O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky e o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico

 

 

A Ucrânia cessou o trânsito de gás natural russo para a Europa após o termo de um acordo fundamental de cinco anos. Esta medida, com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2025, conclui um acordo de longa data que tem sido fundamental para o panorama energético da Europa.

O contrato de 2019 entre a Naftogaz da Ucrânia e a Gazprom da Rússia terminou oficialmente a 31 de Dezembro de 2024, cortando efectivamente uma das últimas grandes rotas do gás russo para a Europa. O gasoduto em causa tem transportado anualmente cerca de 40 mil milhões de metros cúbicos de gás para os países europeus.

O fluxo de gás natural da Rússia para a Europa foi interrompido na manhã de quarta-feira, depois de a Ucrânia se ter recusado a renovar o acordo, segundo as autoridades de ambos os países.

A decisão de suspender o fluxo de gás através de um gasoduto que transportou gás soviético e depois russo para a Europa durante quase seis décadas faz parte de uma campanha mais ampla da Ucrânia e dos seus aliados ocidentais para minar a capacidade de Moscovo de financiar o seu esforço de guerra e limitar a capacidade do Kremlin de utilizar a energia como alavanca económica. Mas a verdade é que, como todas as outras iniciativas deste género que foram tomadas desde o início da guerra na Ucrânia, só vai prejudicar os europeus.

“Este é um acontecimento histórico”, disse o ministro da Energia da Ucrânia, Herman Galushchenko, em comunicado. “A Rússia está a perder mercados, vai sofrer perdas financeiras.”

Acontece que o fim das receitas que a Ucrânia somava por permitir o trânsito do gás pelo seu território terá também um impacto significativo no seu PIB.

Volodymyr Zelensky prometeu no mês passado encerrar o gasoduto apesar das ameaças de retaliação, incluindo da Eslováquia e da Hungria, dois dos países europeus que mais dependem do gás russo.

A Eslováquia, fortemente dependente desta conduta, enfrenta preocupações significativas em matéria de abastecimento. A Hungria, que manteve laços energéticos com Moscovo, continuará a receber gás russo através do gasoduto TurkStream que passa pela Turquia, embora a perda da rota ucraniana aumente a pressão sobre a sua segurança energética.

A Eslováquia afirma que o estabelecimento de rotas alternativas vai aumentar drasticamente os custos de energia, prevendo um prejuízo de 500 milhões de euros só em taxas  – o que levou o Presidente Volodymyr Zelensky a tentar “subornar” o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, com essa exacta quantia – desde que aceitasse uma eventual adesão da Ucrânia à NATO, algo que Fico recusa e recusará invariavelmente.

No início da semana passada, o líder eslovaco respondeu duramente à iniciativa de Zelensky, ameaçando interromper o fornecimento de electricidade à Ucrânia.

“’Percebo que por razões políticas egoístas o Ocidente lhe dê praticamente tudo o que pede, mas não sou o seu servo que não pode expressar a sua própria opinião e que é obrigado apenas a ajudá-lo e a não esperar nada em troca. A Eslováquia está preparada para promulgar medidas recíprocas.”

E no fim dessa semana, numa mensagem vídeo no Facebook, Fico advertiu:

“’Depois de 1 de janeiro, avaliaremos a situação e as possibilidades de medidas recíprocas contra a Ucrânia. Se for inevitável, suspenderemos o fornecimento de electricidade de que a Ucrânia necessita durante os cortes na rede. Ou chegaremos a acordo sobre um curso de acção diferente.”

A Eslováquia tem capacidades de armazenamento e o comprador de gás SPP tem contratos para a compra de gás a uma fonte não russa com a BP, a Shell, a Eni e a RWE.

Fico mudou a política externa da Eslováquia desde que assumiu o poder, há pouco mais de um ano, nomeadamente ao interromper a ajuda militar à Ucrânia e ao normalizar as relações com a Rússia. Fico tornou-se apenas no terceiro líder da UE a visitar o presidente russo Vladimir Putin em Moscovo, desde o início da guerra.

No entanto, a Eslováquia também forneceu ajuda humanitária à Ucrânia e exportou gasóleo e electricidade para o seu vizinho. De Janeiro a Novembro deste ano, a Eslováquia exportou 2,4 milhões de megawatts-hora de electricidade, um aumento de 152% em relação ao ano anterior.”

O primeiro-ministro eslovaco escreveu na legenda da sua publicação no Facebook:

“1. Se alguém quiser organizar uma reunião de paz na Eslováquia, estaremos prontos a recebê-la.
2. Ao parar o trânsito de gás, o Presidente Zelensky causará milhares de milhões de dólares em prejuízos à UE, incluindo a Eslováquia, e a competitividade da UE será ainda mais reduzida.

Parece que os grandes da UE não se importam. Principalmente porque, em nome de um objectivo irrealista de enfraquecer a Rússia, os eslavos continuarão a intimidar-se uns aos outros.”

A decisão de fechar o gasoduto, que só pode ter sido tomada com o acordo da Comissão Europeia, vai castigar ainda mais os cidadãos europeus, que vão pagar preços ainda mais exorbitantes pela energia que consomem. Mas como Ursula von der Leyen e os seus comissários não são eleitos por ninguém, as consequências das suas nefastas decisões não recaem sobre eles, nem perturbam o seu poder político.