Entre as lágrimas, patéticas, do director da Conferência de Segurança de Munique e o pânico das elites leninistas-globalistas da Europa, a NATO foi a enterrar, na semana passada.

As declarações sucessivas de Donald Trump, do seu Secretário da Defesa Pete Hegseth e do Vice-Presidente JD Vance, não deixam grandes dúvidas sobre a fúnebre condição da Aliança Atlântica. E as conversações que neste momento decorrem na Arábia Saudita entre o Secretário de Estado dos EUA Marco Rubio e o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov são também de viva eloquência.

Enquanto em Paris, os líderes europeus, que não foram convidados para as conversações de Riade, correm aflitos como galinhas de cabeça decepada à procura de uma solução que prolongue a guerra na Ucrânia, russos e americanos falam de relações bilaterais e cooperação comercial, dando já por definitivo o fim do envolvimento americano no conflito.

Trump parece estar disposto a dar a Putin o que ele pretende para restabelecer a cooperação com a potência euro-asiática, e os europeus que se entendam com o seu delírio beligerante.

E não deixa de ser irónico, ou risível até, que as duas potências estejam disponíveis para fazer paz, enquanto as partes fracas (leia-se, a Europa e a Ucrânia), insistem na senda da guerra.

A Europa, sem o apoio militar dos Estados Unidos, não chega a ser um tigre de cartão. Será um rato de cartolina. Na marinha britânica, por exemplo, há mais almirantes que navios de guerra.

Keir Starmer afirmou, num artigo que recentemente escreveu sob o efeito de psicadélicos para o Daily Telegraph, que a adesão da Ucrânia à NATO é incontornável. Mas de que NATO fala o infeliz? A aliança, a ressuscitar, será sempre mais europeia que atlântica, pelo menos nos próximos 4 a 8 anos, deixando os países do Báltico e toda a Europa Oriental à mercê de Moscovo. Salva-se porém um importante detalhe: ao contrário do que a máquina de propaganda ocidental andou a jurar nos últimos anos, o Kremlin não tem ambições expansionistas.

A não ser que personagens sinistros e ensandecidos como o primeiro ministro britânico, que também já se mostrou disposto a enviar 25.000 desgraçados para a frente ucraniana, ou Emmanuel Macron, que não perde uma oportunidade para se mascarar de Napoleão, insistam em picar o urso, claro.

 

 

Mas seja como for, sendo certo que para os Estados Unidos a Europa deixou de ser uma prioridade, como é que Ursula von der Leyen e os seus camaradas de Paris e Londres e Berlim vão convencer os contribuintes europeus a pagar ainda mais impostos para enterrarem 5% dos respectivos PIB num exército comum?

E não que aquilo que agora está a acontecer, com uma rapidez alucinante, fosse imprevisível. Era previsível, em 2020, que a Rússia ia reagir militarmente ao avanço da NATO na direcção da Ucrânia. Era previsível que a Ucrânia, mesmo com o apoio por procuração do bloco ocidental, não poderia sair vitoriosa de uma guerra com a segunda potência militar mundial, cujos recursos industriais e demográficos são incomparavelmente superiores ao país invadido.

Era previsível que Donald Trump, caso ganhasse as eleições de Novembro, teria uma abordagem sísmica em relação à NATO e em relação à Rússia e em relação à guerra na Ucrânia.

Mas os líderes europeus, consistentes com o comportamento autista que os caracteriza, construiram sobre todos estes assuntos uma realidade paralela e viveram-na cegamente, até chocarem com o cimento armado dos factos. E agora, encontram-se numa situação desesperada, embora continuem, teimosamente, a tentar levantar uma nova fantasia. Que podem fazer frente a Moscovo. Que podem constituir um exército comum que ponha em respeito as potências globais. Que têm solidez económica e capacidade industrial para cumprir esse objectivo. Que podem contar com o apoio popular no seio das suas nações e que têm plataforma moral e legitimidade democrática para fazer a guerra seja a quem for.

É óbvio para toda a gente com um neurónio a funcionar que não têm nada disto. E mais: não têm aliados. Empenhada numa guerra comercial com a China e numa guerra por procuração com a Rússia, reticente com israelitas e impotente para salvar os palestinianos, acolhendo dentro das suas fronteiras toda a gente que as queira violar, mas inimiga de todos os povos e principalmente dos povos nativos; alienada, por espúrios complexos de culpa e pela mais irresponsável incompetência, dos continentes africano e sul americano; a Europa está agora, sem a protecção providencial dos Estados Unidos, a sós com o seu desastre.

E das duas uma: ou os povos europeus afastam rapidamente as actuais elites do poder político, ou o velho continente conhecerá, mais uma vez, um devastador período de trevas.

 

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura