“Da próxima vez que alguns académicos lhe disserem que a diversidade é importante, pergunte-lhes quantos republicanos há no departamento de sociologia das suas universidades.”
Thomas Sowell
“Existe uma enorme diferença entre tratar as pessoas igualmente e tentar torná-las iguais. Enquanto a primeira é a condição para uma sociedade livre, a segunda significa uma nova forma de servidão.”
Friederich A. Hayek
No movimento woke, sobretudo na sequência do assassinato de George Floyd, um afro-americano que morreu sob custódia policial em Minneapolis, Minnesota, em Maio de 2020, tema que obteve grande impacto nos Estados Unidos e considerável eco à escala mundial, são definidos e explorados três conceitos-chaves que passam a integrar e, de certa forma, a estruturar o movimento, com sólida cobertura institucional e obedecendo a uma agenda política própria, cujo objectivo último é a justiça social.
Referimo-nos ao acrónimo DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) que passo a explanar:
1 – Diversidade (Diversity): Assume a existência de uma multiplicidade de características e identidades próprias num grupo, numa organização ou numa comunidade. Visa-se promover essa diversidade de pessoas de diferentes origens, raças, géneros, orientações sexuais, capacidades físicas e psíquicas, etnias e origens nacionais, num sistema inclusivo, reconhecendo-se explicitamente a multiplicidade de perspectivas diferentes.
2 – Equidade (Equity): Trata-se da busca pela objectividade, justiça e imparcialidade, garantindo que, apesar das diferenças, todos alcancem a igualdade de oportunidades adequadas e de tratamento, independentemente das respectivas circunstâncias particulares. Pretende-se abordar as desigualdades sistémicas, visando a criação de condições equitativas. Nesse sentido, procede-se à eliminação de barreiras ou entraves que impedem certos grupos de alcançar o mesmo nível de oportunidades e êxito que outros lograram.
3 -Inclusão (Inclusion): Consiste na criação de ambientes acolhedores onde todas as pessoas se sintam, na justa medida, valorizadas, respeitadas e incluídas, independentemente das suas diferenças específicas. A inclusão tem por objectivo assegurar que todos tenham voz e participação activas, complementando a diversidade e a equidade para criar ambientes socialmente mais justos e produtivos.
Para além das intenções quiçá louváveis dos promotores da DEI os opositores receiam,
– Por um lado, que a diversidade assenta, marcadamente, nas tonalidades da côr da pele, o que invariavelmente, sucede. Por conseguinte, define-se em função de características físicas e não em diferenças de pensamento, de fé, de cultura, de opiniões políticas, de condicionalismos sócio-económicos e de acções concretas individuais. Por outras palavras, uma empresa ou instituição pode parecer muito diversificada atento o aspecto físico das pessoas que dela fazem parte (mulheres, negros, indianos, latino-americanos, asiáticos, caucasianos, etc.) , mas não das diferentes capacidades e aptidões profissionais, bem como, das tendências políticas dos respectivos membros. A diversidade devia, pois, definir-se erga omnes em todos os aspectos e características dos seres humanos, numa perspectiva holística e não concentrar-se apenas em particularidades ou atributos físicos visíveis.
– Por outro lado, que é colocada demasiada enfâse na equidade em termos de resultados, sem tomar em linha de conta o mérito e as qualificações individuais. A equidade desvirtua o princípio da igualdade, porque, à regra básica e comummente aceite da igualdade de oportunidades, contrapõe uma outra, de natureza injusta e mesmo aberrante: a igualdade de resultados, frontalmente contrária à meritocracia.1
– Por outro, ainda, que o lema da inclusão, é amiúde conducente a ressentimentos e divisões, no seio das instituições, devido às deficientes formas de integração. A inclusão, sem prejuízo dos seus objectivos declarados, opõe-se à “política de identidade”, porque ao criar divisões entre grupos raciais e étnicos, mina um sentimento de unidade na sociedade, o que é contraditório com o próprio conceito de inclusão.
