O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, está a transformar as acusações de corrupção e tráfico de influências de que a sua mulher, Begoña Gómez, é alvo, numa oportunidade para eliminar a independência do aparelho judicial do país que actualmente tiraniza.

Um tribunal de Madrid declarou, em Abril, que tinha “aberto um inquérito contra Begoña Gómez pelo alegado crime de tráfico de influências e corrupção”, em resposta a uma queixa apresentada pelo Manos Limpias (Mãos Limpas), um grupo de activismo anti-corrupção, cujo líder é rotulado como de “extrema-direita”.

A breve declaração do tribunal foi feita várias horas depois do site de notícias online El Confidencial ter revelado que os investigadores estavam a investigar as ligações de Gomez a várias empresas privadas que receberam financiamento do governo ou ganharam contratos públicos.

A primeira reacção de Pedro Sánchez foi escrever uma carta aberta ao país, dramática e choramingona, com ameaças de demissão. Infelizmente, a serpente humana que está enrolada à volta do pescoço de Espanha mudou de ideias. De tal forma que da vitimização passou ao ataque, avisando que permaneceria no cargo, mas que:

“Isto não vai ser como sempre. As coisas vão ser diferentes a partir daqui.”

Na verdade, o primeiro-ministro ficou tão ofendido com o facto do sistema judicial poder funcionar como se fosse independente dos seus interesses de tirano, que, depois da birra, sucumbiu aos seus piores instintos.

O discurso em que fez o anúncio da sua permanência no cargo, no entanto, deveria evocar uma profunda reflexão junto dos espanhóis que prezam a liberdade, o estado de direito e os mais básicos princípios constitucionais. Perdendo os últimos vestígios de vergonha que, a espaços, ainda trazia na cara, Sánchez apelou aos seus apoiantes para que fizessem pressão sobre aqueles que se opõem ao seu esforço para “limpar o país do seu clima tóxico” e “regenerar a democracia”. Nas entrelinhas, toda a gente percebeu que estava a declarar guerra ao sistema judicial do país.

O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, descreveu o discurso como o mais perigoso que alguma vez ouviu de Sánchez, e com razão.

Como observou recentemente o político reformado Alejo Vidal-Quadras, Sánchez é um actor político ágil, cuja teatralidade surpreende e confunde repetidamente os seus adversários. Um bom exemplo disso foi o facto de ter organizado eleições legislativas antecipadas, na sequência de eleições autárquicas que deixaram o seu partido nas lonas. Foi arriscado, mas resultou. Em vez de se esvair em sangue eleitoral, pegou nos apoios que ainda tinha e reiniciou o relógio para mais quatro anos, apesar de o ter feito da forma infame que o Contra já documentou, inventando uma geringonça com radicais independentistas catalães que estavam no exílio, fugidos à justiça espanhola, e para os quais foi preciso até decretar uma amnistia (Como Lula da Silva, no Brasil, não foram sequer ilibados dos seus crimes).

Podemos agora esperar um ataque frontal ao poder judicial, com a desculpa de que a “extrema-direita” se infiltrou nos tribunais ao ponto de serem levantados processos criminais à irrepreensível mulher do déspota. Até a separação de poderes é agora reduzida a um detalhe inconveniente, que deve ser anulado, pelas oligarquias globalistas da Europa.

Mais concretamente, Sánchez vai tentar renovar o Conselho Geral do Poder Judicial, o órgão constitucional que rege todo o poder judicial de Espanha, e preenchê-lo com nomeações políticas.

O seu discurso não é, portanto e para variar, mentiroso: as coisas vão ser diferentes, de facto, porque das duas uma: ou ele consegue destruir a democracia constitucional do país, ou a oposição tira da cartola, finalmente, uma vitória, defendendo as instituições contra a usurpação política de um tirano sem princípios para além da conquista e manutenção do poder.