras diluir-se-à progressivamente, ainda mais do que já se diluíram, mas não serão abandonadas.

O que o globalismo nos trará é uma colecção de Estados-nação, em grande parte apenas no nome, operando sistemas de governo superficialmente diferentes, todos construídos sobre os mesmos pressupostos subjacentes e todos respondendo a uma autoridade superior não eleita e não declarada. E se isso soa familiar, é porque é essencialmente o que temos agora.

Na verdade, os únicos aspectos importantes que faltam cumprir para um governo global efectivo são os mecanismos através dos quais este modelo rudimentar pode ser transformado numa rede fluida e abrangente, onde todos os cantos do mundo são incluídos e todos os poderes soberanos genuínos se tornam completamente incipientes.

É aqui que entram os três principais pilares da governação global:

1. O dinheiro digital;
2. A identificação digital
3. A “acção climática”

 

1. Dinheiro digital

Mais de 90% das nações do mundo estão actualmente em processo de introdução de uma nova moeda digital emitida pelos respectivos bancos centrais ou CBDC (Central Bank Digital Currency). Simplificando, a moeda inteiramente digital permite a vigilância total de todas as transacções. Se a moeda for programável, também permitirá o controlo dessas transacções.

É claro que os CBDCs são um pesadelo potencialmente distópico que infringirá os direitos de qualquer pessoa forçada a usá-los. Mas como é que estas unidades monetárias constituem um bloco de construção do governo global? A resposta a esta pergunta reside num palavrão: “interoperabilidade”, isto é, a capacidade de um sistema para interagir e comunicar com outro.

Embora os CBDCs nacionais do mundo estejam, em princípio, separados uns dos outros, quase todos estão a ser codificados para se reconhecerem e interagirem mutuamente. A maioria destes sistemas estão a ser desenvolvidos de acordo com as directrizes produzidas pelo Banco de Compensações Internacionais e outras instituições financeiras globalistas, e todos eles são programados pelo mesmo punhado de gigantes da tecnologia.

Um relatório de Junho de 2023 encomendado pelo World Economic Forum (WEF) observou a importância de “Princípios de interoperabilidade global da moeda digital do banco central” e concluiu:

“É crucial que os bancos centrais atribuam prioridade às considerações de interoperabilidade no início do processo de design, aderindo a um conjunto de princípios orientadores. Para facilitar a coordenação global e assegurar a implementação harmoniosa dos CBDC, torna-se imperativo o desenvolvimento de um conjunto abrangente de princípios e normas. Com base em pesquisas anteriores e esforços de colaboração, este conjunto de princípios pode servir como uma base sólida, orientando os bancos centrais a considerarem proactivamente a interoperabilidade desde o início das suas iniciativas. Ao adoptar estes princípios, os bancos centrais podem trabalhar no sentido de criar um ecossistema CBDC coeso e interligado.”

Comentando o relatório, o WEF referiu:

“Para garantir uma implementação bem sucedida e promover a interoperabilidade, a coordenação global torna-se fundamental. […] Aderindo aos princípios de interoperabilidade, os CBDC podem avançar harmoniosamente, conduzindo a sistemas de pagamento digital eficientes e interligados.”

Não é preciso ser um génio para descodificar “coordenação global”, “ecossistema coeso”, “avanço harmonioso” e “sistemas de pagamento interligados”. Principalmente quando estes termos são usados pelo WEF.

Assim, não haverá qualquer diferença prática entre 195 moedas digitais “interoperáveis” e interligadas a uma referência única mundial. De facto, “interoperabilidade” é a palavra de ordem para todas as estruturas de poder globalistas.

O dinheiro digital será rapidamente transformado numa arma política, de criação de conformidade. Como já acontece na China, com o sistema de Créditos Sociais, o cidadão poderá muito facilmente ser condenado a racionar os gastos ou até à suspensão da sua carteira, em função de critérios ideológicos ou climáticos ou sanitários, por exemplo. O dinheiro deixará na verdade de ser seu. Em última análise nem é o dinheiro que tem valor, mas o acesso ao dinheiro. O cidadão conformista, obediente, zelota das questões climáticas e cumpridor dos mandatos governamentais terá livre acesso à sua propriedade fiduciária. O cidadão dissidente, de espírito independente, que ponha em casa as narrativas dos poderes instituídos e que desrespeite os seus autoritários mandatos será conduzido rapidamente à destituição material.

