Durante a recente visita de Tucker Carlson a Budapeste, onde fez um discurso bombástico em que chegou a pedir desculpa aos húngaros pelo comportamento “nojento” do embaixador dos EUA na Hungria, o antigo âncora da Fox News sentou-se à conversa com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

Orbán – o primeiro-ministro mais duradouro na história do seu país – sabe uma coisa ou duas sobre a Rússia (tendo crescido sob a sua ocupação e sido detido e atirado para a prisão pelo regime comunista apoiado pelos russos, devido aos seus esforços para libertar o país) e a Ucrânia (uma nação com a qual partilha uma fronteira), e por isso a entrevista foi esclarecedora sobre o que se passa exatamente na Ucrânia neste momento (dada a opacidade propagandística das notícias na América), entre outros assuntos relevantes.

 


 

Quando questionado logo no início da troca de impressões sobre o facto de os meios de comunicação americanos continuarem a afirmar que “a Ucrânia está a ganhar” a guerra, Orbán foi lapidar:

“Isso não é apenas um mal-entendido, é uma mentira”.

Sugerindo que a administração Biden não compreende a Rússia e que a tentativa de afastar Putin pode levar a uma instabilidade perigosa, o Presidente Húngaro continuou:

“É difícil compreender os russos, especialmente quando se tem um oceano entre nós e a Rússia.”

Orbán salientou que o debate político no Ocidente se centra na liberdade, nos direitos civis e na mecânica da democracia, enquanto as preocupações russas são focadas em manter o país unido, dada a sua imensidão geográfica e diversidade étnica, alertando que a dissonância cognitiva tem implicações perigosas e é corruptora da estratégia dos EUA, especialmente para países como a Hungria, que estão geograficamente mais próximos do conflito.

“Não interpretem mal os russos. Eles não se vão fartar de Putin e expulsá-lo, vá lá, isso é uma piada.”

Criticando a vice-presidente Kamala Harris por ter sugerido que a Ucrânia poderia aderir à NATO, o líder húngaro afirmou que se trata de uma proposta irrealista que só serviu para agravar as tensões. Em vez disso, defendeu uma nova arquitectura de segurança que respeite a soberania da Ucrânia, mas que não inclua a adesão à NATO.

Devido à sua relutância em simplesmente aceitar a ideologia neo-liberal de Washington e, em vez disso, colocar o povo do seu país – e as suas necessidades energéticas e alimentares – em primeiro lugar, Orbán foi apelidado de “fascista” pelos meios de comunicação ocidentais, de “fantoche de Putin” e de “amigo da Rússia”.

Neste contexto, Carlson perguntou a Orbán:

“Está preocupado com a possibilidade de ser esmagado pelos EUA?”

Orbán respondeu com cautela e ironia:

“É uma situação perigosa. Não sou o político preferido dos liberais, mas ninguém é perfeito”.

Mas acrescentou que não se importa em ser mal amado pelas elites de Washington, porque persegue valores mais importantes para a sociedade civil que lidera:

“Há coisas que são mais importantes do que eu, do que o meu ego: a família, a nação, Deus. Ser húngaro é ter muito orgulho nisso. Amamos a nação, amamos o país e orgulhamo-nos dele. Não é um pensamento muito comum, nas sociedades ocidentais. Mas na Hungria, continuamos a ser muito patriotas e cristãos e estamos empenhados nesses valores. Não a um nível ideológico, mas nas ruas, todos os dias”.

Realçando que a Rússia e a Ucrânia estão muito perto da Hungria e que as decisões tomadas nos EUA podem ter um impacto imediato na sua nação, Viktor Orbán insistiu na perigosidade da situação actual.

“É perigoso. Quando os Estados Unidos e esta administração não gostam de nós, ou nos consideram um inimigo ou um retrocesso, isso é perigoso em termos de política internacional”.

Reflectindo sobre a posição da NATO na guerra da Ucrânia, Orbán mediu menos as palavras:

“É uma má estratégia, temos de a travar. Não podemos vencer [os russos], não vamos matar o seu líder, eles nunca vão desistir, vão investir mais. O que finalmente vai contar é o número de tropas terreno e os russos são muito mais fortes”.

Orbán comete então a maior heresia que é possível entre os líderes mundiais: elogia Donald Trump:

“Chamem Trump de volta. Essa é a única saída. Chamem Trump de volta. Podem criticá-lo por muitas razões. Compreendo toda a discussão. Mas a melhor política externa das últimas décadas pertenceu-lhe. Ele não iniciou nenhuma nova guerra. Tratou bem os norte-coreanos, a Rússia e até os chineses. Conduziu uma política que foi a melhor para o Médio Oriente, os Acordos de Abraão. Trump é criticado por não ter formação suficiente para compreender a política externa. Não é esse o caso”.

E continuou, em tom profético:

“Se na altura ele fosse o presidente a invasão russa não seria possível. Por isso, Trump é o homem que vai salvar o mundo e, provavelmente, os seres humanos do mundo também”.

Ao ser chamado a comentar o facto do governo dos EUA estar a perseguir judicialmente o antigo presidente, o líder húngaro franziu o sobrolho e disse:

“Na Hungria, é impossível imaginar a utilização do sistema judicial contra um adversário político… isso foi feito pelos comunistas”.

Já no epílogo da entrevista e numa lúcida apreciação da transformação ideológica que aconteceu no Ocidente nas últimas décadas, Orbán afirmou:

Liberalismo já quis dizer liberdade. Agora os liberais são inimigos da liberdade.”

E concluiu com uma soturna advertência:

“Este é um momento muito perigoso. A terceira guerra mundial está a bater à porta”.

Veja a entrevista na íntegra, que vale bem a pena.

 

 

Entretanto e já de volta aos Estados Unidos, Tucker Carlson avisou que os poderes instituídos em Washington vão tentar cristalizar-se no poder, mas não através da fabricação de uma nova pandemia, já que as massas estão alerta para uma repetida intrusão nos seus direitos e liberdades e dificilmente obedeceriam a novos mandatos, como aconteceu da última vez. Nesse sentido, Tucker desconfia que a guerra aberta e declarada com a Rússia será neste momento a única saída para que o aparelho democrata e as elites globalistas se mantenham à frente dos destinos da América.