Com mais de 40 eleições marcadas para os Estados Unidos, Reino Unido e uma série de outras nações em 2024, o Bloomberg, um gigante dos media corporativos dos EUA, questiona se convidar cidadãos comuns a votar em governos representativos serve realmente a “democracia”.

Num artigo de Tobin Harshaw, editor de opinião do Bloomberg, que anteriormente editou a secção de opinião do The New York Times, os leitores são assim avisados:

“2024 é o ano das eleições e isso é uma ameaça à democracia”.

No seu texto, que se fosse mais orwelliano rebentava, Harshaw observa:

“41% da população mundial vai ter eleições importantes este ano. Viva a democracia! Viva a democracia? Nem por isso”.

O autor argumenta que, pelo facto de as pessoas poderem exercer o seu direito democrático de votar em “partidos populistas extremistas – maioritariamente de direita”, as eleições não são boas para a democracia.

As eleições só são boas para a democracia quando os eleitores votam nos partidos que Harshaw aprova. Caso contrário, o processo eleitoral é nefasto.

Mais à frente, o génio da Bloomberg cita os escritores John Micklethwait e Adrian Wooldridge que estimam que o “mundo liberal” está condenado a desaparecer:

“As probabilidades de tudo correr bem – alguém que não Trump ganhar a presidência dos EUA; o Reino Unido recuperar o juízo [e reverter o Brexit]; a China ser dissuadida de invadir a sua ‘província desonesta’; o Médio Oriente encontrar a paz; e as ditaduras caírem a torto e a direito têm dez por cento de hipóteses de prevalecer. Caramba!”

Não se percebe como é que Harshaw consegue sonhar com o fim das ditaduras quando escreve contra o livre arbítrio das urnas. A ginástica mental necessária à redacção de semelhante parágrafo transcende a imaginação do Contra.

De facto, em 2024 Donald Trump poderá voltar a ser o Presidente eleito, e como o Contra já documentou, os partidos conservadores e populistas no Ocidente poderão aumentar a sua presença no Parlamento Europeu e nalguns países da União Europeia, dado o descontentamento com a migração em massa. Mas o histerismo fascista de Tobin Harshaw dificilmente se justifica. Salvaguardando a hipótese Trump, ou a mais ou menos remota eventualidade de um processo de secessão na Bélgica, o poder continuará maioritariamente centrado nas elites neo-liberais.

Em 2024, realizar-se-ão também eleições na Rússia – mas não na Ucrânia, uma vez que Volodymyr Zelensky as suspendeu – e em Taiwan, onde a vitória do Partido Democrático Progressista poderá aumentar as hipóteses de uma invasão chinesa.