O governador da Flórida, Ron DeSantis, desistiu das primárias presidenciais republicanas, depois de uma desventura de quase um ano.

DeSantis emitiu uma declaração no X, no Domingo, endossando Donald Trump e afirmando que estava orgulhoso de sua campanha. Não se percebem muito bem as razões dessa vaidade, porque a campanha foi um desastre completo. DeSantis tinha um capital político que, numa sondagem de Novembro de 2022, lhe dava vantagem sobre Trump. No primeiro escrutínio das primárias, em Iowa, na semana passada, ficou a 33 pontos do magnata de Queens. E antes até do segundo momento eleitoral, em New Hempshire, anunciou a desistência.

 

 

Mas o que é que correu mal?

As aspirações presidenciais de DeSantis eram conhecidas pela sua equipa e por pessoas próximas do governador muito antes de seu discurso de anúncio no Twitter/X a 24 de Maio de 2023. Na verdade, o que parecia um ataque não provocado de Trump em Novembro de 2022 foi na realidade o culminar da indicação da equipa e dos financiadores de DeSantis que assim que o governador da Florida conseguisse persuadir a legislatura de seu estado a mudar a lei para que pudesse concorrer às primárias enquanto permanecesse no cargo, entraria na disputa. Numa entrevista à Fox News, DeSantis e a sua mulher Jill Casey admitiram ter decidido concorrer às primárias em Novembro de 2020.

Enquanto isso, Ron embarcou numa digressão de lançamento de um livro que vendeu pouco, enquanto anunciava o seu modelo de governação da Florida por toda a federação, em eventos  +onde foi acusado de ser egocêntrico, aborrecido e pouco carismático. Durante esse período, ele deixou Jeanette Nunez – uma mulher que certa vez descreveu Donald Trump como um vigarista do Ku klux Klan – no comando do Sunshine State.

Nos primeiros dias, as farpas de Trump contra DeSantis foram condenadas pela maioria dos “conservadores”, bem como por muitos que professavam ainda estar no campo de Trump, embora mais tarde se viesse a descobrir que estavam a jogar em ambos os lados. Pessoas como Steve Cortes, John Cardillo, Matthew Tyrmand, Pedro Gonzales, Clay Travis, Tomi Lahren, entre outros, apoiaram secretamente DeSantis. Ao mesmo tempo, o governador da Florida contratou o eixo da incompetência: Jeff Roe, Adam Laxalt e Christina Pushaw para atacar os republicanos MAGA e o ex-presidente.

A estratégia dissimulada de DeSantis foi facilmente detectada por muitos populistas mais ligados a Trump e a sua duplicidade estender-se-ia à forma como conduziu toda a sua campanha, permitindo que o seu Super PAC, ‘Never Back Down’, gerisse eficazmente a maior parte da logística, uma decisão que era ao mesmo tempo legalmente falha e politicamente idiota.

A operação online de DeSantis – que o próprio candidato manteve à distância – empreenderia uma campanha para tentar “superar os memes” dos republicanos MAGA na internet, caindo de cabeça na serra circular da Dilley Meme Team e de outras contas de base satírica, que humilharam ritualisticamente DeSantis e os seus apoiantes. O constrangimento afectou as operações diárias da campanha, o que levou a Ron Desantis Team a implementar às pressas um programa de contas bot para conter a sangria. O programa não funcionou.

Em vez disso, agentes pró-DeSantis tentaram chutar para canto. “Esperem até que ele anuncie a candidatura”. E depois: “Esperem pelos debates”. E, finalmente, “Esperem até Iowa”. Iowa chegou e DeSantis foi mais uma vez humilhado pelo Presidente Trump e pela sua equipa, que mantiveram uma disciplina notável ao longo de 2023, face a toda a espécie de acusações políticas e judiciais.

Desde o princípio que DeSantis soava a falso e parecia fora da sua zona de conforto. Nos debates não entusiasmou. Nos comícios, que nunca reuniram multidões, não convenceu. E os ataques constantes a Trump não ajudaram nada, porque entre o eleitorado republicano, mesmo aqueles que preferiam o governador da Florida não aprovam de todo o que o regime Biden está a fazer com o seu principal adversário político e não registam favoravelmente que outros candidatos republicanos aproveitam essa maré negra.

Mais recentemente, quando perguntado se aceitaria concorrer a eleições primárias em que Trump fosse retirado do boletim de voto, o governador da Florida disse que sim, que essa eventualidade não o impediria de concorrer. Nenhum eleitor republicano que se preze vai perdoar e esquecer isto nos próximos anos.

A estes factores acresce a aceitação de dinheiros de milionários ligados ao establishment, as personagens muito suspeitas e comprometidas com o pântano de Washignton que colocou na sua equipa, os insultos ao movimento MAGA e a movimentos contra o aborto, os ataques retóricos aos manifestantes de 6 de Janeiro e o facto de ter ido a Israel assinar um lei que criminaliza o discurso no seu estado, entre outros disparates, disfunções cognitivas, erros políticos e confusões desnecessárias em que se envolveu.

9 meses de reveses e muitas centenas de milhões de dólares depois de ter anunciado a sua candidatura, na altura auspiciosa, às primárias do Partido Republicano, Ron DeSantis sai de cena com o rabo entre as pernas. Seria sempre difícil ao governador da Florida bater Donald Trump. Mas a sua campanha, se tivesse sido gerida decentemente, poderia projectá-lo favoravelmente para a corrida de 2028. Assim sendo, terá que partir do zero, para voltar a sonhar.

No entretanto, Donald Trump tem neste momento as primárias no bolso. E ainda agora começaram.