A economia alemã está em crise, com os especialistas a traçarem um quadro sombrio para os próximos meses, até às eleições estaduais do Outono, ao mesmo tempo que os níveis de endividamento atingem um novo recorde. O prometido “milagre económico verde” do chanceler Olaf Scholz parece estar a cair por terra e poderá ter consequências políticas para o governo liberal-leninista no poder.

O PIB caiu 0,1% no segundo trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o Serviço Federal de Estatística. Trimestres recessivos são agora uma tendência frequente da economia alemã, que já nos primeiros três meses de 2023 tinha mostrado números negativos de crescimento económico.

 

 

Comentando os dados, Klaus Wohlrabe, director de estudos económicos do prestigiado Instituto IFO, afirmou:

“A economia alemã está presa nesta crise. E não se esperam grandes melhorias para o terceiro trimestre de 2024… Isto é indicado pelos resultados do índice de clima empresarial IFO de Julho”.

Durante uma participação no programa Taggeschau, o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, também pareceu pessimista:

“O inesperado declínio do produto interno bruto no segundo trimestre em 0,1% mostra mais uma vez que não se pode falar de uma recuperação significativa na Alemanha.”

Os dados surgem na mesma altura em que a dívida alemã atingiu um novo recorde de 2,45 biliões de euros até ao final de 2023, de acordo com um relatório divulgado pelo Serviço de Estatística do país, o que representa mais 77 mil milhões de euros do que em 2022. Actualmente, a dívida per capita dos alemães é de aproximadamente 28.900 euros. O crescimento da dívida deve-se principalmente ao aumento das despesas com a guerra na Ucrânia e ao aumento dos custos da energia, mas a segurança social também está a consumir o orçamento a um ritmo tremendo, dado o esforço acrescido a que tem sido sujeita com a imigração em massa.

A situação económica não deverá melhorar nos próximos meses, segundo o instituto Ifo:

“De um modo geral, a carteira de encomendas continua a diminuir e a indústria carece de novas encomendas. A avaliação da situação actual caiu em Julho para o seu nível mais baixo desde Setembro de 2020, e as expectativas das empresas para os próximos meses deterioraram-se significativamente”.

O chanceler Olaf Scholz tinha prometido aos alemães um crescimento muito mais elevado em Março de 2023, afirmando na altura:

“Devido ao elevado nível de investimento na protecção do clima, a Alemanha poderá atingir taxas de crescimento durante algum tempo, como se viu pela última vez nas décadas de 1950 e 1960”.

Durante esse período, a economia alemã crescia a 8% ao ano. Se no fim do ano de 2024 tiver crescido 0,2%, já não é nada mau.

Além do mais, os elevados níveis de endividamento da Alemanha implicam problemas jurídicos, com os planos do governo de aumentar as despesas para estimular o crescimento a depararem-se com sérios obstáculos junto do Tribunal Constitucional. O tribunal decidiu que os planos de reafectação a outras áreas da economia de cerca de 50 mil milhões de euros destinados originalmente a combater a pandemia, são inconstitucionais.

Na altura, a Alternativa para a Alemanha (AfD) propôs uma série de cortes orçamentais em resposta à decisão do tribunal, incluindo a suspensão das transferências de armas para a Ucrânia, a deportação de migrantes e a reforma da transição energética. Os populistas foram ignorados, claro.

Muitos especialistas observam que os três pilares da economia alemã – energia barata da Rússia, fornecedores competitivos da Europa Central e Oriental e um mercado de exportação crescente para a China – entraram em colapso e que esse desvio estrutural terá consequências devastadoras.

A economia alemã em queda pode ter consequências políticas, com os partidos que compõem o governo a enfrentarem grandes dificuldades nas próximas eleições nos estados da Alemanha de Leste, no Outono deste ano. As sondagens indicam que, nalguns Estados, os três partidos do poder poderão ser totalmente erradicados das assembleias legislativas regionais.