Muito para além da sua magnitude – A Rússia não sofria uma ataque terrorista com este nível de mortandade desde que em Setembro de 2004 um grupo de radicas chéchenos matou mais de 300 pessoas na escola de Beslan – o atentado que ocorreu na sexta-feira à noite, quando pelo menos quatro atiradores irromperam na sala de concertos Crocus em Krasnogorsk, na região de Moscovo, abrindo fogo sobre a multidão e incendiando o edifício, tem implicações, que podem ser catastróficas, no panorama global.

Na altura em que estas linhas são escritas, o número de mortos do ataque terrorista ascende a 143, incluindo três crianças. 107 pessoas foram hospitalizadas. Prevê-se no entanto que o número de mortos continue a aumentar, segundo afirmou o Comité de Investigação russo numa declaração no sábado. Os dados preliminares mostram que os óbitos se devem a ferimentos de bala e envenenamento por produtos de combustão, de acordo com o comunicado.

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) afirmou:

“Após o ataque, os criminosos pretendiam atravessar a fronteira russo-ucraniana e tinham contactos relevantes no lado ucraniano”.

O ataque parece ter sido minuciosamente planeado e os criminosos tinham armas acondicionadas antecipadamente num esconderijo.

O Director do FSB, Alexander Bortnikov, comunicou ao Presidente russo Vladimir Putin a detenção de 11 suspeitos relacionados com o ataque, incluindo os quatro directamente envolvidos no massacre. Os suspeitos foram detidos na região de Bryansk, que faz fronteira com a Ucrânia.

Por outro lado, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou:

“Nos últimos dez anos, os regimes liberais ocidentais transformaram a Ucrânia num centro de propagação do terrorismo, onde os envolvidos no ataque ao Crocus tentaram encontrar um abrigo”.

No Ocidente, e mesmo antes da identidade dos terroristas ser conhecida, começou rapidamente a circular na imprensa corporativa a tese de que o atentado seria da responsabilidade do ISIS – o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que, de acordo com as informações disponíveis e para todos os efeitos teria sido extinto em 2019.

Entretanto, um dos terroristas, afirmou, depois de ter sido apanhado, que tinha sido recrutado por uma conta anónima do Telegram e que os actos bárbaros que cometeu tinham como motivação um pagamento que lhe tinha sido prometido de 5.000 euros.

 

 

Putin: “Todos os responsáveis pelo ataque terrorista em Moscovo serão punidos.”

O Presidente russo dirigiu-se à nação no sábado. Vladimir Putin qualificou o ataque terrorista como “sangrento e bárbaro”, prometeu punir todos os envolvidos e não apenas aqueles que perpetraram o massacre, e declarou um dia de luto nacional no Domingo, 24 de março, em memória das vítimas do atentado.

Na sua alocução, Putin disse que quatro suspeitos do ataque terrorista foram detidos e deu a entender que a Ucrânia pode estar envolvida no acto criminoso (até pela referência aos crimes perpetrados por nazis em território russo):

“Todos aqueles que dispararam e mataram pessoas – foram detectados e detidos. Tentaram fugir e estavam a dirigir-se para a Ucrânia, onde, de acordo com dados preliminares, havia uma abertura preparada pelo lado ucraniano para a passagem da fronteira. É evidente que estamos perante um assassínio em massa, preparado e organizado, de pessoas pacíficas e indefesas. Os criminosos tinham a intenção clara de matar a sangue frio os nossos cidadãos, as nossas crianças. Tal como os nazis, que há algum tempo cometeram atrocidades nos territórios ocupados, planearam uma execução pública, uma acção sangrenta destinada a incutir o medo”.

O líder russo acrescentou que a investigação procurará identificar os mandantes do crime, bem como os seus autores:

“Identificaremos e puniremos legitimamente todos os autores do ataque terrorista”.

O Presidente sublinhou que a Rússia está bem ciente da ameaça terrorista de que é alvo e está pronta a trabalhar com as nações que se unam na luta contra um inimigo comum – o terrorismo internacional.

“Terroristas, assassinos, abominações que não têm e não podem ter nacionalidade encontrarão o seu destino maligno – a retribuição e o esquecimento. Eles não têm futuro”.

 

É provável que a Ucrânia tivesse conhecimento prévio da ameaça terrorista sobre Moscovo.

Durante uma entrevista ao Sputnik, o analista político e militar Sergey Poletaev salientou que o Serviço Federal de Segurança russo anunciou oficialmente que os suspeitos de terrorismo tinham contactos na Ucrânia. Segundo Poletaev, mesmo que as informações sobre a nacionalidade dos autores do atentado sejam verdadeiras (aparentemente os terroristas são naturais do Tajiquistão), o ataque em Moscovo pode ter sido planeado por algum tipo de organização terrorista islâmica que tenha ligações com a Ucrânia, ou mesmo directamente pela Ucrânia.