O que é arrepiante aqui, é que a adesão voluntária dos cidadãos à moeda digital será, na maior parte dos casos, muito fácil de conseguir. Mas já lá vamos.

 

2. Identidade digital

O impulso global para identidades digitais obrigatórias é ainda mais antigo do que a agenda da moeda digital, remontando à viragem do século e aos “bilhetes de identidade nacionais”. Enquanto em Portugal e noutros países latinos os documentos de identificação pessoal como o “Bilhete de Identidade” ou o “Cartão de Cidadão” são considerados normais, nos países anglo-saxónicos são na verdade uma prática recente (no reino Unido foi instituída pelo pioneiro globalista Tony Blair). Durante décadas, os documentos de identificação analógica têm sido vendidos como uma “solução” para todos os “problemas”. Acontece agora o mesmo com a identificação digital:

Terrorismo? A identidade digital mantê-lo-á seguro.

Imigração ilegal? A identidade digital protegerá as fronteiras.

Pandemia? A identidade digital manterá o registo de quem está vacinado e de quem não está.

Inteligência Artificial? A identidade digital diferenciará quem é humano de quem não é.

Pobreza? A identidade digital “promoverá a inclusão financeira”.

É evidente que, tal como acontece com os CBDC, um serviço de identidade digital de grande alcance é uma brutal ameaça aos direitos humanos. E, também à semelhança da moeda digital, se interligarmos as plataformas nacionais de identidade digital, podemos construir um sistema global. Mais uma vez, é tudo uma questão de “interoperabilidade”. A linguagem utilizada para os dois sistemas é exactamente a mesma, porque a ideia é que operem em conjunto.

O programa Identity4Development do Banco Mundial afirma:

“A interoperabilidade é crucial para o desenvolvimento de ecossistemas de identidade eficientes, sustentáveis e úteis.”

Os ministros nórdicos e bálticos que detêm o pelouro da digitalização apelaram publicamente a sistemas de identidade digital que sejam operacionais “transfronteiras”. ONG’s como a Open Identity Exchange (OIX) estão a publicar relatórios sobre

“a necessidade de normas de dados para permitir a interoperabilidade dos ID digitais tanto em federações dentro de um ecossistema de ID como entre ecossistemas de ID”.

A lista de governos nacionais que querem introduzir IDs digitais e estão a criar “parcerias” com as grandes corporações para promoverem a “interoperabilidade transfronteiriça” é longa e está sempre a aumentar.

Em Outubro de 2023, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento publicou as suas “directrizes” para a conceção e utilização de identidades digitais. Não existe qualquer diferença prática entre 195 plataformas de identidade digital em rede e um único programa de identidade global.

Regressando à facilidade com que as pessoas vão aderir a um sistema de identidade digital de carácter global, acoplado às CDBC: Como o Contra já documentou, em apenas dois meses, Sam Altman, o CEO da Open AI e da WorldCoin conseguiu que milhões de pessoas em todo o mundo (120.000 em Portugal) entregassem voluntariamente os seus dados biométricos retirados da íris ocular como prova de identidade, para terem direito a uma carteira de transferência de criptomoedas. Isto embora o sistema da WorldCoin inverta vários princípios básicos que desde o início estão relacionados com a criptomoeda, como o anonimato e as cadeias de segurança criptográfica que existem precisamente para evitar a identificação do proprietário.

Depois de instalados os programas de dinheiro digital e identificação digital, será possível controlar e monitorizar os movimentos, as transacções financeiras, o perfil de saúde e muito mais variáveis da vida de toda a gente. Acresce que este é um mecanismo concebido para ofuscar a própria existência de um governo global. Por isso, será sempre de difícil escrutínio.

