Um caso bem ilustrativo de que as pessoas se aperceberam tarde demais do avanço dos movimentos tirânicos no Ocidente é o do canadiano David Freiheit. Este senhor advogado tem um canal no Youtube, o Viva Frei, que na maior parte do seu ciclo de vida se assumiu como um canal não político e não ideológico, dedicado apenas à discussão dos casos mais mediáticos da esfera judicial no continente norte-americano.
David Freiheit foi, durante 90% do seu percurso existencial, e mesmo que evitando sempre a política, um típico liberal, no sentido clássico do termo. Nos últimos dois ou três anos, porém, percebeu que o seu país já não era bem o paraíso humanista e libertário em que ele sempre pensou que vivia. Percebeu que não valia a pena ter um canal dedicado à mecânica judicial quando o Canadá já não era um estado de direito. Percebeu que, se calhar, até tinha que concorrer a um cargo público, como conservador, porque as coisas estavam a chegar a um limite para lá do qual é difícil acreditar que se vive numa república federal de princípios democráticos.
Nas últimas eleições legislativas, as primeiras a que o advogado se candidatou, o resultado foi desastroso (para ele e para o partido que representava). Logo depois, quando quis ir jogar bowling com a família, foi sujeito às normas nazis que vigoraram durante a pandemia neste infernal perímetro: ou mostras os papéis que provam que és vacinado ou não tens sequer direito a jogar bowling.
Confrontado com a sua miserável condição de cidadão subjugado, tem mostrado alguma indignação. Que é fútil. E que, na verdade decorre, mesmo que apenas na pequena parte que preenche o volume total da triste realidade canadiana, dos seus próprios, tardios e, por isso, irrelevantes actos.
David Freiheit é um tipo simpático, razoavelmente inteligente e muito bem intencionado e tudo o mais. Mas não se apercebeu a bom tempo, como milhões de pessoas simpáticas, inteligentes e bem intencionadas no Ocidente, que o Ocidente já foi. Ou melhor, apercebeu-se quando já não havia nada a fazer. Quando as eleições são condicionadas pelo medo, da mesma forma que as admissões nos salões de bowling. Quando os poderes instituídos já solidificaram a ditadura, em todas as dimensões da vida pública, inclusivamente a securitária, inclusivamente a psicológica. Quando são até, muito ao gosto visionário de Mao Zedong, os cidadãos que contribuem decisiva e entusiasticamente para o processo totalitário em curso.
Pobre David Freiheit. Por muito que agora proteste, como no vídeo que gravou no dia em que foi banido do salão de bowling, o seu manifesto já de nada vale. Acordou tarde demais. Acreditou nos fundamentos liberais do seu desgraçado país durante demasiado tempo. Foi ingénuo até à insustentabilidade. Permitiu que o Canadá fosse tomado por Trudeau e por agentes satânicos como Trudeau. Está completamente entregue à bicharada.
E como ele, todos nós.
Relacionados
19 Nov 24
Distopia do Reino Unido: Polícia investiga jornalista do Telegraph por causa de um tweet publicado há um ano.
Em mais um episódio distópico, a jornalista do The Telegraph Allison Pearson revelou que agentes da polícia britânica visitaram a sua casa no Domingo, intimidando-a a propósito de um tweet que tinha publicado há um ano atrás.
18 Nov 24
O suicídio da Castanha de Neve.
Não satisfeita com o cenário negro que o remake de Branca de Neve já tinha que enfrentar, Rachel Zegler selou aqui há uns dias o destino do filme com uma mensagem em que deseja que os eleitores de Trump nunca tenham paz nas suas vidas.
15 Nov 24
Audiências em queda livre: CNN vai despedir os seus melhores ‘talentos’, MSNBC está à venda a preço de saldos.
No rescaldo da eleição de Donald J. Trump, estações noticiosas onde a verdade vai para morrer como a CNN e a MSNBC estão agora a atravessar um momento de agonia, com audiências de canais de televendas. Deus é grande e tem insónias.
12 Nov 24
Robert Fico: Jornalistas são “bastardos sedentos de sangue.”
O primeiro-ministro eslovaco parece ser um dos poucos políticos na Europa que trata os comissários da imprensa corporativa com a gentileza que eles merecem. Até porque lhes atribui uma boa parte da responsabilidade pelo tiro que lhe perfurou o estômago, em Maio passado.
12 Nov 24
The Guardian oferece apoio psicológico aos funcionários após o triunfo eleitoral “muito perturbador” de Trump.
Após a vitória eleitoral de Trump, o The Guardian está a oferecer serviços de apoio psicológico aos seus comissários. Mas Trump dificilmente será responsável pelas patologias que infestam a redacção do pasquim britânico, diagnosticáveis muito antes de ele ter chegado à política.
11 Nov 24
“Resistência”: Imprensa corporativa e extrema-esquerda reagem à vitória de Trump com apelos à violência.
A extrema-esquerda americana, o establishment de Washington e os seus servos da imprensa corporativa estão a preparar-se para contrariar o resultados das urnas, e não excluem de todo a 'resistência' violenta.