Para os estudantes de propaganda, controlo da mente, coerção emocional e outras técnicas de manipulação insidiosa, o Novo Normal tem constituído um imenso manancial de casos de estudo. Nunca até aqui pudemos observar a aplicação e os efeitos destas poderosas tecnologias em tempo real, numa escala assim desmesurada.
Em pouco mais de dois anos e meio, a “realidade” colectiva foi radicalmente revista. A psique das sociedades foi completamente reestruturada, milhões (provavelmente milhares de milhões) de pessoas forma sistematicamente condicionadas a acreditar numa variedade de afirmações manifestamente ridículas, baseadas em evidências nenhumas, repetidamente refutadas por provas amplamente disponíveis, mas que no entanto atingiram o estatuto de factos. Toda uma história fictícia tem sido escrita com base nessas afirmações infundadas e abstrusas, que não serão fácil ou rapidamente anuladas.
Este texto não vai desperdiçar caracteres a desmascarar essas afirmações. Muitas delas têm sido exaustivamente desmascaradas, também aqui no ContraCultura. Mas são aos milhares. E há dezenas a rebentar todos os dias, sob os mais diversos assuntos, da guerra na Ucrânia, às vacinas Covid, do revisionismo histórico às ciências climáticas, das “ameaças à democracia” ao progressismo LGBT.
Em vez disso, vamos apontar o foco para um tecnologia particularmente eficaz de controlo da mente, que tem feito muito do trabalho pesado necessário à cristalização do Novo Normal. Isto porque muitas pessoas acreditam erradamente que o controlo da mente é uma “teoria da conspiração” ou algo que só pode ser conseguido com drogas, micro-ondas, cirurgia, tortura, ou algum outro meio físico invasivo. Claro que existe uma vasta e bem documentada história de utilização de tais técnicas (ver, por exemplo, a história do infame programa MK-Ultra, da CIA), mas em muitos casos o controlo da mente pode ser alcançado através de metodologias muito menos elaboradas.
Uma das técnicas mais básicas e eficazes que os cultos, os sociopatas e os sistemas totalitários utilizam para desorientar e controlar a mente das pessoas é o gaslighting. O termo não é traduzível para português, mas como definição esta serve:
A manipulação psicológica das pessoas para que duvidem das suas percepções, experiências, ou compreensão dos acontecimentos.
Esta forma insidiosa de manipulação e controlo psicológico, em que as vítimas são deliberada e sistematicamente alimentadas com informações falsas que as levam a questionar o que sabem ser verdade, muitas vezes sobre si próprias, pode levar os indivíduos a duvidar da sua memória, da sua percepção, e até da sua sanidade.
Qualquer pessoa que já tenha experimentado o gaslighting no contexto de uma relação abusiva, ou de um culto, ou de um sistema totalitário, ou que tenha trabalhado com mulheres vítimas de violência doméstica, pode testemunhas sobre o poder destrutivo do processo. Nos casos mais extremos, as pessoas são totalmente despojadas do sentido de si e entregam completamente a autonomia individual.
A peça teatral “Gas Light”, de 1938, e as suas adaptações para o cinema, realizadas em 1940 e 1944, deram origem ao termo por causa da manipulação psicológica sistemática utilizada pelo personagem principal contra a sua vítima. O enredo conta a história de um homem que tenta convencer sua mulher e outras pessoas de que ela é louca, corrompendo pequenos detalhes do seu mundo e, posteriormente, insistindo que ela está errada ou que se lembra das coisas incorretamente. O título original decorre do escurecimento das luzes alimentadas por gás na casa do casal, que acontece quando o vilão usa as luzes no sótão, enquanto procura um tesouro escondido. A mulher apercebe-se dessa redução na intensidade das luzes e discute o fenómeno, mas o marido insiste que as alterações na iluminação são produto da imaginação dela. O termo gaslighting é assim utilizado desde 1960 para descrever a manipulação do sentido de realidade de alguém.
Desde a Primavera de 2020, temos sido submetidos a alterações na intensidade da “iluminação a gás” a uma escala sem precedentes. De certa forma, a “Pandemia Apocalíptica” foi uma campanha de gaslighting infligida às massas em todo o mundo. Os acontecimentos desta última semana foram apenas mais um exemplo.
Basicamente, o que aconteceu foi que um executivo da Pfizer confirmou ao Parlamento Europeu que a farmacêutica não sabia se a sua “vacina” Covid impedia a transmissão do vírus antes de ser promovida como fazendo exactamente isso e por isso forçada às massas. As pessoas viram o vídeo do executivo a admitir isto e ficaram zangadas. Publicaram vídeos do CEO da Pfizer, Albert Bourla, de Bill Gates, do Director do CDC, de propagandistas oficiais da imprensa e de vários outros “especialistas” e “autoridades” que mentiram descaradamente ao público, prometendo às pessoas que ao serem vacinadas iriam travar a transmissão do vírus, proteger outras pessoas da infecção e etc. As afirmações totalmente infundadas foram a justificação para a sistemática segregação e perseguição dos não vacinados, e o fomento do ódio fanático em massa a qualquer pessoa que desafiasse a narrativa oficial da “vacina” e a ideologia do Novo Normal, sendo que esse ódio persiste ainda nos dias de hoje.
O aparelho de propaganda do Novo Normal (ou seja, os meios de comunicação social corporativos, os “especialistas” em saúde, os políticos e burocratas dos aparelhos de estado, etc.) responderam à história de forma previsível: ignoraram-na, na esperança de que desaparecesse. Quando isso não aconteceu, atiçaram os “verificadores de factos”, uma das mais agressivas brigadas de gaslighting de que dispõem.
