Nos Estados Unidos o Congresso encontrou rara concórdia bipartidária para legislar sobre o TikTok. Mas não por boas razões, até porque o uníssono na política contemporânea nunca acontece por boas razões.

De facto, democratas e republicanos não estão a convergir para contrariar a depravação gráfica e moral que prospera nesta pocilga digital. A intenção não é impedir que os jovens americanos deixem de ser envenenados pelo inimigo, já que é o Partido Comunista Chinês que controla a infame rede social. Nem sequer a de procurar incentivar conteúdos mais dignificantes e elevados como, por ironia, os que podemos encontrar na comunidade chinesa do TikTok.

Os legisladores do Congresso não estão interessados em impedir que a potência rival use a sua terrível e insidiosa máquina para espiar e desorientar e desmoralizar e corromper os americanos. Nem têm qualquer problema com o facto da rede estar infectada por apparatchiks radicais que forçam abstrusas ideologias de género e de raça em crianças, que distribuem aos adolescentes quantidades brutais de softporn, propaganda marxista, ódio aos valores constitucionais e ao legado histórico do seu próprio país e vergonha e culpa por serem quem são.

Não. O santo objectivo dos congressistas unidos em sagrada comunhão de valores é, claro, o de obliterar e penalizar a livre expressão. A iniciativa apresenta-se mediaticamente como uma lei para “banir o TikTok” mas é, cumprindo as normas da nomenclatura e da propaganda contemporâneas em que tudo o que é dito significa o seu oposto, apenas uma manobra de censura e normalização mediática, através de transferências de poder inauditas para as agências governamentais.

Nem outra coisa seria de esperar, quando há congressistas democratas e “republicanos só em nome” envolvidos no processo. Até porque, creditando a CNN, “banir o Tik Tok”, ou tão somente criticar os seus obscenos conteúdos, será um sintoma flagrante de supremacia branca.

Como muito bem afirma Tucker, este não é um esforço das elites políticas para contrariar os interesses da China totalitária, mas um movimento para que os Estados Unidos adoptem os comportamentos totalitários da China.

 

 

Portanto: uma vez que o draconiano projecto lei seja aprovado, um cidadão americano pode apanhar até 20 anos de prisão por argumentar em favor de Vladimir Putin nesta rede social. E quem é que define o crime de opinião? Quem é que decide que género de discurso é punido? Burocratas não eleitos ao serviço das elites.

E depois de serem bem sucedidos com esta manobra, o que impede os legisladores de aplicarem a mesmíssima lógica às big tech nativas? Nada. Deve ser até esse o objectivo último deste processo. 20 anos de prisão para quem criticar a política da Casa Branca em relação à Ucrânia, no Facebook; 10 anos de prisão para quem negar a verdade religiosa de que os homens podem engravidar, no Instagram; 15 para quem associar excessos de mortalidade às vacinas Covid, no Youtube; multas para toda a gente que não tenha bandeirinha ucraniana no perfil do Twitter; pena suspensa, com serviço de reeducação mandatório, para quem contrariar a cartilha Black Lives Matter, no Linked-In; e assim sucessivamente.

Tudo o resto, o lixo aberrante com que o algoritmo chinês envenena as sociedades ocidentais, pode continuar a correr à vontade. E quanto pior, melhor. A alienação das massas interactua com a sua subordinação às narrativas oficiais, optimizando o processo totalitário. Está nas sebentas de Goebbels.

Num país fundado na convicção de que não pode haver tributação sem representação, são estes os “representantes” do povo americano. Que interesses concretos dos seus eleitores “representam” eles, exactamente?