Há coisas que nunca mudam e uma delas é a tendência que Donald J. Trump manifesta em colaborar com o inimigo, que oscila entre a ingenuidade e a estupidez, e que decorre da sua indisfarçável simpatia pelo neo-liberalismo de Wall Street.

Como se já não bastasse a abominação do investimento no projecto de inteligência artificial e vacinas mRNA de Sam Altman, como se a nomeação do globalista Scott Bessent para director do tesouro Norte-americano não fosse suficientemente chocante, o Presidente dos EUA acaba de subscrever um investimento de 23 biliões de dólares liderado pela BlackRock, que garante dois portos ao longo do Canal do Panamá.

Trump, que numa primeira fase exigiu “que o Canal do Panamá nos seja devolvido, na íntegra, rapidamente e sem questionamentos”, mencionou o acordo no início desta semana durante o seu discurso perante o Congresso, como uma contrapartida aceitável para a Casa Branca.

O consórcio, liderado pela BlackRock, juntamente com a Global Infrastructure Partners e a Terminal Investment Limited, adquiriu os portos de Balboa e Cristobal numa transação originalmente gerida pela CK Hutchison Holdings de Hong Kong.

Durante seu discurso, Trump descreveu o acordo como uma vitória dos EUA, especialmente sobre o Partido Comunista Chinês (PCC):  “O Canal do Panamá foi construído por americanos para americanos”, sublinhou, observando que os EUA são os principais utilizadores desta infra-estrutura, respondendo por quase 70% de seu tráfego.

Este desenvolvimento segue-se a um aumento dos esforços diplomáticos dos EUA para limitar as actividades económicas chinesas na infraestrutura global. O Secretário de Estado Marco Rubio visitou o Panamá no início deste ano para promover o distanciamento de Pequim.

Recentemente, o Panamá abandonou a Iniciativa “Belt and Road” da China, uma decisão tomada no contexto das crescentes preocupações dos EUA relativamente à influência da potência asiática na economia e nas infraestruturas da região.

No entanto, a transação está ainda em fase de análise pelas autoridades do Panamá, com o procurador-geral do país a classificar os contratos como “inconstitucionais”. Está actualmente em curso uma auditoria que será decisiva para a aprovação da venda pelo governo do Panamiano.

Seja como for, entre a BlackRock e o Partido Comunista Chinês, venha o diabo e escolha, sendo certo que a organização mafiosa sediada em Wall Street defenderá tudo menos os interesses dos americanos que Trump afirma proteger.