Com uns impressionantes mil biliões de dólares (um trilião, em contas americanas) adicionados à dívida em apenas três meses, e com projecções de que irá atingir uns incompreensíveis 54 mil biliões de dólares dentro de 10 anos, enquanto o pagamento de juros vai a caminho de exceder as despesas com a defesa no próximo ano, a pergunta tem de ser feita: quanto tempo mais pode resistir inteira a bolha da dívida americana?
O que é espantoso, na verdade; quase estranho, até, é que ainda não tenha rebentado.
A situação é de tal forma surrealista que até Jerome Powell, o sinistro presidente da Reserva Federal que supervisionou a maior campanha de impressão de dinheiro da história universal dos crimes económicos e um dos grandes responsáveis técnicos e morais pela onda inflaccionária que empobreceu milhões de pessoas em todo o mundo, está agora a dizer que a dívida é insustentável (é preciso ter lata). Apesar de afirmar que a Reserva Federal “tenta arduamente não comentar a política fiscal”, a sugestão de Powell para lidar com a dívida transfere a culpa e o ónus da impressão de dinheiro para a irresponsabilidade fiscal dos decisores políticos (É preciso não ter vergonha nenhuma na cara).
Embora tenha o seu papel a desempenhar, e é um papel importante, é interessante ver que a política monetária da Reserva Federal não foi mencionada em nenhum dos avisos “urgentes” de Powell sobre o aumento da dívida. Eis um exemplo recente deste tipo de declarações de Powell, que primam pela redundância, tanto como pela hipocrisia:
“A longo prazo, os EUA estão numa trajectória fiscal insustentável. O governo federal dos EUA está numa trajectória fiscal insustentável. E isso significa apenas que a dívida está a crescer mais depressa do que a economia. Portanto, é insustentável. Não creio que isso seja de todo controverso. E penso que sabemos que temos de voltar a uma trajectória fiscal sustentável”.
É de perguntar como é que, mesmo que o governo adoptasse subitamente uma despesa e um orçamento responsáveis, os EUA poderiam estar de volta a um caminho de verdadeira sustentabilidade depois de Powell ter supervisionado a impressão de mais de 3 mil biliões de dólares só em 2020 (!). A Reserva Federal tem legitimidade moral para criticar a “divída insustentável” como o regime Biden para criticar o despesismo do governo federal.
Mas, como de costume, a mafiosa instituição público-privada que Powell dirige só dispõe de um verdadeiro instrumento na sua caixa de ferramentas: mexer nas taxas de juro directamente para estimular ou desincentivar a contracção de empréstimos, ou indirectamente, accionando a impressora de dinheiro. As reduções de taxas previstas para o final do ano reduzirão o peso dos pagamentos de juros sobre o crescimento da dívida, mas simultaneamente inundarão a economia com dinheiro recém-criado. As pessoas, já sobre-endividadas e a utilizar cartões de crédito para necessidades básicas, tirarão partido de um custo de crédito mais baixo e contrairão mais empréstimos para despesas e bens que não podem realmente pagar.
Mais empréstimos e mais depósitos aumentarão a oferta de dinheiro num saturado ambiente inflacionista, aumentando a pressão sobre uma panela que já corre o risco de explodir devido à impressão de dinheiro durante a Covid. Apesar de também terem sido deveras castigadoras para a classe média, e para as dívidas soberanas de países muito endividados como os EUA (e Portugal), as subidas das taxas de juro pós-pandémica não chegaram sequer perto de inverter este curso, com os juros ainda muito mais baixos do que seriam num verdadeiro mercado livre, onde algumas dezenas de burocratas já não estariam a puxar as alavancas.
O endividamento excessivo torna os títulos do Tesouro dos EUA menos atractivos, à medida que começam a surgir dúvidas sobre a capacidade do governo federal liquidar as suas obrigações, dúvidas que diminuem ainda mais a procura da dívida americana e alimentam novos desafios ao financiamento do estado.
Tudo isto levou a Fitch e a Moody’s a baixar a notação de crédito dos EUA no ano passado, de “AAA” para “AA+” no caso da Fitch e, no caso da Moody’s, de “estável” para “negativa”. As subidas das taxas de juro da Fed sem um plano de redução das despesas ou de aumento das receitas não deixam qualquer esperança de reduzir significativamente os défices orçamentais.
Com este novo sentido de urgência, os legisladores do Idaho e do Wyoming apelaram a uma convenção de estados para resolver o problema, com as resoluções do Idaho a apelarem a uma possível emenda constitucional que limite as capacidades de despesa e o poder global do governo federal. A Resolução Concorrente 112 do Senado do Idaho, ou SCR 112, faz esta sensata e tripartida proposta, que os poderes instituídos em Washington vão certamente ignorar:
“(1) impor restrições fiscais ao governo federal; (2) limitar o poder e a jurisdição do governo federal; e (3) limitar os mandatos dos seus funcionários e dos membros do Congresso.”
Resta saber se alguma solução existe, neste momento, para colocar os EUA de novo numa trajectória económica genuinamente sustentável, para além de um colapso do dólar americano que levasse a uma reinicialização monetária total. Mas enquanto a Reserva Federal existir, a probabilidade de controlar verdadeiramente a dívida não passa de uma quimera.
Com os recentes máximos históricos do ouro e da bitcoin, em resposta à desvalorização da dívida americana, e com os bancos centrais envolvidos numa onda de aquisição de valores alternativos, que provavelmente durará anos, a mensagem é clara: o sistema bancário sabe que a inflação está longe de ter acabado.
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