A cimeira da ONU sobre o clima, COP28, realizada no Dubai, terminou na passada quarta-feira com a apresentação da sua declaração final. Todos os 198 países participantes chegaram a um acordo não vinculativo que, pela primeira vez , menciona explicitamente a necessidade de os países deixarem de utilizar combustíveis fósseis.

Após duas semanas de intensas negociações, o acordo tem como objectivo reduzir ou evitar totalmente os efeitos negativos das alterações climáticas e foi considerado “histórico” pelo presidente da COP28, Sultan Al Jaber. No meio das celebrações, os delegados estão a evitar a referência às implicações reais da eliminação progressiva do petróleo, do gás e do carvão.

Por vezes, o bom sucesso da COP28 foi ameaçado por alguns dos seus participantes, com o grupo de produtores de petróleo liderado pela Arábia Saudita, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a ameaçar vetar a adopção de uma agenda “verde”, argumentando que a economia mundial pode reduzir as emissões, continuando a utilizar combustíveis específicos à base de hidrocarbonetos. Depois de um dia adicional de negociações, a OPEP cedeu e Al Jaber pôde dizer a uma triunfante sessão plenária que

“temos de tomar as medidas necessárias para transformar este acordo em acções tangíveis”.

Os críticos da COP28 têm-se concentrado na hipocrisia de transportar milhares de delegados, normalmente em jactos privados, para as luxuosas instalações hoteleiras e os requintadíssimos centros de conferências de um Estado que produz petróleo em quantidades monumentais. O Contra já documentou o facto irónico das ementas do evento oferecerem suculentos bifes gourmet aos conferencistas da elite reunida no Dubai que estão a impor uma dieta de insectos à plebe. Mas uma crítica mais profunda implicaria reflectir sobre as consequências da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis até 2050 (altura em que poucos ou nenhuns dos delegados no Dubai estarão ainda envolvidos na elaboração de políticas). Para muitos países em desenvolvimento, a limitação da energia decorrente da queima de petróleo, carvão e gás constituiria um obstáculo incontornável à prosperidade.

Na prática, alguns dos 198 Estados participantes vão mostrar mais empenhamento na implementação desta resolução final do que outros. Os pequenos estados insulares, que mantêm uma agenda de vitimização decorrente da sua alegada vulnerabilidade às alterações climáticas provocadas pela actividade humana, vão continuar a fazer pressão para que sejam tomadas as medidas de protecção que consideram necessárias. Mas a resposta da União Europeia à COP28 indica que certas potências europeias vão levar a sério o objectivo de 2050, em detrimento das suas próprias economias e do bem estar das suas populações.

Bruxelas, que antes e durante a cimeira tem sido uma das partes mais estridentes na promoção da agenda verde e anti-combustíveis fósseis, recebeu a notícia do acordo com um entusiasmo desenfreado. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mostrou-se muito satisfeita, como afirmou numa declaração à imprensa:

“É uma boa notícia para todo o mundo o facto de termos agora um acordo multilateral para acelerar a redução das emissões para zero até 2050, com uma acção urgente nesta década crítica.”

No X, Wopke Hoekstra, o jovem comissário europeu responsável pelo Pacto Ecológico, saudou o acordo:

“Este é o início de uma nova fase. Este é o início de uma eliminação progressiva”.

 

 

Mas dadas as actuais limitações técnicas e de escala dos sectores das energias renováveis, uma Europa mais pobre, fria e sombria seria o resultado previsível destas políticas radicais, draconianas e irresponsáveis. Entretanto, os países da OPEP – tal como assinalado pelo seu compromisso formal e relutante em reduzir as emissões de hidrocarbonetos – continuariam a abastecer os concorrentes da Europa. Ao transformarem a declaração final da COP28 numa prioridade política, os entusiastas do net zero da UE estão a preparar o caminho para a ruína do velho continente. Mas também dos países mais pobres.

De qualquer forma, não deixa de ser sintomático que, entre as elites, até os produtores de petróleo, como até os produtores de carne, são agora apóstolos, mesmo que não completamente sinceros, da religião do apocalipse climático.