Poletaev referiu que, em todo o caso, parece que os dirigentes ucranianos tinham conhecimento prévio deste acto de terror, “o que os torna, no mínimo, cúmplices”.

O analista também argumentou que, embora o ataque tenha sido provavelmente planeado por profissionais, isso não significa necessariamente que os perpetradores fossem igualmente competentes.

Comentando as tentativas de Washington e Kiev de negarem apressadamente a participação da Ucrânia neste ataque terrorista, Poletaev sugeriu que o Ocidente vai insistir que o ISIS foi o único responsável. Assim, postulou, haverá duas narrativas – a russa e a ocidental – e tudo se resume a saber de que lado a “maioria global” vai ficar.

“É do nosso interesse reunir um conjunto de provas convincentes para defender o nosso caso. Isso ajudar-nos-ia muito na diplomacia. Estamos a falar de ‘países terceiros’, claro, uma vez que o Ocidente irá muito provavelmente rejeitar qualquer conversa sobre o envolvimento da Ucrânia.”

Seyed Mohammad Marandi, analista político e professor na Universidade de Teerão, também considerou suspeito o facto de, mesmo quando “não se conheciam verdadeiros pormenores” sobre o ataque, os Estados Unidos terem começado a insistir que a Ucrânia não estava envolvida.

Marandi referiu-se também ao estranho comunicado da embaixada dos EUA na Rússia, emitido a 7 de Março, que recomendava aos cidadãos americanos em Moscovo que não fossem a concertos e evitassem multidões.

“É muito estranho que os Estados Unidos tenham sido capazes de emitir um aviso tão pormenorizado sobre um ataque terrorista, antes dele acontecer. Portanto, eles têm todos estes pormenores específicos, mas não foram capazes de dar nada de específico aos russos. Tudo isto faz-nos pensar que algo está muito errado”.

Referindo-se às alegações de que o ISIS é responsável pelo ataque, Marandi argumentou que esta teoria não exclui necessariamente “a cooperação entre a Ucrânia e o ISIS ou o potencial papel dos Estados Unidos”, já que:

“O próprio facto de os Estados Unidos terem dito, desde o início, que a Ucrânia não estava envolvida e o facto de terem dado um aviso tão detalhado aos seus cidadãos levanta sérias questões.”

Andrey Popov, um coronel na reserva do FSB e membro da Associação de Veteranos do grupo antiterrorista Alfa considera que o facto dos suspeitos de terrorismo terem a intenção de atravessar a fronteira russo-ucraniana mostra que planearam as suas rotas de evacuação através da Ucrânia,

“Seria irrealista que os terroristas atravessassem a fronteira ucraniana sem contactos com os serviços secretos do país ou com o governo ucraniano em geral. Por outras palavras, a versão sobre o envolvimento do ISIS no ataque ao Crocus – reivindicada pelo Ocidente liderado pelos EUA – não tem qualquer validade. Todos estes cidadãos com passaportes tajiques estavam a deslocar-se para a Ucrânia, o que indica que foi o regime de Kiev que ordenou esta atrocidade”.

Popov Sugeriu também que Washington poderia “directa ou indirectamente” organizar este massacre e que os EUA poderiam “definitivamente” financiá-lo, porque

“o terrorismo ucraniano não tem outras fontes de financiamento a não ser os EUA e o Reino Unido”.

 

Chefe de redação da Rossiya Segodnya sobre o ataque à sala de concertos de Moscovo: Isto não é o ISIS.”

A Ucrânia e o Ocidente recorreram a operações de ‘falsa bandeira’ para persuadir toda a gente de que o ISIS estava por detrás do ataque terrorista de sexta-feira, na opinião de Margarita Simonyan, editora-chefe do grupo de comunicação social Rossiya Segodnya.

Sublinhando que os nomes e os rostos dos autores do ataque já são conhecidos das autoridades e que os terroristas revelaram tudo durante os interrogatórios, Simonyan explicou que eles foram escolhidos de forma a permitir que o Ocidente convencesse a comunidade internacional de que o ISIS estava por trás do ataque.

“Tornou-se imediatamente óbvio porque é que os meios de comunicação social dos EUA afirmaram em uníssono que se tratava do ISIS. Um truque básico. Mas Isto não tem nada a ver com o ISIS. Foram os ucranianos. O entusiasmo demonstrado pelos meios de comunicação ocidentais quando tentaram persuadir toda a gente de que o ISIS era o responsável, mesmo antes de terem sido feitas as detenções, denunciou-os completamente.

