O Deutsche Bank advertiu que o ciclo de expansão e recessão regressará este ano e que está iminente uma vaga de incumprimento da dívida das empresas, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.

De acordo com o estudo anual do banco divulgado na quarta-feira, os incumprimentos das empresas tornar-se-ão mais comuns em comparação com os últimos 20 anos.

O Deutsche prevê que as taxas de incumprimento atinjam o seu pico no quarto trimestre de 2024. O banco projecta que o pico das taxas de incumprimento atinja 9% para a dívida de alto rendimento dos EUA, 11,3% para os empréstimos dos EUA, 4,4% para as obrigações de alto rendimento europeias e 7,3% para os empréstimos europeus.

A taxa de incumprimento estimada para o pico dos empréstimos nos EUA é quase a mais elevada de sempre, em comparação com um pico de 12% durante a crise financeira mundial de 2007-2008 e de 7,7% durante a bolha das empresas “dot-com” no final da década de 1990, segundo o estudo.

Num relatório do banco alemão lemos que:

“Os nossos indicadores de ciclo assinalam a iminência de uma onda de incumprimento. A política mais restritiva da Fed e do BCE em 15 anos está a colidir com uma elevada alavancagem construída sobre margens alargadas. E, tacticamente, o nosso indicador do ciclo de crédito dos EUA está a produzir o seu maior sinal de alerta não pandémico para os investidores, desde antes da crise financeira global de 2007.”

Os estrategas observaram que a magnitude e a duração do ciclo podem ser uma surpresa, embora

“as nossas previsões projectem apenas um retorno do ciclo de expansão e recessão, não um choque ao estilo da crise financeira global”,

O Deutsche Bank advertiu que o aumento agressivo das taxas de juro pelos bancos centrais, incluindo a Reserva Federal dos EUA e o Banco Central Europeu, que continuam a lutar contra a inflação galopante, aumentou os riscos de recessão global. A Alemanha, a maior economia da UE, já entrou em recessão.

O relatório conclui:

“Suspeitamos que a próxima recessão será a primeira desde a bolha tecnológica dos EUA a infligir mais dor nos mercados de crédito do que na economia real.”

 

Novos dados revelam que a Alemanha entrou em recessão.

Estimativas anteriores previam uma estagnação no primeiro trimestre deste ano, mas o produto interno bruto (PIB) da Alemanha está a cair há dois trimestres consecutivos, como revelam os dados divulgados no fim de Maio pelo Serviço Federal de Estatística alemão: o país entrou factualmente em recessão.

A produção do primeiro trimestre caiu 0,3% em relação aos três meses anteriores, depois de uma descida de 0,5% entre Outubro e Dezembro, segundo o Destatis. A estimativa inicial para Maio, divulgada em Abril, era de 0% de crescimento.

A inflação elevada persistiu naquela que é a maior economia da Europa, obrigando os alemães a uma redução no consumo. Em Janeiro e Fevereiro deste ano, o índice de preços ao consumidor situou-se em 8,7%, caindo ligeiramente para 7,2% em Abril, segundo os dados oficiais. Este valor é ainda bastante superior ao objectivo de inflação a médio prazo do banco central, que é de 2%.

Os preços da energia e dos produtos alimentares, em particular, registaram um crescimento acima da média desde o início do conflito na Ucrânia e tornaram-se os principais responsáveis pela elevada taxa de inflação na Alemanha, como explica o comunicado do Destatis.

“A relutância dos agregados familiares em comprar foi visível em várias áreas: as famílias gastaram menos em alimentos e bebidas, vestuário, calçado e mobiliário no primeiro trimestre de 2023 do que no trimestre anterior”.

Em Janeiro, o chanceler Olaf Scholz confirmou a sua reputação de andorinha tonta, excluindo a possibilidade de uma recessão, apesar do impacto económico das sanções ocidentais contra a Rússia.

“Estou absolutamente convencido de que não vamos entrar em recessão. Mostrámos que somos capazes de reagir a uma situação muito difícil”.

Nem por isso, caro Chanceler. A Alemanha ficou atrás de outros grandes estados-membros da UE em termos de desenvolvimento económico no primeiro trimestre deste ano. A UE em geral registou um crescimento de 0,2% entre Janeiro e Março.

O banco central do país, o Bundesbank, disse entretanto que esperava que a economia crescesse “modestamente” no trimestre em curso, graças a uma recuperação da indústria, com uma acumulação de encomendas, e a custos de energia mais baixos, que compensariam a estagnação do consumo das famílias.

Mas é certo que se a tendência recessiva se mantiver, toda a Europa sofrerá com o facto.