Num mundo ao contrário, os “fact-checkers” são os primeiros responsáveis pela falsificação da realidade. E um dos mais repugnantes sinais de que os media estão definitivamente a distorcer a relação que temos com o mundo é evidente nas falsidades, nas fraudes, nos desvios à objectividade, na censura de dados concretos e na pura invenção de factos perpetrada por aqueles que se dizem, num exercício monstruoso de hipocrisia e dissimulação, seus guardiões.

Este é, precisamente, um sucinto roteiro por esses labirintos onde a verdade vai para morrer.

 

01 – USA Today: um Fact Checker que inventa os factos.

O USA Today, que gosta de se considerar como um fiável ‘Fact Checker’, e que é usado por redes sociais precisamente para esse efeito, foi ontem forçado a excluir 23 artigos do seu espólio de fake news, depois de uma auditoria interna ter descoberto que um de seus repórteres havia fabricado uma quantidade enorme de fontes e citações.

A agência de notícias tem uma secção inteira de seu site dedicada à ‘verificação de factos’ e é usada pelo Facebook para controlar a veracidade das histórias publicadas por outros media, que a partir dessa referência de “credibilidade”, reduz ou amplifica o alcance dos conteúdos, no que constitui uma forma de censura de baixa intensidade.

No entanto, parece que o USA Today deveria ter dedicado mais recursos à verificação dos factos antes de publicar os seus próprios conteúdos. Na Quinta-feira passada, perante os resultados alarmantes da auditoria, o jornal acabou por confessar que:

“A repórter de notícias de última hora do USA Today, Gabriela Miranda, fabricou fontes e usou inapropriadamente citações descontextualizadas para construir as histórias.”

Os 23 artigos que foram removidos por não atenderem aos “padrões editoriais” do jornal incluíam peças que criticavam a Rússia no contexto da invasão da Ucrânia, a proibição do aborto no Texas e os detractores da vacinação contra o covid-19.

Miranda, que agora renunciou ao cargo, “tomou medidas para enganar os auditores, ao produzir provas falsas de sua recolha de informação, incluindo gravações de entrevistas falsas”, segundo o New York Times.

A auditoria revelou ainda que alguns indivíduos citados não eram afiliados às organizações a que eram associados nos textos e pareciam ser inventados. Além disso, algumas histórias incluíam citações que foram erradamente creditadas.

O USA Today também foi forçado, recentemente, a excluir às pressas uma série de tweets que normalizavam a pedofilia, afirmando, falsamente, que existiam dados científicos conducentes à validação da tese de que a atracção sexual de adultos por crianças seria “determinada no útero”.

O jornal também foi criticado depois de “verificar” como “verdadeiras” as alegações de que uma camisola oficial da campanha presidencial de Trump, em 2020, apresentava um símbolo nazi. Nunca se encontrou qualquer evidência deste “facto”.

Em Fevereiro do ano passado, o USA Today publicou um editorial que denunciava Tom Brady por ser branco e por se recusar a negar o seu apoio a Donald Trump.

O jornal também teve que demitir a sua editora de “raça e inclusão”, Hemal Jhaveri, depois de ela responsabilizar, erradamente, pessoas de raça branca por um tiroteio num supermercado.

Para um órgão de comunicação social com reputação de “Fact Checker”, o USA Today comete muitas liberdades com a verdade.

 

02 – O Politifact no circo da negação.

Os rapazes da Politifact estão constantemente em desespero de causa. Nada de novo. Os fact checkers estão sempre em desespero de causa. No caso específico deste relatório, lemos que a América não duplicou as importações de petróleo russo no ano passado porque… duplicou as importações de petróleo russo o ano passado.

Não é uma gralha: uma organização que se dedica à verificação dos factos que correm na imprensa e nas redes sociais afirma que é falso que os Estados Unidos duplicaram as importações de petróleo russo em 2021, ao mesmo tempo que confirma que os Estados Unidos duplicaram as importações de petróleo russo nesse ano.

E depois, estes aprendizes de Pinóquio ainda conseguem ficar espantados quando ao cidadãos mais desconfiados recusam as sua delirantes narrativas.

O que, se pensarmos bem, é de uma gravidade tremenda: mesmo que Putin fosse o diabo na Terra, bastava que a imprensa afirmasse esse “facto” para que milhões de pessoas no Ocidente considerassem que o inquilino do Kremilin é um santo por canonizar.

Décadas de mentiras escandalosas como esta desagregaram completamente as sociedades ocidentais. E é difícil fazer uma guerra quando ninguém acredita no retrato que se faz do inimigo. A não ser, claro, que a opinião das massas não seja relevante. Como acontece em todas as ditaduras.