Atendamos ao que nos referem alguns académicos de etnia negra relativamente à temática DEI:
“Aqueles que utilizam o termo “diversidade cultural” para promover uma multiplicidade de enclaves étnicos segregados estão a prejudicar enormemente as pessoas que vivem nesses enclaves. Independentemente da forma como vivem socialmente, as pessoas desses enclaves vão ter de competir economicamente pela sua subsistência. Mesmo que antes não estivessem em desvantagem, estarão em grande desvantagem se os seus concorrentes da população em geral tiverem a liberdade de explorar os conhecimentos, as competências e as técnicas analíticas que a civilização ocidental retirou de todas as outras civilizações do mundo, enquanto os que vivem nos enclaves estão limitados ao que existe na subcultura imediatamente à sua volta.“
Dr. Thomas Sowell2
Na opinião da Drª. Carol Swain, politóloga da Universidade de Harvard:
“Os programas DEI são divisivos e muitos, se não todos, violam as nossas leis de direitos civis, bem como a Cláusula de Proteção Igualitária da 14ª Emenda. Uma atitude positiva é mais importante do que a raça ou a classe social.”3
E para finalizar, esta citação do político e candidato do partido republicano à nomeação para a eleição presidencial norte-americana em 2024, Vivek Ramaswamy, de origem indostânica:
“Em nome da diversidade, sacrificámos completamente a verdadeira diversidade de pensamento. Em nome da inclusão, criámos uma cultura de exclusão em que certas opiniões não são bem-vindas.”4
No fundo, contrariamente ao que dizia Martin Luther King, na diversidade e na inclusão o importante é a côr da pele, as ideias, porém, têm de se conformar ao politicamente correcto, não se patenteando aceitação ou tolerância às que sejam contrárias ao wokismo mainstream.
Assim, esta forma de encarar o problema da justiça social, que já tem raízes consistentes, v.g. nas sociedades anglo-saxónicas e que está a ser implementada por inúmeras instâncias oficiais, (universidades, conselhos escolares, empresas, etc.) é uma abordagem que peca por excesso no que toca à correcção política e é dogmática em relação a questões sociais. Trata-se de uma postura exagerada em relação à justiça social. O problema é que esta má solução expande-se por mimetismo ao resto do planeta, a começar pelo mundo ocidental.
Em suma, a compreensão desses conceitos pode variar dependendo do contexto e das interpretações individuais. Como se sabe, o movimento “woke” surgiu, originariamente, como uma resposta às injustiças sociais, mas as suas interpretação e aplicação podem ser controversas e gerar debates significativos.
FRANCISCO HENRIQUES DA SILVA
__________
1 Normalmente, os defensores do ideário DEI concebem a equidade com o exemplo de um pai e 2 filhos de alturas muito diferentes que estão a assistir a um jogo de basebol, atrás de uma sebe de tábuas de madeira. O pai consegue ver o jogo perfeitamente porque a sua cabeça está bastante acima da altura da sebe. O filho mais velho mal consegue ver, porque a sebe termina mais ou menos a nível dos olhos. O mais pequeno não vê nada porque a sebe não lhe permite ver. A solução consiste em arranjar um caixote de madeira para o filho mais velho e um escadote para o mais pequeno. Assim, todos conseguem ver o jogo sem qualquer problema. Por outras palavras, para os proponentes do DEI este é o exemplo acabado da igualdade de resultados,: todos conseguem ver desde que alguns sejam ajudados de forma variável. O problema é que no toca ao mérito e às qualificações académicas e profissionais os resultados têm de ser objectivos e rigorosos, sem ajudas e sem batota. Qualquer distorção conduz a uma situação injusta e, em última análise, perniciosa para as instituições, pois o pretendido nivelamento resulta na promoção dos menos aptos e, concomitantemente, desmotivando os mais aptos.
2 Cultural Diversity: A World View by Thomas Sowell
3 New York Post de 25 dezembro 2023
4 In X, ex.Twitter, 14 de Dezembro de 2023.
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Francisco Henriques da Silva é licenciado em História, ex-diplomata e autor. Foi Director-geral de Assuntos Multilaterais no MNE e embaixador na Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Índia, México e Hungria
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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