Joe Biden está a destronar o dólar do seu reinado de oito décadas em tempo real. O domínio financeiro da moeda americana está a chegar ao fim do seu ciclo por uma combinação única de políticas desastrosas, e as consequências da perda de estatuto do dólar como moeda de reserva mundial são de carácter apocalíptico para os EUA, mas também para o Ocidente.
Apenas nas últimas semanas, a China realizou a primeira grande venda de gás natural em iuanes em vez de dólares, concretizou um importante acordo com o Brasil para que o comércio entres as duas nações sejam sempre conduzido no âmbito das suas próprias moedas, e acabou de anunciar a venda de 65.000 toneladas de gás natural à França, também a ser efectivado em iuanes. Tudo isto resulta das políticas inflacionistas da administração Biden, da perda de influência internacional dos EUA, e das sanções impostas à Rússia, que aceleraram o abandono do dólar no preciso momento em que o mundo duvida se a moeda americana continua a ser uma reserva segura e fiável.
Desde o acordo de Bretton Woods em 1944 e o acordo do petrodólar de 1945, o dólar tem gozado de um estatuto preeminente em todo o mundo, especialmente para o comércio e câmbio internacional. Isto criou uma enorme procura de dólares no estrangeiro e permitiu aos EUA exportar a inflação, gastar para além das suas possibilidades e deixar que os outros sofram as consequências da sua própria irresponsabilidade fiduciária.
Como a Reserva Federal imprimiu milhares de milhões para o governo gastar na década de 1960, ameaçou as reservas de ouro dos EUA. Na altura, todas as principais moedas eram resgatáveis por dólares, e os dólares eram resgatáveis por ouro. Quando a política de “armas e manteiga” levou a uma corrida ao ouro, o Presidente Nixon pôs fim ao padrão cambial dólar-ouro com o que era suposto ser uma medida temporária.
Evidentemente, era tão temporária como a inflação “transitória” de hoje.
O fim da ligação do dólar ao ouro libertou a Reserva Federal americana para criar ainda mais dinheiro e ainda mais inflação. Embora tenha abrandado no início da década de 1980, regressou agora em força. A inflação elevada de quatro décadas minou a estabilidade do dólar, uma das características necessárias à credibilidade de uma moeda de reserva internacional.
Uma segunda característica crítica da moeda de reserva é a sua natureza apolítica. Que Biden está agora a eviscerar. Depois de democratas e republicanos terem destruído a estabilidade do dólar com impressão desmesurada de moeda, a administração Biden subiu a parada e optou por usar a moeda como uma arma de arremesso. A mensagem para o mundo é óbvia: sair do esquema enquanto é tempo.
Em resposta à guerra da Rússia com a Ucrânia, os EUA congelaram as reservas em dólares do banco central da Rússia. Para ser claro, estes não eram activos americanos: eram dólares pertencentes ao banco central russo e ao povo russo. A apreensão destinava-se a provocar a corrida aos bancos e o colapso do sistema de crédito na Rússia. A iniciativa bandida não funcionou de todo. Em vez disso, expôs a vontade da administração Biden de se apropriar da riqueza alheia. O perigo deste precedente é difícil de exagerar.
Todas as nações do mundo devem agora interrogar-se se o regime Biden, ou outra administração americana qualquer, também ameaçará os seus bens em dólares se fizerem algo que desagrade aos poderes instituídos em Washington. Talvez um país estrangeiro discorde de Biden em relação aos mandatos energéticos “verdes”, ou às aberrantes políticas transgénero, ou às suicidárias quotas de diversidade. Existe algum limiar de consciência ética que impeça o seu tesouro nacional de ser drenado sem aviso prévio?
Eis a definição de um tiro no pé. A administração Biden atravessou o Rubicão quando politizou e militarizou a moeda, numa altura em que as economias ocidentais já se encontravam a braços com uma inflação de quatro décadas e dívidas soberanas recordistas.
Isto deu à China todas as munições de que necessita para lançar uma ofensiva mundial para substituir o dólar. Está agora a fazer rápidos progressos.
Mas se a situação continuar a evoluir no sentido em que está a evoluir, o que será dos triliões de dólares acumulados em todo o mundo desde 1944?
Quando já ninguém quiser fazer negócios em dólares, se os bancos centrais recusarem constituir reservas em dólares, se os fundos da riqueza privada já não forem alimentados por dólares, todos esses dólares não têm para onde ir senão de volta aos EUA, numa inédita e catastrófica inundação fiduciária. Essa surrealista abundância de moeda irá competir por bens e serviços apenas na América contra os dólares que já lá existem, à medida que décadas de défices comerciais acumulados regressam para um abrupto ajuste de contas.
Nessa altura, a hiper-inflação não será uma hipérbole.
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