Num mundo surpreendentemente simples, onde as maiores questões da vida são resolvidas com um simples deslizar de tela ou um “like” descuidado, surge uma figura cuja mera menção poderia levar qualquer festa de filosofia à loucura: Friedrich Nietzsche. Ah, Nietzsche! Esse gigante do pensamento que, com o menor dos sussurros, poderia desencadear tempestades intelectuais, ou pelo menos inspirar uma gama infinita de camisetas e canecas com citações ambíguas.

Nietzsche, é claro, é o carrasco filosófico por excelência – aquele rapaz alegre que anunciou, com um sorriso no rosto, a “morte de Deus”. Não, ele não estava atrasado para o Halloween. Ele estava falando sério. Assim começa a saga do pensador que amava tanto a humanidade que decidiu que era melhor nós desistirmos de nossas velhas muletas morais e caminhar, ou melhor, tropeçar, rumo ao abismo do “além-do-homem”.

O “Übermensch” de Nietzsche, nosso herói, não é aquele que encontramos nos gibis, usando capas ou salvando o mundo. Ora, muito pelo contrário! É o humano supremo que, em sua sabedoria infinita, decide que valores são tão fora de moda quanto as regras de etiqueta para jantares formais. Quem precisa de bem e mal quando se pode ser um bastião de autovalorização e vontade de poder, não é mesmo?

Mas, esperem, tem mais! Na armadilha de Nietzsche para os desprevenidos, há um conceito ainda mais intrigante que seduz estudantes de filosofia e aficionados por autoajuda igualmente: a “eterna recorrência”. Imagine, se tiver estômago para isso, que o maior truque que a vida poderia pregar não é no final das contas um coelhinho tirado de uma cartola, mas sim o fato de que tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos, vamos repetir infinitamente, num ciclo sem fim de reprises existenciais. Espetacular, se você for o tipo de pessoa que adora assistir ao mesmo episódio de sua série favorita pela centésima vez.

E o que fazemos com essa joia da filosofia? Nietzsche nos encoraja a abraçar esse abismo, a dançar na beira do precipício, porque, afinal, o que é a vida senão um grande, embora talvez um tanto quanto melodramático, impulso para se tornar o diretor de nosso espetáculo pessoal de absurdos?

Portanto, caros leitores, ao considerarmos a filosofia nietzschiana, não podemos deixar de admirar a coragem (ou seria audácia?) de um homem que, com nada além da força de sua retórica, ousou dizer à humanidade:

“Todos os seus valores precisam de uma reforma radical. Mas, sem pressão. Apenas lembrem-se de que, se falharem, estarão condenados a repetir essa falha eternamente.”

No fim, o legado de Nietzsche talvez seja menos uma receita para a transcendência e mais um lembrete irônico de que, em nossa busca desesperada por significado em um mundo pós-Deus, todos nós podemos estar, de fato, apenas dançando à beira de um abismo filosófico, esperando que nossa trilha sonora seja digna de um replay eterno. E se isso não é motivo para rir (ou chorar), o que mais seria?

 

MARCOS PAULO CANDELORO

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Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. Escreve em português do Brasil.