Durante uma visita à região de Tver, na quarta-feira passada, o Presidente russo fez algumas afirmações importantes, que convém registar, para memória futura e ilustração do que desde 2022 se tem vindo a argumentar no ContraCultura.

 

Falar de um ataque da Rússia à NATO é um “disparate”.

Vários líderes ocidentais tentaram angariar apoio para uma ajuda adicional à Ucrânia, e disseminar o pânico na Europa, afirmando que Moscovo não iria travar o seu avanço se Kiev fosse derrotada no campo de batalha. Na base aérea de Torzhok, Putin refutou peremptoriamente estas afirmações.

Referindo a disparidade entre as despesas de defesa russas e os orçamentos das forças armadas da NATO, afirmou:

“As afirmações de que vamos atacar a Europa depois da Ucrânia são um completo disparate e uma intimidação das suas próprias populações apenas para lhes arrancar dinheiro”.

Os países “satélites” dos EUA na Europa de Leste não têm razões para ter medo, acrescentou Putin. Falar de um possível ataque russo à Polónia, à República Checa ou aos Estados Bálticos é apenas propaganda dos governos que procuram assustar os seus cidadãos “para extrair despesas adicionais das pessoas, de forma a obrigá-las a suportar este fardo”.

A NATO tem vindo a expandir-se em direcção às fronteiras da Rússia, e não o contrário, salientou o Presidente russo, acrescentando que a Federação Russa está apenas a “proteger o nosso povo nos nossos territórios históricos”.

O Presidente russo acrescentou ainda:

“Eles chegaram mesmo às nossas fronteiras… Será que atravessámos o oceano para as fronteiras dos Estados Unidos? Não, eles estão a aproximar-se de nós e chegaram muito perto”.

Torzhok é a sede do 344º Centro de Formação de pilotos de combate russos, incluindo pessoal que está a ser treinado para participar no conflito na Ucrânia.

 

A Rússia não tem “nações hostis”, apenas “elites hostis”.

Ainda em Tver, Putin afirmou que a Rússia não tem intenção de anular a cultura de nenhum país. Moscovo compreende a diferença entre o povo e as elites e respeita a cultura de todas as nações, além de considerar a sua própria cultura como parte do património mundial.

O Presidente estava a falar com artistas da região quando foi levantada a questão das tentativas de “cancelar” a cultura russa por parte de algumas nações ocidentais. Segundo Putin, Moscovo não tenciona responder da mesma forma.

“Não temos nações hostis, temos elites hostis nessas nações. O Governo russo nunca tentou cancelar quaisquer artistas estrangeiros ou espectáculos culturais. Pelo contrário, acreditamos que a cultura russa faz parte da cultura global e temos orgulho nisso”.

As autoridades russas procuram ter em conta o contexto cultural global e “não excluem nada”, continuou. Aqueles que procuram abolir a cultura de uma nação habitada por cerca de 190 milhões de pessoas “não são sensatos”, disse o Presidente, referindo-se às acções ocidentais durante o conflito na Ucrânia.

As nações ocidentais têm procurado repetidamente proibir actuações de artistas e músicos russos, bem como daqueles que são considerados apoiantes de Moscovo. Mais recentemente, o famoso cantor italiano Enzo Ghinazzi, mais conhecido por Pupo, viu cancelada uma actuação na Lituânia por ter realizado um concerto no Kremlin, neste mês de Março.

Pupo veio à Rússia para “transmitir a mensagem de que a paz vai regressar ao mundo”, segundo disse na altura à TASS. O músico também se opôs a um “embargo à cultura de qualquer povo”, considerando essa atitude “errada”. O auditório lituano que iria acolher a sua actuação anunciou posteriormente o cancelamento da mesma, considerando-a uma “boa notícia” para os que se opõem à campanha militar russa na Ucrânia.

No início do mesmo mês, a Coreia do Sul cancelou uma série de actuações de Svetlana Zakharova, uma bailarina de renome do Teatro Bolshoi da Rússia, depois de a Ucrânia ter manifestado a sua indignação relativamente aos eventos planeados.

Desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, muitas instituições culturais ocidentais têm procurado retirar completamente das suas galerias e teatros obras ligadas à Rússia.

A Orquestra Filarmónica de Cardiff, no País de Gales, retirou a música do compositor Pyotr Tchaikovsky de um concerto, a Royal Opera House da Grã-Bretanha cancelou uma digressão do Ballet Bolshoi, e o Carnegie Hall e a Metropolitan Opera de Nova Iorque deixaram de permitir a actuação da maioria dos músicos e organizações culturais russas.

A campanha atingiu um tal absurdo que suscitou críticas de alguns líderes ocidentais. Em Abril de 2023, o Presidente italiano Sergio Mattarella classificou-a como um “gesto errado”. Em Agosto do mesmo ano, o Chanceler alemão Olaf Scholz argumentou contra estas medidas, afirmando que a cultura russa é uma parte da “nossa história europeia comum”.