Não satisfeitos com uma curta e periclitante maioria na Câmara dos Representantes, os republicanos estão na iminência de entregar essa importante vantagem política aos democratas.
O controlo da Câmara dos Representantes nunca mudou a meio de um mandato. Mas o 118º Congresso está pronto para essa possibilidade, porque a bancada republicana, profundamente dividida entre populistas e neo-conservadores que na verdade servem os interesses do pântano de Washington, está a ser perturbada pela deserção, pela traição e pelo caos. Membros que planeavam reformar-se em Janeiro próximo, no fim dos seus mandatos, estão agora a abandonar o Capitólio mais cedo.
A metade direita da Câmara é um lugar conflituoso, e seis meses depois da destituição de Kevin McCarthy, já rebentou mais um movimento para destronar o actual speaker da Câmara. Neste contexto, há flores de estufa (que são republicanos só de nome) a acusar o stress e a debandar antes de terminarem os seus mandatos, mesmo que isso signifique entregar a maioria aos democratas, oferecendo ao regime Biden uma carta verde para, nos últimos meses da sua presidência, destruir o país a seu bel-prazer. Tanto mais que o establishment, sempre venenoso, está a tentar muitos deles com chorudos cargos no sector privado.
Afinal, o que é o Congresso?
Mas valerá a pena, primeiro, articular um pouco sobre a duração de um determinado “Congresso”.
O Congresso chama-se “Congresso” porque reúne os membros da Câmara dos Representantes e do Senado no Capitólio, em Washington. A palavra “Congresso” significa “reunião”. Assim, os legisladores estão no Capitólio pela 118ª vez desde o início do 1º Congresso em 1789, no Federal Hall em Nova Iorque. Os eleitores elegeram os membros da Câmara e cerca de um terço de todos os senadores para o actual 118º Congresso em Novembro de 2022. Cada “Congresso” começa ao meio-dia de 3 de Janeiro e termina às 11h59 de 3 de Janeiro, dois anos depois. Assim, o 118º Congresso teve início a 3 de Janeiro de 2023 e terminará no final da manhã de 3 de Janeiro do próximo ano. Portanto, o mandato de todos os membros da Câmara que começou no ano passado termina ao mesmo tempo em Janeiro próximo. Os deputados eleitos em Novembro deste ano irão exercer funções no 119º Congresso.
Dois speakers mal amados.
Os republicanos da Câmara pensavam que poderiam ter uma maioria de 50 lugares em Janeiro de 2023. Ganharam o controlo da Câmara – mas apenas por um punhado de lugares. A escassa maioria hesitou durante cinco dias e 15 rondas de votações antes de finalmente eleger Kevin McCarthy (R-Califórnia), como seu líder e speaker do hemiciclo. Essa rancorosa corrida prenunciava o que estava para vir.
McCarthy estava acabado em Outubro. A Câmara demorou mais de três semanas a eleger um novo speaker, o apalermado e inconsequente Mike Johnson (R-Louisiana), que na verdade é apenas mais uma criatura do pântano. E como verme de águas estagnadas que é, permitiu a aprovação da lei de despesas dos democratas, uma traição que Marjorie Taylor Greene (R-Georgia) não está disposta a perdoar. A representante populista é autora de uma resolução para destituir o republicano do Louisiana e deve estar nessa intenção bem acompanhada, porque a Câmara aprovou o dito projecto-lei com 185 votos dos Democratas – mas com apenas 101 votos dos Republicanos. Além disso, Johnson violou a regra interna do seu Partido (criada durante as negociações para a eleição de McCarthy), que obriga a liderança da bancada a dar aos representantes um prazo de três dias para lerem a legislação antes de a votarem.
Convém dizer que os pacotes legislativos como o da lei das despesas têm milhares de páginas e muitas vezes são aprovados sem serem lidos pelos representantes.
O texto do projecto-lei foi publicado pouco antes das 3 horas da manhã de quinta-feira. A Câmara encerrou a votação do projeto-lei às 11h45 da passada sexta-feira.
Antes da votação, Johnson deu a entender que talvez não concedesse aos legisladores os três dias necessários para analisar a legislação:
“Não há nada de sagrado nas 72 horas. A ideia é que a legislação seja analisada adequadamente pelos deputados antes de ser votada.”
A jogada de Johnson enfureceu a facção populista, que muito tinha lutado em Janeiro de 2023 para instituir esta regra básica. Mas houve, claro, outros republicanos que não ficaram nada aborrecidos. O deputado Greg Murphy (R-Carolina do Norte), por exemplo, queria renunciar à regra e estava pronto para votar de imediato.
“O que é isto? Um teste? Que leiam mais depressa!”
Mas Greene estava já fartinha de Mike Johnson e do seu rasto viscoso de lesma comprometida com os poderes instituídos e anunciou que estava pronta a mostrar a porta de saída ao speaker logo depois da assembleia ter aprovado a lei da despesa pública:
“Não quero infligir dor à nossa conferência e lançar a Câmara no caos. Mas devo dizer que o relógio está a contar e que está na altura da nossa conferência escolher um novo speaker.”
Porém, Greene pode nem sequer ter a oportunidade de expulsar Johnson. Não está fora de questão que a Câmara possa passar o controlo para os Democratas entretanto. É uma questão de aritmética.
A maioria à beira de um ataque de nervos.
O representante Ken Buck (R-Colorado), demitiu-se na passada sexta-feira. Buck, que é um RINO (Republican In Name Only) assumidíssimo, bateu com a porta depois de se ter recusado a votar a favor da destituição do Secretário da Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, que é só, depois de Biden, o maior responsável pelo caos na fronteira com o México. O deputado Mike Gallagher (R-Wisconsin), também se recusou a votar a favor da destituição do apparatchik. Gallagher planeou inicialmente ficar até Janeiro. Mas decidiu entretanto que se vai embora a 19 de Abril, imediatamente a seguir à data que obriga a uma eleição especial no Wisconsin, ou seja, o lugar vai ficar vazio até Janeiro do próximo ano. A decisão de Gallagher é nitidamente uma vingança pessoal sobre os populistas, que o maltrataram verbalmente pela sua posição a favor da imigração descontrolada que está alterar rapidamente o perfil demográfico da federação.
Após a demissão de Bucks e depois de Gallagher sair, a repartição entre republicanos e democratas é de 217 para 213, uma margem de quatro lugares, extremamente vulnerável, porque há nesses 217 representantes muitos que estão dispostos a votar contra os populistas e a favor das mais ensandecidas propostas dos representantes democratas e do regime Biden.
Mas as coisas tornam-se ainda mais sombrias para os republicanos.
No final de Abril, haverá uma eleição especial em Nova Iorque para substituir o antigo deputado Brian Higgins (D-Nova Iorque), que também se reformou antecipadamente. Espera-se que os democratas fiquem com esse lugar. Como estava vago, a bancada democrata soma assim mais um representante, totalizando 214.
Os republicanos podem conseguir um pouco de oxigénio para respirar depois de um segundo turno das eleições especiais de 21 de Maio na Califórnia eleger um republicano para suceder a McCarthy, que entretanto também abandonou o Congresso, amuado por ter sido corrido da liderança da bancada republicana. Mas há outros republicanos que estão deveras exauridos pelas exigências do combate político no Capitólio e podem sair antes do fim do Congresso. Alguns estão exasperados. Outros não querem estar lá para a eleição presidencial e enfrentar os repórteres que os provocam nos corredores do edifício com perguntas incómodas sobre os últimos comentários do ex-presidente Trump nas redes sociais. Outros estão simplesmente fartos dos seus colegas.
O Senado passou o controlo dos republicanos para os democratas a meio do 107º Congresso, em 2001. E nesta assembleia houve uma estranha anomalia na década de 1950, em que os democratas tinham mais assentos do que os republicanos num determinado momento – mas permaneceram em “minoria”. A Câmara dos Representantes, porém, nunca mudou de controlo a meio de um Congresso.
Darrell West, da Brookings Institution, disse a este propósito:
“Os republicanos da Câmara têm de estar preocupados com a manutenção da sua maioria. Seria extraordinariamente invulgar. Quer dizer, coisas deste género não acontecem. Mas mostra a extensão da disfunção e das divisões dentro da bancada republicana”.
Não é por acaso que Pete Aguilar (D-Califórnia) caracterizou o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries (D-Nova Iorque), como o “líder do Congresso” na semana passada.
“O seu título pode não ser o de Speaker, mas ele tem os votos. Ele tem a confiança de uma parte significativa dos membros.”
De facto, a este ritmo de deserção e com este nível de conflito intestino na bancada republicana, Jeffries poderá ser o speaker da Câmara antes do Congresso concluir o seu ciclo.
O que seria, de todo em todo, um desastre monumental do Partido Republicano, que de qualquer forma já é bastante desprezado pelo seu próprio eleitorado.
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