 

03 – A Associated Press dedica-se a verificar a veracidade de memes.

A Associated Press ‘verificou’ um meme que sugeria que Shinzo Abe, o ex-presidente japonês que foi assassinado durante um discurso num comício de campanha na cidade de Nara, havia dito que estava em posse de informações que poderiam levar à prisão de Hillary Clinton. 

O objetivo do meme era o de destacar que um número surpreendente de pessoas que anteriormente trabalharam para os Clintons foram mortas em circunstâncias misteriosas ou cometeram “suicídio”. Pode ser considerado um pouco insensível publicar este conteúdo no mesmo dia do assassinato de Abe, mas ninguém estava a sugerir seriamente que a afirmação era real. Não importa, os “verificadores de factos” da AP conduziram uma exaustiva investigação sobre o assunto, ainda assim.

 

 

A AP observou ainda e deligentemente que:

“A imagem de perfil Shinzo Abe não é a que é representada neste tweet e as imagens arquivadas na sua conta legítima, abrangendo vários dias desta semana, inclusive na terça-feira, mostram que esses detalhes da conta não foram alterados. Além disso, nenhum tweet sobre Clinton aparece actualmente na sua página. Uma tradução do texto japonês no tweet fabricado mostra que é uma frase truncada que não menciona Clinton. Os caracteres japoneses do nome do utilizador falso aparecem pixelados e esticados. Ele também usa um tipo de letra diferente para algumas palavras daquele que é normalmente é exibido no Twitter.”

Bom, graças a Deus que tudo ficou completamente esclarecido. Se não fosse a AP, como íamos saber que se tratava de um exercício de humor?

 

 

Esta não é a primeira vez que os memes são submetidos a tais verificações pelos senhores da verdade. Nem a primeira vez que um meme alegando que Hillary Clinton cometeu um crime foi verificado. Estes verificadores de factos não são imparciais e independentes, são apenas cães de ataque que trabalham em nome dos poderes instituídos e de interesses partidários.

 

04 – Se verificas a factualidade do humor, podes censurá-lo.

A propósito de memes, Seth Dillon, o CEO do genial site satírico “The Babylon Bee” explica neste segmento de um vídeo para a PragerU como é que as redes sociais, através da contratação de “fact checkers” externos, estão a censurar a sátira na web (apenas nos casos em que é produzida à direita do espectro político, claro).

É muito simples, na verdade: como as rábulas que geram comédia, sendo muitas vezes indexadas à vida real, não têm preocupações de rigor realista, o seu conteúdo não é factual, obviamente. Assim sendo, as agências pidescas de verificação dos factos, num exercício que tem tanto de surreal como de malicioso, podem sempre estigmatizar conteúdos humorísticos como falsos. E as redes sociais podem, com base nessas avaliações, suspender os posts e as contas dos comediantes.

É um processo draconiano, claro, mas é mesmo assim que se faz a censura: em nome da verdade, cancela-se o humor.

 

 

05 – A Snopes quer esconder os cachimbos.

A última barbaridade da Snopes, talvez o “fact-checker” mais fraudulento entre todos os “fact-checkers”, que levou a mostarda ao nariz de Paul Joseph Watson, é um relatório de apurado malabarismo que dá como falso um facto que o próprio texto confirma. E que toda a gente sabe que é verdade, porque se trata de uma iniciativa legislativa da Casa Branca, anunciada pela Casa Branca: a comparticipação pública de cachimbos para consumo de crack.

Num mundo ao contrário, esta rapaziada, que deixaria Joseph Goebbels corado de vergonha e hirto de humildade, vive a pensar que está a salvar o mundo.

 

 

06 – Entre o riso e o pranto, os serviços de fact checking do Observador são de ir às lágrimas.

Como obediente e humilde servo dos poderes instituídos, máquina repetidora das narrativas oficiais e insignificante órgão de propaganda do neo-liberalismo fascista que corre de forma uníssona nos meios de comunicação social, o Observador oferece aos seus infelizes leitores um pressuroso serviço de fact-checking que, se fosse um bocadinho só mais contrabandista da verdade, explodia em mil fragmentos.

Um caso paradigmático da falsificação da realidade a que se dedicam quotidianamente os fedelhos da redacção deste panfleto digital pode ser ilustrado pelo tristemente célebre momento em que Alexandria Ocasio-Cortez (AOC), a bolchevique congressista americana, decide fingir que, num protesto em Washington em que estava presente, teria sido algemada pela polícia, colocando as mãos atrás das costas e rezando a todos os santinhos por uma boa foto-op. E foi isso precisamente o que aconteceu, porque a ABC News fez-lhe, claro está, o desejado favor.

