A história de S. Nicolau oscila entre o facto e a lenda, porque na verdade não sabemos assim tanto do homem que deu origem ao Pai Natal. Apesar de ser um dos santos mais populares das igrejas cristãs grega e latina, a sua existência não é atestada por nenhum documento histórico. Sabemos que foi provavelmente bispo de Mira, uma antiga cidade da Lícia localizada na actual província turca de Antália, e que nasceu na segunda metade do século III, tendo falecido em Dezembro do ano de 350.
Supostamente, Nicolau nasceu numa família abastada em Patara, na Lícia. Quando os seus pais morreram, vítimas de uma epidemia, ele herdou uma fortuna considerável, mas parece que não ganhou o gosto ao dinheiro, já que a história mais famosa sobre a sua vida é de ter atirado pela janela sacos de ouro a três raparigas que iam ser obrigadas a prostituir-se. Pelo menos essa é a versão mais comum da história; há outras, incluindo uma excessivamente sombria em que as três raparigas são decapitadas por um estalajadeiro e conservadas numa banheira de salmoura até Nicolau as ressuscitar.
Depois de realizar vários milagres quando era ainda jovem, iniciando cedo a sua popularidade em toda a Europa e a sua reputação de milagreiro, protector de marinheiros, comerciantes e estudantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças, Nicolau foi escolhido pelo povo de Mira para ser o seu bispo. Mas quando o imperador romano Diocleciano decidiu iniciar uma campanha de perseguição aos cristãos, foi preso por se recusar a negar a sua fé em Jesus Cristo.
Porém, quando Constantino se tornou imperador e se converteu ao cristianismo, Nicolau foi libertado, junto com inúmeros cristãos, e regressou ao bispado, mas deparou-se com uma nova ameaça: o arianismo. S. Metódio, o biógrafo que escreve cinco séculos após a morte do biografado, deixa-nos este relato:
“Graças aos ensinamentos de São Nicolau, só a metrópole de Mira ficou poupada à imundície da heresia ariana, que rejeitou firmemente como um veneno mortal”.
Outros biógrafos afirmam que Nicolau atacou a heresia de Ário (que negava a plena divindade de Cristo) de uma forma muito mais pessoal: viajou até ao Concílio de Niceia e deu-lhe uma bofetada! Segundo a história, que deve ser considerada uma fantasia, porque há registos fidedignos do Concílio e Nicolau não é neles mencionado, os outros bispos de Niceia ficaram chocados com um comportamento tão rude e destituíram-no do cargo de bispo.
Nicolau, porém, não se dá por vencido e permanece activo, prestando auxílio a crianças e outros necessitados. Conta-se que teria conseguido converter hereges transformando hóstias em pão. A São Nicolau é atribuído o dom de ressuscitar crianças e aparecer por toda a Europa muitos anos depois de ter morrido, aparições em que geralmente alimenta os pobres.
Dois séculos depois da sua morte, o imperador de Bizâncio Justiniano dedicou-lhe uma igreja em Constantinopla.
No século X, um biógrafo grego anónimo escreveu:
“Tanto o Ocidente como o Oriente aclamam-no e glorificam-no. Onde quer que haja pessoas, o seu nome é venerado e são construídas igrejas em sua honra. Todos os cristãos reverenciam a sua memória e invocam a sua protecção.”
O Ocidente ficou ainda mais interessado no homem e na sua lenda quando as suas relíquias foram levadas de Mira para Bari, em Itália, a 9 de Maio de 1087. Diz-se que foi representado pelos artistas medievais com mais frequência do que qualquer outro santo, excepto Maria, e só em Inglaterra foram dedicadas cerca de 400 igrejas em sua honra durante o final da Idade Média.
Com tamanha popularidade, as suas lendas entrelaçaram-se inevitavelmente com outras. Nos países germânicos, tornava-se por vezes difícil dizer onde começa o mito de Nicolau e acaba o de Woden (ou Odin). Algures na alta idade média, provavelmente devido à história da oferta de ouro às donzelas, as pessoas começaram a oferecer presentes em seu nome no dia que lhe é dedicado no calendário católico e ortodoxo: 6 de Dezembro.
Quando surgiu a Reforma, o seu culto desapareceu em todos os países protestantes, excepto nos Países Baixos e na Bélgica, onde se continuou a festejar o Sinterklass ou Sint-Nicolaas. Martinho Lutero, por exemplo, substituiu este portador de presentes pelo Menino Jesus, ou, em alemão, Christkindl.
Na verdade, S. Nicolau acabou por voltar a ser uma figura grata nos países protestantes, na figura de Pai Natal, já que, com o passar dos anos, Christkindl passou a ser representado como Kriss Kringle que, ironicamente, é um nome alternativo para o rechonchudo distribuidor de prendas que preenche o imaginário de milhões de crianças em todo o mundo, na noite de Natal.
De facto, 15 séculos após a sua morte, a generosidade, a bonomia, o amor pelas crianças e o dom milagreiro de Nicolau inspiraram o super-herói icónico do Natal, um velhinho corado de barba branca, capaz de artes mágicas como voar num carro puxado por renas, que traz às costas um saco cheio de presentes.
Seja como for, pelo que sabemos sobre a sua piedade e generosidade, faz todo o sentido que 17 séculos sobre a sua morte, Nicolau ainda ocupe um lugar feliz no imaginário cristão.
Como padroeiro dos estudantes é especialmente venerado em Portugal, na cidade de Guimarães. Pelo menos desde 1664 (ano da construção da Capela de São Nicolau) que existem indícios da realização das festas em sua honra, pelos estudantes da cidade berço, alcunhados de nicolinos.
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