Em mais um debate das primárias republicanas, que de novo contou com a ausência de Trump, cuja vantagem nas sondagens lhe permite estes luxos, e inacreditavelmente transmitido pela NBC News – uma estação que é ostensivamente inimiga do Partido Republicano e dos valores conservadores – Vivek Ramaswamy foi uma espécie de Death Star, arrasando tudo à sua volta: neocoms e senhores da guerra, “jornalistas” e outros activistas, burocratas do Partido que só sabem perder eleições, congressistas que “ganham biliões a matar milhões” e assim por diante, num festival de verdade que deixou os seus adversários completamente KO.

A coisa chegou ao ponto em que Nikki Haley, claramente perturbada pelos constantes e assertivos ataques de Vivek, foi levada a dizer esta barbaridade:

“Não é que Israel precise da América, a América é que precisa de Israel.”

A neocom deve julgar que está a concorrer às primárias do Likud.

 

 

Um partido de perdedores, os terroristas na fronteira e os saltos de vinte centímetros.

Vivek Ramaswamy foi de facto o protagonista dos momentos mais marcantes do terceiro debate presidencial do Partido Republicano em Miami, na quarta-feira à noite. A seguir ao evento, a conversa dominante foi sobre a gestão de Ronna McDaniel, líder do Comité Nacional Republicano, que tem protagonizado um mandato falhado. Logo nos seus primeiros comentários da noite, Ramaswamy abordou o tema:

“Tornámo-nos um partido de perdedores. Desde que Ronna McDaniel assumiu o cargo de presidente do RNC em 2017, perdemos em 2018, 2020 e 2022; a onda vermelha que nunca chegou. Fomos derrotados ontem à noite, em 2023. E acho que temos que ter responsabilidade no nosso partido. Por isso, Ronna, se quiseres subir ao palco esta noite, se quiseres olhar os eleitores do Partido Republicano nos olhos e dizer-lhes que te demites, vou ceder-te o meu tempo”.

Questionado sobre a forma como abordaria o conflito entre Israel e o Hamas, Ramaswamy rompeu com as posições sionistas de Ron DeSantis e Nikki Haley, e contrariando a afirmação de Haley que “Israel não precisa da América, a América precisa de Israel”, disse que a sua pátria seria o seu foco.

“A visão fundadora de Israel baseou-se na ideia de que não querem depender da simpatia ou da orientação de ninguém para se defenderem. Por isso, o que eu diria [a Benjamin Neyanyahu] é que Israel tem o direito e a responsabilidade de se defender; dir-lhe-ia para acabar com os terroristas na sua fronteira sul e, como Presidente dos Estados Unidos, vou acabar com os terroristas na nossa fronteira sul. Essa é a responsabilidade dele, esta é a nossa responsabilidade”.

Apesar da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza não ser a Sul, mas a Oeste, o candidato não perdeu fôlego e, insistindo em visar Nikki Haley, que foi o seu saco de pancada favorito durante todo o debate, afirmou a certa altura:

“Quero ter o cuidado de evitar cometer os erros do establishment neocon do passado. Nikki Haley saiu do seu mandato na ONU falida ou endividada. Depois tornou-se uma fornecedora de equipamento militar, entrou para o conselho de administração da Boeing e outras empresas, e agora é multimilionária. Acho que isso é errado, quer sejam os republicanos que o façam, quer os democratas. Esta é a escolha que temos de fazer: Querem um líder de uma geração diferente que ponha este país em primeiro lugar, ou querem Dick Cheney com saltos de vinte centímetros? Nesse caso, temos dois deles neste palco”.

Os “dois neste palco” eram, claro, Nikki Haley e Ron DeSantis. O governador da Flórida, pró-sionista, tem-se tornado cada vez mais sensível às alegações de que usa solas altas para aumentar a sua estatura, acusando os seus críticos de terem “fetiches por pés”.

 

A “democracia” na Ucrânia e os impostores da imprensa corporativa.

Sobre a guerra na Ucrânia, Vivek também optou por não ser poupado em verdades por minuto:

“A Ucrânia não é um modelo de democracia, é um país que proibiu 11 partidos da oposição, que consolidou todos os meios de comunicação social num único braço mediático da televisão estatal, o que não é democrático; que ameaçou não realizar eleições este ano, a menos que os EUA forneçam mais dinheiro, o que não é democrático; que celebrou um nazi nas suas fileiras, o comediante em calças de caqui chamado Zelensky a fazê-lo nas suas próprias fileiras, isso não é democrático. Mais factos que não vão ouvir de ambos os partidos e da imprensa mainstream: As regiões da Ucrânia que estão ocupadas pela Rússia neste momento são regiões de língua russa que nem fazem parte da Ucrânia desde 2014.”

Depois, comentando o facto do debate republicano ser transmitido e moderado pela NBC News, que é totalmente dominada pelo Partido Democrata, Ramaswamy afirmou:

“Pensem em quem está a moderar este debate. Deveriam ser Tucker Carlson, Joe Rogan e Elon Musk, teríamos 10 vezes mais espectadores, eles iam fazer perguntas que interessam realmente aos eleitores das primárias do Partido Republicano e trazer mais pessoas para o nosso partido. Seria o debate mais visto de sempre.”

E dirigindo-se especificamente à moderadora Kristen Welker, a âncora da NBC que mente todos os dias com quantos dentes tem e foi uma das activistas da estação que mais propagou a fraude do conluio russo:

“Kristen, vou usar este tempo porque isto é realmente sobre si e os media corruptos do establishment. Pergunto-lhe se o embuste do conluio, que vocês promoveram nesta emissora durante anos, era real ou foi Hillary Clinton que o inventou. Responda à pergunta, vá!”

Vivek Ramaswamy é um rookie. Está na política há muito pouco tempo. Viveu muito pouco tempo. Muitas vezes parece pretensioso e artificial. As sondagens não lhe são nada favoráveis. Mas caramba, a noite de quarta-feira foi dele.

 

Um debate no deserto.

Infelizmente para o candidato que claramente saiu vencedor do debate, a transmissão da NBC News não teve mais que uns muito medíocres 6,86 milhões de telespectadores.

 


 
Isto é quase exactamente metade da audiência que o primeiro evento do Partido Republicano teve, na Fox News. O programa inicial atraiu 13 milhões de telespectadores, número que ainda assim foi menor do que o esperado e que também também está abaixo do segundo debate, na Fox Business, que atraiu apenas 9,3 milhões de telespectadores.

O debate teve 1,3 milhões de espectadores na faixa etária chave dos 25 aos 54 anos. Menos do que a audiência dos prémios de música country na ABC.

Não é de estranhar: para além da ausência de Trump, e do tom constrangedor que dominou os anteriores debates, que conservador com um mínimo de respeito por si próprio é que se dispõe a sintonizar a NBC News para ver um debate entre republicanos?

Às vezes, vezes demais, parece que os líderes do Partido Republicano estão mesmo viciados em perder. Ou empenhados em deixar que os democratas ganhem.