Como esperado, as consequências do bombardeamento do Hospital Baptista de al-Ahli foram rápidas, com um efeito dominó de consequências negativas tanto para a diplomacia como para as “ruas árabes”. A situação fora da Embaixada dos EUA em Beirute deteriorou-se na noite de terça-feira, com relatos de polícia de choque e gás lacrimogéneo a ser utilizado contra grandes multidões que agitavam bandeiras do Hezbollah.

 

 

A Casa Branca cancelou todo o percurso da viagem de Biden à Jordânia. A confirmação foi emitida na mesma hora em que os líderes árabes anunciaram que não estavam dispostos a reunir-se com Biden, visto que os EUA são o maior financiador e apoiante de Israel.

O Presidente enviou as suas mais profundas condolências pelas vidas inocentes perdidas na explosão do hospital em Gaza e desejou uma rápida recuperação aos feridos.

Depois de consultar o Rei Abdullah II da Jordânia e à luz dos dias de luto anunciados pelo Presidente da Autoridade Palestiniana, Abbas, o Presidente Biden adiou a sua viagem àquele país e a reunião planeada com estes dois líderes e o Presidente do Egipto, Sisi.

Assim, mesmo antes de chegar a Israel, o massacre de terça-feira – que os palestinianos atribuem a Israel e os israelitas atribuem aos palestinianos  – serviu efectivamente para imobilizar a tentativa de fazer diplomacia de Joe Biden.

Enquanto isso, Emmanuel Macron emitiu uma condenação do atentado, afirmando que “nada pode justificar atacar civis”, numa declaração que parece atribuir a culpa diretamente aos israelitas. No comunicado do Ministério das Relações Exteriores francês podíamos ler:

“O direito internacional humanitário é vinculativo para todos e deve permitir a protecção das populações civis. O acesso humanitário à Faixa de Gaza deve ser aberto sem demora”.

Assim sendo, Biden  enfrentará agora a pressão para se juntar ao coro de condenação internacional.

O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, disse à Al Jazeera árabe na manhã de quarta-feira:

“Não faz sentido fazer nada neste momento além de parar esta guerra. Não há benefício para ninguém em realizar uma cimeira neste momento.”

Relatos emergentes de que multidões estavam a tentar invadir a Embaixada dos EUA em Beirute, com base em imagens não confirmadas, circularam amplamente durante a noite de Terça-feira.

 

 

Em torno da Embaixada de Israel na Jordânia, o ambiente era também deveras tenso:

 

 

Para além das dificuldades militares, Israel parece estar também a perder a guerra da propaganda, porque de acordo com um veterano das forças especiais dos EUA, agora jornalista:

 

 

As Forças de Defesa Israelitas (IDF) e o primeiro-ministro Netanyahu comentaram a chacina no hospital de Gaza, que matou e feriu centenas de pessoas:

 

 

Tal Heinrich, porta-voz de Benjamin Netanyahu, disse à CNN na terça-feira:

“As IDF não têm como alvo hospitais. Apenas temos como alvo os redutos do Hamas, depósitos de armas e alvos terroristas”.

Os comentários de Heinrich foram feitos depois de autoridades palestinianas terem dito que estimativas preliminares indicam que entre 200 a 300 pessoas tinham sido mortas no ataque ao hospital. Mas ontem, quarta-feira, já se falava em cerca de 500 mortos.

As IDF emitiram uma declaração baseada numa investigação preliminar, alegando que se tratava de um rocket disparado da Faixa Gaza pela Jihad Islâmica Palestiniana (PIJ) com a intenção de atingir alvos em Israel.

“De acordo com informações de inteligência, de várias fontes que temos, a organização terrorista Jihad Islâmica Palestiniana é responsável pelo fogo que atingiu o hospital”.

 

 

O porta-voz da PIJ negou as alegações. Seja a responsabilidade de quem for, a verdade é que mais de dez hospitais na Faixa de Gaza já foram alvos de bombardeamentos desde que os israelitas iniciaram os a retaliação ao ataque do Hamas. E de qualquer forma não parece plausível que a destruição causada na estrutura hospitalar tenha sido causada por um único rocket.

A reacção internacional tem sido rápida, especialmente por parte dos chefes de estado regionais, com Erdogan da Turquia e o Rei Abdullah da Jordânia a serem dos primeiros a condenar o “crime de guerra” e o “massacre”. Abdullah disse que ninguém pode ficar “silencioso” sobre o sucedido.

Os protestos alastraram na quarta-feira pela geografia global:

Iraque e Turquia.

Libano e Jordânia.

Qatar e Irão.

Espanha e Egipto.

Yemen e Alemanha.

Grécia e Canadá.

 

É neste momento muito difícil calcular o que vai acontecer a seguir. Mas escasseiam razões para o optimismo. Independentemente da responsabilidade pelo horror do hospital al-Ahli caber a palestinianos ou a israelitas, o rastilho está aceso e cada vez mais próximo do barril de pólvora que a qualquer momento pode explodir no Médio Oriente. E no mundo.