As rosas do meu jardim
São voláteis
Como a paz
Dia glorioso de sol –
Até a macieira da vizinha
Trabalha para o bronze
Não há aplicação capaz
Da lírica que faz
A folha em branco
Cai a tarde –
Os haikus escrevem-se
sozinhos
Falas de política
E calas a filosofia –
Tagarela
Silêncio –
Nem a madrugada faz barulho
A respirar
O Hotel está vazio –
Até as moscas decidiram alugar
Apartamentos
Cai a noite e o silêncio –
Assustas-te com a ignição
De uma motorizada
O teu corpo começa
A acusar os anos –
Queixinhas
Faz sentido que sejas mais sábio
Quando os músculos
Perdem a razão
Cometes erros
Pagas o preço –
Mas cumpres a dívida?
Quanto mais suspeito das pessoas
Mais gosto
Da humanidade
Em dez haikus,
Acerto um –
Boa média
O mundo é uma complicação
De coisas simples
(Olhas para o relógio)
O rasto da traineira
Agita o scotch do Comandante
Do Navio Escola Sagres
O Verão é a forma
Com que Deus te recompensa
Por te ter feito imperfeito
Do horizonte negro
Escapa-se uma estrela –
Livre arbítrio
_____________
A Arte do Haiku: Introdução.
Mais haikus no Contracultura
Relacionados
22 Abr 25
Praia de Maio
A arte do haiku: A publicidade estraga a paisagem, os croquetes pedem paz, o isqueiro rende-se ao vento e o IPMA não percebe nada disto.
2 Abr 25
A constipação e suas implicações na metafísica.
O deus católico pode ir dar uma volta ao bilhar grande: estou constipado. E o universo é extremamente desinteressante quando temos o nariz tapado.
28 Mar 25
Umbral
Depois de atravessares todas as portas e de perceberes que por todas elas saíste quando julgavas ter entrado, onde vais agora? Um poema de Alburneo.
21 Mar 25
Árvores Dendrites
A Árvore dendrite tolera os pássaros como as crianças toleram os cães. Um poema de Alburneo.
11 Mar 25
Haikus da baía praia
A arte do haiku: Um dia perfeito, uma conversa com Neptuno, uma omelete civilizada e uma vila simpática, nativos à parte.
11 Fev 25
Trova dos Deuses Astronautas
Vêm lá dos confins do espaço, em busca dos desertos americanos. Enlatados em discos d'aço, vão chegando os marcianos.