Por desinformação da imprensa corporativa, desinteresse pela política ou simplesmente por que gostamos de pensar que certos fenómenos que ocorrem no Ocidente não acontecem no nosso país ou aqui chegam tarde demais para serem efectivos, há ainda muitos portugueses que não estão cientes dos flagelos a que o globalismo submete a sociedade.
Neste artigo sintetizo esses vectores de destruição económica e social que são já bem visíveis em Portugal.
Fragilização Económica e Dependência Externa:
O globalismo enfraqueceu setores tradicionais da economia portuguesa (agricultura, pesca, têxtil) devido à abertura desregulada dos mercados e à concorrência de corporações transnacionais. Pequenas empresas familiares lutam contra produtos importados e massificados, acelerando o êxodo rural e o envelhecimento populacional. A economia tornou-se excessivamente dependente do turismo e de investimentos estrangeiros voláteis, comprometendo a autonomia produtiva do país.
Distorção da Globalização pelos Globalistas:
A globalização, enquanto abertura de mercados e integração económica, poderia ser uma força positiva para modernizar e desenvolver a economia portuguesa. Contudo, os globalistas, agentes que privilegiam agendas supranacionais em detrimento dos interesses nacionais, distorcem este processo. Em vez de promoverem cooperação equilibrada ou investimentos em setores estratégicos, com o Green Deal europeu e unicórnios tecnológicos financiados pelos nossos impostos e com a impressão de dinheiro do Banco central Europeu, incentivam políticas que beneficiam grandes corporações e especuladores. A deslocalização de empresas, a concorrência desleal com países de mão de obra ultra barata, e até escrava, e a dependência de importações essenciais (como alimentos) exemplificam como um instrumento que potencialmente parece benéfico, está a ser usado para esvaziar a economia, não para a fortalecer.
Uniformização Cultural:
Sob o pretexto do multiculturalismo, o globalismo empobrece e promove uma cultura homogénea mundial que dilui a identidade portuguesa. Tradições seculares, festividades regionais e particularidades linguísticas são substituídas por hábitos globalizados e comerciais. Para as gerações mais jovens, o património cultural corre o risco de se tornar folclore, desconectado da vida quotidiana, minando a capacidade de Portugal deve definir o seu próprio rumo.
Desigualdade e Precariedade Laboral:
A promessa de prosperidade partilhada pelo globalismo falhou em Portugal, com a entrada de imigrantes ilegais, tráfico humano e exploração de mão de obra barata, depauperando as condições laborais dos portugueses. Políticas laborais flexíveis, alinhadas com diretrizes internacionais, agravaram condições precárias em setores como a restauração e os call centers, ou mesmo TVDEs que não descontam para a Segurança Social. Nas cidades globais (Lisboa, Porto), o custo de vida disparou devido à especulação imobiliária e a investidores estrangeiros, aprofundando divisões entre elites cosmopolitas e uma população confrontada com salários estagnados e dificuldades no acesso à habitação.
Erosão da Soberania Política:
A adesão a organismos supranacionais e a tratados internacionais negociados sem transparência limitam a capacidade de Portugal legislar de acordo com os seus interesses nacionais. As políticas de austeridade impostas durante a crise de 2008-2014 exemplificam como decisões externas agravaram problemas estruturais, como a dívida pública e o subfinanciamento da saúde, educação e segurança. Este deslocamento de poder para entidades distantes corrói a democracia, reduzindo a influência dos cidadãos a formalidades eleitorais e a um processo contributivo cada vez mais pesado.
Como combater os males da globalização:
Aproveitar as oportunidades globais sem descuidar da singularidade portuguesa. Isso implica reformular a globalização como ferramenta de desenvolvimento e não de submissão.
Proteção seletiva de setores estratégicos como a agricultura sustentável, a indústria, a ciência e a tecnologia, evitando a todo o custo dependências externas e as directrizes distópicas da União Europeia.
Regulação rigorosa contra práticas predatórias de corporações transnacionais.
Incentivos a parcerias internacionais que respeitem a soberania nacional e priorizem transferência de tecnologia.
Educação crítica para que as novas gerações compreendam e valorizem o património nacional.
NUNO PEREIRA
Nuno Matos Pereira é licenciado em Sistemas de Informação e Multimédia, com PG em CID e ESP. SEO. Faz análise política e estudos sobre políticas globalistas e agenda 20/30. É coordenador distrital do partido Alternativa Democrática Nacional (ADN). Pode segui-lo no X: @matospereiracom
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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