A Associated Press, a Reuters, a PolitiFact e outros equipamentos oficiais de “iluminação a gás” publicaram imediatamente longos relatórios que fariam corar um sofista. São exemplos perfeitos do fenómeno em causa, criados para distrair e iludir os cidadãos e desviar-lhes a atenção para uma discussão sobre detalhes e definições sem sentido. Soam exactamente como os negadores do Holocausto, afirmando pateticamente que não há prova escrita de que Hitler tenha ordenado a Solução Final… Claro que Hitler ordenou a Solução Final, e claro que as “autoridades”, as farmacêuticas e a imprensa mentiram e mentem sobre as “vacinas”. Com quantos dentes têm.
A Web está a abarrotar de provas das suas mentiras e só quem não quer saber – ou quem está completamente condicionado – é que não percebe a fraude gigantesca e aberrante. E é isso que torna o gaslighting tão frustrante para as pessoas que acreditam estar envolvidas numa verdadeira discussão de boa fé sobre os factos. Apesar da verdade estar à vista de toda a gente, há muitos que se recusam a aceitá-la. Só que a lógica dos sistemas totalitários transcende o que é verdadeiro ou falso. As vítimas de gaslighting, quando repetem os slogans propagandistas que as “autoridades” lhes impingiram (“acreditem na Ciência”, por exemplo) não poderiam importar-se menos com a validade dessas afirmações ou se estas fazem sequer o mínimo sentido.
Estes slogans, como a sua sustentação por “verificação de factos”, não têm por objectivo convencer as massas de que algo é verdadeiro ou falso. São guiões oficiais, talking points e clichés de repetição para alimento dos gaseados, como os cultistas que cantam mantras para desligar a mente dos seus acólitos e bloquear qualquer iniciativa de contradição que ameace a “realidade” do culto.
E assim sendo, podemos bombardear os gaseados com factos sólidos e concretos, que eles negá-los-ão com um trejeito paternalista, sobranceiro e condescendente de quem quase tem pena daqueles que escaparam à hipnose.
Mas eis o que é ainda mais preocupante sobre o gaslighting: para se poder efectivamente gasear alguém, é preciso estar numa posição de autoridade ou exercer alguma outra forma de poder sobre a vítima. O agente da manipulação precisa de controlar algo que é vital para quem é manipulado (isto é, segurança física ou financeira, acesso social, progressão na carreira, correspondência passional, etc.). Não se pode caminhar até um estranho qualquer na rua e começar a dar-lhes gás. As hipótese de sucesso são nesse caso muito reduzidas.
A razão pela qual as autoridades do Novo Normal têm sido capazes de gasear as massas de forma tão eficaz é que a maioria das pessoas está dependente delas. Emprego, comida, abrigo, dinheiro, segurança, estatuto, aceitação social, ou o que quer que seja que não estejam dispostos a arriscar desafiando os que estão no poder e as suas mentiras. Os manipuladores, sejam líderes de seitas ou aberrantes detentores do poder político e económico, sabem disto e utilizam esses motores de chantagem como candeeiros a gás.
O gaslighting não funcionará se estivermos dispostos a desistir do poder que os agentes manipuladores detêm sobre nós. Mas temos mesmo que estar dispostos a isso, porque seremos punidos por nos defendermos, por não abdicarmos da nossa autonomia e integridade, e por não nos conformarmos com a doutrina do culto, ou da relação abusiva, ou do sistema totalitário.
O Novo Normal (ou seja, a nossa nova “realidade”) é resultado de um totalitarismo patológico, como um culto desenvolvido à escala global. A analogia é válida porque a única diferença entre o culto e a tirania é que no caso desta última o equilíbrio de poder é completamente invertido. O culto é marginal por definição enquanto o pensamento totalitário torna-se dominante na sociedade (isto é, “normal”), e os que o recusam são acusados de comportamentos desviantes.
Acontece que o comportamento desviante, no contexto de um regime totalitário, será sempre virtuoso e é, historicamente, reconhecido como tal. Por isso, a dissidência contemporânea não é certamente motivo de vergonha ou embaraço e muito menos razão para a auto-censura.
Estamos a caminhar para o terceiro Inverno do Novo Normal. A propaganda oficial já está a forçar de novo as vacinas e as máscaras, a forjar mortalidades Covid, a ignorar os excessos de mortalidade não Covid e a fomentar o ódio aos “não vacinados”. As contas da energia duplicam e triplicam. As classes dirigentes globalistas e capitalistas-corporativas estão a abraçar abertamente os neonazis ucranianos. Fala-se de guerra nuclear “limitada”. O fanatismo, o medo e o ódio circulam como faíscas num arsenal. O gaslighting não está a abrandar. Está a aumentar. A supressão da dissidência está a intensificar-se. A demonização da não-conformidade está em alta. Mas este não é o momento de ceder à hipnose.
Platão escreveu na República:
“Perdoamos facilmente uma criança que tem medo do escuro. A verdadeira tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”
Este é o momento da história em que devemos ser fieis à luz da verdade. Mesmo que nos encandeie. Mesmo que doa na sensibilidade. Mesmo que sejamos amaldiçoados e marginalizados e difamados e vilipendiados pela ousadia. Alguém tem que manter a sanidade para que a civilização seja viável no futuro. E em nome desse legado, os sacrifícios que fazemos encontrarão sempre grata justificação. Quer tenham os nossos actos dissidentes e as nossas palavras desviantes um impacto imediato, quer venham a ecoar, como Marco Aurélio gostava de pensar, pela eternidade a dentro, importa apenas que sejam cometidos. Importa que a defesa do livre arbítrio e a capacidade de discernir o que é verdadeiro do que é falso permaneça viva.
Mesmo que contra tudo e contra todos.
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