No universo alternativo em que vive a rapaziada da redacção do Observador, os russos estão a perder a guerra desde que a começaram. E sem munições desde 1945. E sem armas desde que se enfiaram no Afeganistão. Enquanto o Kremlin comanda um exército de amadores que usam pás, pedras e paus com surpreendente eficácia, considerando o número de soldados ucranianos que entretanto mataram à traulitada, Vladimir Putin já morreu de cancro três vezes.

 

 

Neste mundo sobrenatural, habitat de toda a ficção a que hoje ainda há quem chame jornalismo, Zelensky estará confortavelmente instalado no Kremlin já no próximo Verão, senhor de todas as estepes a leste do Bairro Alto, depois de uma guerra termo-nuclear ter extinto, sem impactos ambientais nem erros de precisão, apenas os efectivos das forças armadas russas, os quadros do aparelho burocrático de Moscovo e um ou outro degenerado que tenha dúvidas sobre as virtudes da democracia ucraniana, a urgência existencial levantada pelas alterações climáticas ou a verdade científica das identidades de género.

É natural que gente que nunca leu um livro de História na vida, ou um romance de Tolstoi, se sinta bem a escrever novelas de ficção científica. O desamor dos factos, as incoerências de visão e de filosofia, os delírios ideológicos e os excessos da imaginação, próprios deste género literário quando levado ao baixo critério do cordel, constituem um apelo incontornável para apparatchiks ignorantes e activistas em desespero de causa.

Apesar de constantemente reportarem que os bombardeamentos sobre a Ucrânia matam inocentes com fartura, os escribas tontos deste blog glorificado informam concomitantemente a sua audiência que a artilharia russa não tem bombas. No Contra, não fazemos ideia sobre o género de cogumelos que são consumidos pelos millenials vegetarianos que lá trabalham, mas não é de excluir a hipótese da alucinação colectiva.

É assim aconselhável escaparmos rapidamente à twilight zone do Observador, e seguirmos, por exemplo, Bruno de Carvalho, um jornalista independente português que está lá, onde a guerra se trava. Para ficamos não só um bocadinho mais conscientes da realidade factual, como percebemos o ponto de degradação ética e psíquica a que chegou a imprensa mainstream.

 

 

Ninguém pode em boa verdade dar como ganha esta guerra, seja para que lado for. Há até a trágica hipótese de acabarmos por mergulhar num conflito global, sem vencedores. Mas pensar – e noticiar – que a Rússia combate na Ucrânia uma guerra improvisada, sem orientação estratégica nem apoio logístico e tecnológico, ou que as suas forças militares estão deficientemente armadas ao ponto de combaterem com “pistolas e pás” é, tão só, papaguear propaganda. Muito má propaganda, ainda por cima.