Simonyan reiterou ainda, implicando – depreende-se – a CIA, o MI6 e o SBU:

“Isto não é o ISIS. Trata-se de uma equipa bem coordenada de várias outras siglas, também amplamente conhecidas”.

 

Scott Ritter: Ataque terrorista em Moscovo não parece ser obra do ISIS.

As tentativas de Washington de atribuir a culpa do ataque terrorista em Moscovo ao ISIS parecem suspeitas, considerando até o comportamento dos perpetradores, segundo o antigo oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, Scott Ritter.

Salientando o facto de os terroristas terem sido detidos quando fugiam em direcção à Ucrânia, Ritter observou:

“As pessoas violentas têm tendência para, em última análise, navegar em direcção ao seu ‘verdadeiro norte’. O que quero dizer com isto é que, por exemplo, uma equipa de forças especiais a operar atrás das linhas inimigas, se for comprometida, tenta regressar a casa, tenta fugir e evadir-se para as linhas amigas. O ISIS é leal à sua versão pervertida da religião, Deus. O seu ‘verdadeiro norte’ é tornarem-se mártires, navegarem para casa, para o céu. Mas não foi isso que estes terroristas fizeram. O seu verdadeiro norte era a Ucrânia, e eles estavam a rumar em direcção à Ucrânia. E isso é tudo o que precisamos de saber sobre isto. Este foi um ataque que está ligado ao conflito em curso na Ucrânia. Quem está por trás desse ataque? Quem são os mentores? Os serviços de segurança russos vão descobrir. Mas quem quer que sejam, residem na Ucrânia”.

A tese de que os serviços secretos ucranianos, em articulação com outros serviços de inteligência ocidentais como a CIA e o MI6 serão os últimos responsáveis pelo atentado é partilhada por muitos outros analistas ocidentais, entre os quais: Larry C. Johnson e Ray McGovern, ex-analistas da CIA; Stanislav Kaprinick, antigo oficial do exército americano; Andrew Napolitano, o prestigiado juiz norte-americano; David Freiheit, o advogado canadiano, polemista do canal Viva Frei, e Alex Christoforou, o analista grego do canal The Duran.

 

Os factos e a posição do ContraCultura.

A cada hora que passa, é mais nítido que o atentado terrorista em Moscovo foi planeado pelos serviços secretos ucranianos e/ou ocidentais, com o claro intuito de deixar a Rússia sem opções que não a guerra com o Ocidente. Eis os factos que dão crédito a esta tese:

#01 – Os terroristas tinham uma base no território ucraniano e foi nessa direcção que tentaram escapar.

#02 – A imprensa corporativa apressou-se a declarar, logo depois do atentado e antes até dos terroristas serem capturados, que a responsabilidade pelo horror seria do ISIS, sendo que esta organização, na actualidade, não tem capacidade operacional para uma operação desta natureza.

#03 – Um dos operacionais envolvidos no acto terrorista que chacinou 143 inocentes em Moscovo diz que a sua motivação foi financeira. Quando é que, em toda a história do terrorismo islâmico, um operacional confessou que agia por dinheiro? Nunca.

#04 – Ao que se sabe, nenhum dos 4 terroristas mencionou sequer o ISIS ou qualquer motivação jihadista. A noticiada reivindicação do movimento radical islâmico, de que terá sido responsável pelo atentado, não constitui prova. O comunicado mostra 4 homens de caras tapadas, não podendo ser assim identificados como os peprpetradores que entretanto foram capturados, e provém de uma facção – o Estado Islâmico de Coraçone – que mantém boas relações com o regime Biden, já que é um dos grupos a quem as forças americanas entregaram o poder, quando retiraram do Afeganistão.

#05 – Os serviços secretos ucranianos têm um longo historial de ataques terroristas em território russo, desde bombardeamentos em áreas residenciais na região de Belgorod até aos assassinatos da cientista política Darya Dugina (filha do filósofo Aleksandr Dugin) e do jornalista Vladlen Tatarsky.

#06 – Depois de resolvido o conflito com a Chechénia, a Rússia desenvolveu relações com o mundo islâmico que são hoje muito mais sólidas e pacíficas do que aquelas que o bloco Ocidental mantém com os países muçulmanos. O Kremlin é, desde o século XX, um adversário geo-estratégico de Israel. Tem defendido a posição palestiniana no conflito de Gaza. Mantém laços estreitos com o Irão, a Síria e o Iraque. Que razão justifica um atentado do ISIS em Moscovo? Absolutamente nenhuma.

#07 – A NATO está neste momento mobilizada no Báltico, a propósito dos “exercícios militares” Steadfast Defender. No caso de qualquer retaliação russa, resultante da conclusão que o bloco ocidental terá responsabilidades no terror do Crocus, a prontidão operacional da Aliança seria significativa.

