Para além do constituir um dos elementos chave na fundação do enredo da série da Netflix, o projecto MK-Ultra está na base de inúmeras teorias da conspiração. Acontece porém que o projecto de controlo sobre a mente é bem real, foi mesmo colocado em campo e teve resultados catastróficos.
In Stranger Things it is established Eleven has her powers because her mother was subjected to the MKUltra experiments while she was pregnant with her
— Nuclear MAGA Poso ☢️ (@JackPosobiec) July 16, 2022
O que é MK-Ultra?
Seria desadequado explicar o que é o MK-Ultra sem primeiro dar o contexto histórico em que o projecto surgiu.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, os EUA e a União soviética entraram efectivamente num processo de tensão ideológica, económica e militar que acabaria por se transformar numa Guerra Fria à escala glonal. Hiper-focados nas experiências que a União Soviética e a China desenvolviam ao nível do controlo mental e chocados com gravações vídeo em que prisioneiros americanos da Guerra da Coreia faziam declarações contra o seu país, os serviços secretos temeram de facto que armas do foro psicológico e mental fossem utilizadas contra eles, principalmente para evitar a extracção de informação que pudesse comprometer a segurança nacional.
Daí o programa MK-Ultra, sancionado pelo diretor da CIA Welsh Dulles em 13 de abril de 1953.
Uma das iniciativas originais do MK-Ultra foi criar um “soro da verdade”, projecto liderado por Sidney Gottlieb (conhecido em alguns círculos como “o Feiticeiro Negro”). A hipótese de estudo era que, para controlar a mente, seria necessário primeiro alterar o seu estado. Isso podia ser feito com recurso a várias técnicas.
O ex-agente da CIA Mike Baker considera o “MK-Ultra” o termo genérico para mais de 100 experiências que envolveram electroterapia, testes com substâncias químicas, uso de drogas psicadélicas, indução comportamental e implantação ou exclusão de memórias. Todos estes métodos de alteração do estado mental foram conduzidos com o objetivo de reduzir os mecanismos de defesa a nível cerebral, para que cada indivíduo pudesse apenas confessar factos sobre uma determinada circunstância ou sensação. Um documento desclassificado de 1955 revelou que outros objetivos adicionais do programa incluíam a pesquisa sobre formas de retardar ou acelerar o envelhecimento e desenvolver comportamentos impulsivos e erráticos num individuo, para que pudesse ser desacreditada em público.
Da defesa ao ataque.
Embora as experiências fossem num primeiro estágio destinadas a dar a soldados de elite, espiões e outros oficiais militares e governamentais um meio de se defenderem caso se vissem reféns de forças hostis, o foco mudou eventualmente para uma lógica ofensiva: como aplicar estas técnicas para controlar o inimigo?
As actividades do programa MK-Ultra foram conduzidas em prisões, hospitais psiquiátricos e universidades em todo o território dos Estados Unidos, muitas vezes em participantes involuntários ou inconscientes. Em alguns casos, os próprios investigadores não sabiam que a pesquisa estava a ser desenvolvida no âmbito operacional da CIA. Os principais alvos eram, segundo Gottlieb, “pessoas que não conseguiam reagir”, ou seja, prostitutas, mendigos, toxicodependentes, marginais, reclusos (especialmente aqueles que já eram viciados em drogas) e doentes mentais.
Uma das experiências mais famosas, ou infames, foi a Midnight Climax. A CIA converteu uma das suas inúmeras “safe houses” num bordel, onde prostitutas empregadas pelo governo ministraram LSD ou outros psicadélicos aos seus clientes, sem que estes tivessem consciência do que estavam a tomar. Os seus comportamentos eram observados por monitores que estavam protegidos por um vidro espelhado. A intenção aqui era a de registar os efeitos de certas drogas, e como isso impactava a maneira como os indivíduos falavam e com que facilidade as prostitutas poderiam extrair informações deles.
Uma inesgotável fonte de especulação.
O programa durou até 1973. Como nenhum avanço conclusivo havia sido feito nas áreas de controle mental e lavagem cerebral, a CIA cancelou o projecto e destruiu todos os seus registos, dadas as inúmeras violações éticas que ocorreram no seu âmbito. Independentemente disso, detalhes sobre o MK-Ultra foram divulgados em 1975 durante uma investigação do Congresso sobre atividades ilegais da CIA, e alguns dos documentos restantes foram desclassificados.
Há quem acredite no entanto que este programa ou um outro do género ainda está em actividade nos Estados Unidos. E com que fundamento lógico podem as especulações ser refutadas? A verdade é que o governo americano manteve o programa em segredo durante décadas e tentou sempre reduzir ao máximo a informação prestada ao público, mesmo quando confrontado com uma investigação do Congresso. Por que devemos esperar que, de repente, os responsáveis por este tipo de projectos sejam transparentes ou ajam com preocupações éticas? É por estas e por outras que surgem regularmente rumores de celebridades que foram expostas ao MK-Ultra, de Marylin Monroe a Britney Spears e a Kanye West.
O MK-Ultra é definitivamente real, revela muito sobre a história da Guerra fria, o carácter draconiano dos estados e o lado demente e depravado da natureza humana. Existem muitas vítimas desconhecidas deste programa secreto, os responsáveis pelos traumas e pelas mortes de pessoas inocentes não foram levados à justiça, e provavelmente nunca o serão. Mas as referências na cultura pop e nos media contemporâneos faz com que mais pessoas estejam cientes dessas ameaças e desses crimes, mesmo que alguns os considerem uma “teoria da conspiração”.
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