Duas corvetas fundeiam
Ao largo da baía –
Até as gaivotas fazem continência

 

 

Ainda agora começou Setembro
Mas o corpo gasto
Já pede agasalho

 

 

Quando era criança
O Verão não tinha
Noites frias

 

 

É bom ter vizinhos
Principalmente quando eles
Vão de férias

 

 

Quando for grande, o Facebook
Quer ser como os sinos
Da minha aldeia

 

 

Sentes a velhice a chegar
Quando te crescem pelos
Nas orelhas

 

 

Uma coisa é jogar ténis
Outra coisa é o Federer
Com uma raquete nas mãos

 

 

Nem os Concertos de Brandenburgo
Convencem o sol –
A noite chega sempre a horas

 

 

A pobreza só é uma virtude
Na poesia
Chinesa

 

 

Há coisas que a ciência
Não explica –
Graças a Deus

 

 

É maior a glória da traineira
Que parte ou da traineira
Que chega?

 

 

Quando a tarde cai
Ao som de Bach
Até o gin tónico é respeitável

 

 

Mesmo quando a conta bancária
Sorri, choras
Pelo que não tens

 

 

A saudade é uma dor volátil –
Morre logo na presença
Do saudoso

 

 

Tão pequeno o meu escritório
Que até as moscas
Sofrem de claustrofobia

 

 

Por mais flautas que Bach faça tocar
O silêncio é sempre
O maestro

 

 

Um cão não pergunta por deus
Mas é mais fiel
Que os fariseus

 

 

Glórias da idade –
Quanto mais cansados os meus olhos
mais nítido o mundo

 

 

O haxixe tem uma coisa boa –
É  mais barato
Que o tabaco

 

 

O mar atrai as pessoas
Como a merda
Atrai as moscas

 

 

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A Arte do Haiku: Introdução.
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