O ministro da Saúde do Líbano informou que nove pessoas morreram e 2.800 ficaram feridas devido à explosão de pagers em todo o país.

Advertência: os vídeos inclusos neste artigo podem chocar os leitores mais sensíveis.

 

Os pagers, que alegadamente eram usados por militantes do Hezbollah para comunicarem entre si, explodiram em todo o Líbano na terça-feira, num incidente que está a ser considerado a “maior falha de segurança” que esta rede terrorista, apoiada pelo Irão, enfrentou desde o início da guerra contra Israel.

As explosões ocorreram a partir das 15h45, hora local. O pânico espalhou-se quando as áreas controladas pelo Hezbollah no sul de Beirute e noutras partes do país foram atingidas por explosões que duraram mais de uma hora.

Fontes militares confirmaram que os aparelhos eram os últimos modelos utilizados pelo Hezbollah e que se pensa serem fundamentais para as suas comunicações no âmbito dos esforços de guerra contra Israel. Este incidente constitui um embaraço significativo e coloca um sério obstáculo às suas comunicações e operações. Segundo os meios de comunicação iranianos, até o embaixador iraniano no Líbano, Mojtaba Amani, terá ficado ferido numa das explosões.

 

 

Não é neste momento claro como é que os engenhos foram detonados (suspeita-se que um malware introduzido nos dispositivos levou a que aquecessem até explodirem), mas tudo indica que se tratou de uma operação orquestrada pela Mossad. Não é porém certo que todos os feridos e mortos pertençam ao grupo terrorista. O Hezbollah assumiu que dois dos seus operacionais tinham sido mortos, mas afirmou também que uma jovem rapariga, aparentemente não relacionada com a organização, tinha sido assassinada.

Independentemente das declarações da organização, necessariamente dúbias, a operação é eticamente problemática, já que, mesmo que todos os pagers que rebentaram pertençam a membros do Hezbollah, o que não é certo, as explosões, como é fácil de perceber pelas imagens, podem facilmente atingir inocentes e crianças. Por outro lado, abre-se aqui um precedente perigosíssimo: o de serviços secretos (ou organizações extremistas) em todo o mundo poderem atacar quem quiserem sem deixarem qualquer rasto de responsabilidade, ao fazer detonar dispositivos electrónicos de cidadãos que considerem indesejáveis.

 

 

Um jornalista da Reuters viu ambulâncias correndo pelos subúrbios do sul de Beirute, um reduto do Hezbollah, entre o pânico generalizado. Uma fonte de segurança disse que também estavam a explodir engenhos no sul do Líbano.

O centro de operações de crise do Líbano, gerido pelo Ministério da Saúde, pediu a todos os profissionais de saúde que se dirigissem aos respectivos hospitais para ajudar a lidar com o número massivo de feridos que chegaram para receber cuidados urgentes, alertando os profissionais de saúde para não usarem pagers.

A Cruz Vermelha libanesa informou que mais de 50 ambulâncias e 300 profissionais de saúde foram enviados para ajudar na evacuação das vítimas.

 

 

O Hezbollah não culpou explicitamente Israel pela operação, mas reconheceu o revés, declarando:

“Por volta das 15h30 de terça-feira, 17/09/2024, explodiram vários aparelhos receptores de mensagens, conhecidos como ‘pagers’, que pertenciam a vários trabalhadores de diversas unidades e instituições do Hezbollah. Estas explosões, cujas causas são ainda desconhecidas, provocaram o martírio de uma rapariga e de dois irmãos, e o ferimento de um grande número de pessoas”.

Durante uma reunião do gabinete na terça-feira, o primeiro-ministro libanês Najib Mikati declarou:

“Este ataque constitui uma agressão israelita criminosa, uma grave violação da soberania libanesa e um crime segundo todos os padrões”.

O Ministro da Informação Ziad Makary, falando numa conferência de imprensa em Beirute, anunciou que o governo libanês tinha contactado as Nações Unidas e outros países relevantes, apelando à responsabilização pelo “crime em curso”.

É de crer que esta operação da Mossad irá intensificar ainda mais, se possível, as tensões no Médio Oriente, e provocar uma reacção do Hezbollah. Dependendo do número de civis atingidos pelo ataque israelita, a reacção poderá também ser dirigida à população civil em Israel.