Mas e quanto à política? Como é que este governo glo2bal transmite políticas e legislação sem revelar a sua existência?

É aqui que entram as inevitáveis “alterações climáticas.

 

3. “Acção climática”

Há já mais de cinco décadas que o clima foi transformado numa ferramenta política. E nos últimos anos as alterações climáticas estão na linha da frente da agenda globalista. É o cavalo de Troia do tecnocrata anti-humano.

Já em 2010, notáveis “especialistas” sugeriam que “os humanos não são evoluídos o suficiente” para combater as mudanças climáticas e que “Pode ser necessário colocar a democracia em espera por um tempo”.

Mais recentemente, em 2019, a Bloomberg publicou artigos com títulos como “As alterações climáticas vão matar a soberania nacional tal como a conhecemos”, e os académicos dizem-nos que os Estados continuarão a ser incapazes de resolver crises globais como as alterações climáticas enquanto não abdicarem da sua soberania.

Paralelamente, existe uma narrativa de propaganda prolongada dedicada a transformar as “alterações climáticas” numa questão de âmbito holístico.

Nesta altura, todos os governos nacionais aderiram à religião do apocalipse climático, um problema existencial que requer cooperação global para ser resolvido. Organizam grandes cimeiras nas quais assinam acordos internacionais, vinculando os Estados-nação a determinadas políticas, para bem do planeta.

Tendo estabelecido esse modelo, estão agora a alargar o seu âmbito:

– As “alterações climáticas” terão sempre um impacto na energia e nos transportes;

– O comércio internacional depende do clima;

– As “alterações climáticas” têm impacto destruidor na agricultura e estão a gerar uma crise alimentar;

– Na sequência da “pandemia”, as “alterações climáticas” já foram rebatizadas como uma “crise sanitária” e os excessos de mortalidade decorrentes do programa de vacinação contra a Covid resultam afinal dos efeitos da crise climática;

– O Banco Mundial diz-nos que a reforma da educação ajudará a combater as alterações climáticas.

– O FMI diz-nos que todos os países do mundo devem tributar o carbono e, num episódio recente, que os CBDCs podem ser bons para o ambiente.

Percebe o estimado leitor como é que a coisa funciona?

A agricultura e a alimentação, a saúde pública, a energia e os transportes, o comércio, a política fiscal e tributária e até a educação. Quase todas as áreas da governação estão agora potencialmente cobertas pelo guarda-chuva das “alterações climáticas”.

Já não precisam de um governo mundial único, só precisam de um painel único de “peritos internacionais em alterações climáticas” a trabalhar para salvar o planeta.

Através da lente das “alterações climáticas”, estes peritos captam poderes para ditar as políticas governamentais em quase todas as áreas da vida de todas as nações do planeta.

Este é o governo global do mundo moderno, não centralizado, mas distribuído. Computação em nuvem. Uma colmeia corporativa-tecnocrata supranacional. Sem existência ou autoridade oficial, e portanto sem responsabilidade nem sujeição a escrutínio, e canalizando todas as suas decisões políticas através de um filtro – as alterações climáticas.

Não haverá uma moeda única global, haverá dezenas e dezenas de moedas digitais “interoperáveis” criando um “ecossistema de pagamentos harmonioso”.

Não haverá um único serviço global de identidade digital, mas sim uma série de “redes de identidade interligadas” que se envolverão no “livre fluxo de dados para promover a segurança”.

Não haverá um governo mundial, haverá painéis internacionais de “peritos imparciais”, nomeados pela ONU, que farão “recomendações políticas”.

A maioria ou todos os países do mundo seguirão a maior parte ou a totalidade das recomendações, mas quem chamar a estes painéis governos globais receberá verificações de factos da Snopes ou do Politifact ou do Polígrafo sublinhando que “os painéis de peritos da ONU não constituem um governo global porque não têm poder legislativo”.

É assim que o governo mundial se irá configurar em 2024 e nos anos seguintes. Compartimentado, quase invisível, totalmente negável… Mas mais real e efectivo que qualquer governo nacional eleito.

Uma corporação fantasma que controla o destino da humanidade.