Entre a comicidade e o dramatismo, sucedem-se todos os anos e com uma intensidade exponencial, os episódios de combate às tradições do Natal. Os presépios passam a manifestações da arte popular ou desaparecem por completo, as árvores de natal são árvores das festividades (de Christmas tree para Hollidays Tree), os cânticos religiosos são substituídos por corais seculares, os jingles natalícios são censurados, proibidos ou reescritos e a mais pequena referência ao verdadeiro e original evento que o Natal celebra – o nascimento de Jesus Cristo – é inapropriada e pressurosamente vilipendiada ou esquecida.
No Nebraska, o Natal é inapropriado.
Há exemplos vindos de todo o lado, a toda a hora, mas começamos por destacar este, que diverte e assusta ao mesmo tempo, o da directora do liceu público de Elkhorn, no Nebraska. Verdadeira missionária do fascismo anti-cristão que é o novo normal do Ocidente, Jennifer Sinclair enviou um memorando a todos os funcionários da escola com uma lista de práticas natalícias aceitáveis e inaceitáveis.
Entre as aceitáveis estão actividades que se relacionam com pinguins, bonecos de gengibre, bonecos de neve, chocolate quente, festejos multiculturais e prendas, entre outras deste nível de ridículo, que a professora considera apropriadas. É de notar que algumas têm fundamento pagão (os bonecos de gengibre, por exemplo), portanto religioso, mas desde que não sejam cristãos, servem.
Na lista das práticas inaceitáveis, encontramos a realização de materiais artísticos ou comunicacionais com pais natal, árvores de natal, elfos ou renas; a difusão ou interpretação de cânticos e músicas de Natal; a presença de árvores de Natal nas salas de aula; a oferta de livros com histórias de Natal, a exibição de filmes baseados na época festiva, o consumo de barras de rebuçado em forma de J (candy canes) e, cereja em cima do bolo, a utilização das cores vermelha e verde (!).
Não se consegue perceber como é que chegámos a este ponto. Não se consegue perceber como uma civilização que encontra os seus fundamentos na tradição judaico-cristã, uma civilização que, muito graças a esses fundamentos, é a mais bem sucedida da história da humanidade, a que mais fácil e recorrentemente garantiu progresso, prosperidade, segurança, liberdade e justiça aos seus cidadãos, a que primeiro aboliu a escravatura e separou o estado da igreja, a que inventou e propagou o Direito e a norma constitucional, a que fundou cânones de referência para as artes plásticas, a literatura, a música; não se consegue perceber como é que esta civilização se suicida todos os dias, assim, parvamente.
Esta gente ignorante e selvática que quer substituir S. Nicolau por um boneco de neve e Jesus por um pinguim, pretende obter, na redução da narrativa cristã ao zero absoluto, exactamente o quê? O inferno de viver sem valores. Porque é no inferno que está a última revolução de todas, a que vai transformar o mundo num imenso, num eterno, programa quinquenal estalinista.
Um Natal woke.
Eis o tema que vai dominar o Natal: a diversidade! É o Pai Natal que diz: se fores branco e a tua mulher também, vocês são racistas. Se fores branca e os teus filhos também, toda a família é racista. O Natal perfeito é interseccional, inter-étnico, pan-sexual, ambientalista e globalista por natureza. A família perfeita tem que ser de todas as cores e incluir pelo menos um activista LGBT. O próprio Nicolau é metade porto-riquenho, metade aborígene. As renas são mulatas. Os elfos são crioulos. Os reis magos são transexuais e o menino Jesus, como toda a gente sabe, tinha os olhos em bico.
O que preocupa o Público?
Aqui há uns tempos, o jornal Público presenteou a sua ilustre audiência com um artigo propedêutico que se propõe estabelecer um manual de normas para falar do Natal às “crianças ateias e de outras religiões”. Este assunto preocupa o Público. Para o público é de pedagógica importância sabermos explicar muito bem às crianças ateias e de outras religiões o que é isto do Natal. Mais: é pertinente sabermos muito bem como é que os pais dessas crianças lhes explicam o evento.
Seria bom, embora isto escape às prioridades ecuménicas do Público, que soubéssemos explicar o Natal às crianças cristãs, antes de nos dedicarmos a explicá-lo às outras crianças.
E seria óptimo que a jornalista Bárbara Wong, que assina esta didáctica peça, percebesse que um ateu pode ser, e no mundo ocidental geralmente é, concomitantemente um cristão. Para se ser cristão não é preciso acreditar em Deus. É preciso acreditar num sistema de valores que se enquadram essencialmente no pensamento de três valentes: Platão, Cristo e Kant.
O Público preocupa-se com este género de coisas, que é para não se preocupar com as coisas que são realmente importantes. É muito mais fácil – e mais barato, claro – deixar essas coisas realmente importantes para outros malucos. Afinal, o Público não edita para mudar o mundo. O Público edita para não dar assim tanto prejuízo como isso.
O presépio do Vaticano como obra ao negro.
Tudo é de esperar do Papa ateu que neste mundo ao contrário conduz a fé dos crentes, mas o presépio do Vaticano de 2020 será talvez um apogeu da guerra ao Natal. A figuração deriva mais do imaginário da Guerra das Estrelas do que da natividade. As peças são, para além de obscenas, completamente destituídas de algo que possa evocar o sagrado.
Há aqui qualquer coisa de profundamente errado, dir-se-ia até de satânico. Como é que esta galeria de horrores celebra o nascimento de Cristo?
E que cardeal no seu perfeito juízo consideraria adequada esta linguagem plástica para o presépio dos presépios, que é aquele que o Vaticano tem a responsabilidade de oferecer aos seus fiéis?
Há fenómenos que é melhor nem tentar compreender, sob o risco de nos afundarmos em teorias dantescas, que também não contribuem nada para a vivência da quadra natalícia.
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