Ora qualquer pessoa sem problemas graves de saúde oftalmológica que veja o vídeo que documenta a situação e tenha dois milímetros de encéfalo, percebe a grosseira encenação. AOC queria passar por rebelde e vítima, oprimida pelo sistema. Tucker Carlson mostra as imagens e comenta os motivos da mais que óbvia falácia.

 

 

Acontece que o serviço de verificação de factos do Observador procurou imediatamente a desconstrução da evidência, de forma a negá-la e a defender a sua heroína do Congresso americano (ideologicamente, AOC está à esquerda do Bloco de Esquerda e a redacção do Observador, que é vendido como um jornal de centro direita liberal, também). E que argumento coloca em defesa de Ocasio-Cortez a apparatchik Rita Cipriano? Não é verdade que AOC tenha fingido que estava algemada porque AOC disse que não era verdade que tinha fingido que estava algemada.

 


O simples facto deste serviço de fact checking resultar de uma parceira com o Facebook e persistir na intenção maluca de ser levado a sério já é de chorar a rir. Mas a ideia peregrina de que as palavras de um político são garantia de verdade, ainda por cima quando fala em defesa de si próprio, é absolutamente inovadora. Até esta descoberta antológica de Rita Cipriano, as pessoas sempre desconfiaram dos políticos, sendo proverbial de que se trata de uma classe profissional que está obrigada à mentira. A mentira perpetrada por um político é considerada até normal. São os ossos do ofício. Seria mesmo de gravidade extrema, mais extrema do que a imaginação da Rita pode conceber, que os políticos começassem agora a dizer a verdade aos seus eleitores e constituintes.

O que até aqui há uns anos atrás não era considerado normal é que a mentira, aberta, sistemática e grandiloquente, provenha dos jornalistas. Não faz parte da cartilha. O relato de factos sociais e políticos e económicos não implica necessariamente a sua imediata e constante deturpação. Quero dizer: não implicava.

Mas também é verdade que os leitores do Observador são enganados porque querem e gostam de ser enganados. Qualquer pessoa que tenha alguma consideração pela realidade – e pela sua própria inteligência – só percorre as páginas deste pasquim com um intuito: o de perceber até que ponto mentem os “guardiões da verdade”.

 

 

07 – Como ninguém lhes liga nenhuma, os polícias da narrativa exigem a censura da concorrência.

Os Fact Checkers estão mesmo zangados com o YouTube e exigem que o censor de Silicon Valley censure ainda mais vídeos por “desinformação”, sendo uma das razões que apontam como legítima para intensificar a prática fascistóide a ausência de interesse que as pessoas manifestam pelos conteúdos de “verificação de factos”.

Portanto: como ninguém quer saber dos conteúdos chatos, mentirosos e hiper-partidários divulgados por “verificadores de factos” com reputação de aldrabões de primeira ordem, a sua competição mais bem-sucedida deve ser censurada!

A exigência foi feita durante a GlobalFact 9, conferência de verificação de factos organizada pela International Fact-Checking Network (IFCN):

“Como rede internacional de organizações de verificação de fatcos, monitoramos como as mentiras se disseminam online – e todos os dias constatamos que o YouTube é um dos principais canais de desinformação. Essa é uma preocupação significativa na nossa comunidade global de verificação de factos”

Durante a conferência, Angie Drobnic Holan, editora-chefe do PolitiFact, queixou-se das muito baixas audiências que os seus conteúdos recolhem online:

“Os algoritmos do YouTube não parecem promover informações precisas e fiáveis. Somos experientes produtores de vídeos de verificação de fatos. Mas estes conteúdos não são bem sucedidos. Acho que a maioria dos meios de comunicação social está extremamente frustrada com os resultados que obtém no Youtube.”

Brandon Feldman, do YouTube, respondeu a estas exigências assegurando que a empresa está empenhada em promover as “fontes autorizadas”. E é verdade. A batota é evidente na forma como o conteúdo das principais organizações noticiosas e instituições ligadas aos poderes instituídos aparecem invariavelmente no topo dos resultados de pesquisa, com as narrativas discordantes submersas no fundo da lista, quando aparecem de todo. Isto já para não falar da razia de milhares de canais dissidentes, que são simplesmente banidos.

Mas, aparentemente, nem isso é suficiente porque os verificadores de factos não são meios de comunicação imparciais e independentes. São activistas radicais, palhaços ricos no grande circo da agenda totalitária e das oligarquias instaladas no poder.