Vêm lá dos confins do espaço
em busca dos desertos americanos.
Enlatados em discos d’aço
vão chegando os marcianos.
Olhos espirais, antenas telepatas
e espertas orelhas pontiagudas:
são feios, porcos e maus os piratas
do Triângulo das Bermudas.
Uns vêm e deixam saudades,
outros por fome de carne humana;
contra todas as probabilidades
visitam-nos uma vez por semana.
Eles andam aí.
Alienígenas indígenas
de planetários corsários,
Eles andam aí.
Não há como negar o facto:
eles andam aí e são apanhados
a construir aeroportos no mato
e a ceifar o trigo dos prados.
Arriscam-se à bestial pestilência
dos encontros de grau terceiro.
Amiúde, deixam descendência,
são fornicadores em passeio.
Habitam há que tempos a História,
deixaram-nos príncipes e faraós,
(as pirâmides são prova e memória
de que nunca estivemos sós).
Eles andam aí.
Marcianos bacanos,
Extraterráqueos batráquios,
Eles andam aí.
Escreveram tábuas e pautas
para mitos, cultos e religiões:
são os deuses astronautas
que aterram aos trambolhões.
Provêm de distantes mundos
ou é outra a aventura:
podem até ser oriundos
de uma qualquer era futura.
Podem até ser cientistas
do século d.C. quarenta e tal.
Ou então serão turistas,
em safari temporal.
Eles andam aí.
Répteis com projecteis
Psicopatas de três patas,
Eles andam aí.
Na verdade nem me interessa
de onde vêm e para onde vão.
Gosto é de os ver assim com pressa
em imagens de baixa resolução.
Eles andam aí.
Alienígenas indígenas
de planetários corsários,
Eles andam aí.
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