#08 – Forças militares e serviços secretos europeus e norte-americanos operam em parceira declarada com as forças militares e de inteligência ucranianas, em variadíssimas acções de guerra, tanto nas frentes de batalha como em solo russo.

#09 – O Departamento de Estado Norte-americano tinha conhecimento da probabilidade de um atentado terrorista numa sala de espectáculos moscovita, já que avisou, a 7 de Março, os cidadãos americanos de visita a Moscovo a evitarem este tipo de eventos.

E se o leitor tem dúvidas de que tanto a Ucrânia como o bloco ocidental não se atreveriam, por pudor moral ou cautela estratégica, a um acto desta dimensão abominável, eis uma série de outras evidências ilustrativas desse empenhamento niilista, que em apenas um ano e meio de actividade, o ContraCultura já documentou:

– Kiev está em guerra com Moscovo desde 2014.
– A CIA tem bases instaladas na Ucrânia há mais de uma década.
– Os próprios serviços secretos norte-americanos reconheceram que a Ucrânia foi responsável pelo assassinato de Darya Dugina.
– Um perito das forças especiais americanas testemunhou que a CIA está por trás de acções de sabotagem na Rússia.
– Forças militares dos EUA estiveram envolvidas directa ou indirectamente na destruição do gasoduto Nord Stream.
– A decisão de atacar o Kremlin com drones, na Primavera do ano passado, foi tomada pelos Estados Unidos.
– Uma fuga de informação do Pentágono revelou que os EUA e a NATO têm forças especiais a operar na Ucrânia.
– Os serviços secretos ucranianos tentaram assassinar Tucker Carlson, quando este se deslocou a Moscovo para entrevistar Vladimir Putin.

Em boa verdade, a posição do ContraCultura sobre esta matéria é a de que a Ucrânia está por trás do horror terrorista. E que entidades sinistras como a CIA, o Pentágono e os serviços secretos britânicos estarão também envolvidas no processo. O bloco ocidental esteve empenhado nos últimos meses em vender a ameaça fictícia de que a Rússia tinha a intenção de fazer a guerra na Europa. Esta é, inequivocamente, uma forma de forçar o Kremlin a fazê-la de facto, caso os russos consigam provar que a NATO ou algum dos seus membros está factualmente implicado no massacre de civis inocentes.

 

 

Como já muitas vezes foi nesta publicação afirmado, o projecto distópico dos poderes instituídos só poderá ser implementado sob o pretexto de um estado de emergência, como foi comprovado pelo episódio pandémico e como é todos os dias demonstrado pelo alarmismo climático, propagado com o nítido objectivo de criar a curto prazo condições psicossociais para a implementação de todo o tipo de restrições às liberdades individuais e aos direitos dos povos. As elites sabem que as massas só aceitarão de bom grado o regresso à idade das trevas e o progresso para um sistema totalitário à escala global se foram aterrorizadas com um qualquer apocalipse, e não há mais assustador e efectivo apocalipse que aquele espoletado por um conflito entre potências nucleares.

 
 


 

E não deixa de ser chocante como a imprensa mainstream, que aceitou de forma completamente acrítica que os Estados Unidos invadissem o Iraque e o Afeganistão em reacção ao 11 de Setembro, se mostre agora escandalizada quando os russos – e não só – desconfiam que o ataque infame que sofreram tenha tido origem num inimigo declarado, com a mais que provável cumplicidade dos poderes instituídos, neste caso mais ou menos ocultos, do Ocidente.

Para percebermos, aliás, o ponto extremo, dir-se-ia satânico, a que chega a mentalidade das lideranças políticas na Europa basta reflectir nas palavras, absolutamente vis, do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, ao referir-se aos acontecimento de sexta-feira em Moscovo:

 


 

De qualquer forma, e aconteça o que acontecer, ninguém vai convencer os russos (nem o Contra) de que os ucranianos, pelo menos, não estão envolvidos no planeamento do ataque. Assim sendo, a agressividade da condução da guerra na Ucrânia por parte dos russos só tem tendência para aumentar, mesmo considerando a intensificação da actividade bélica russa registada na última semana, com o Kremlin a admitir que a invasão da Ucrânia já não é uma “operação militar”, mas um acto de guerra total.

A partir de agora, vão começar a morrer muito mais civis ucranianos do que aqueles que pereceram até aqui. O que vai aumentar ainda mais, se possível, as tensões entre a Rússia e o Ocidente.

Os dados estão lançados. Devemos estar preparados para o pior. É agora bem provável que as elites globalistas do Ocidente consigam o armagedão que tanto desejam.