Perguntam-me, os que abriram olhos para a realidade,
que fazer para travar a guerra pela liberdade?
Como se eu, colarinho azul das palavras operário,
soubesse mais que armar o abecedário.
Peço aos jovens o favor de terem filhos
e aos velhos, que se escusem de sarilhos.
Dos outros espero que saibam dizer não
e que guardem uns euros debaixo do colchão.
Não é fácil a dissidência, nos tempos que correm,
mas sabemos pelos vacinados que morrem
que é mais perigosa a medicina do telejornal
que a irredutível bactéria do hospital.
Desaconselho a pólvora ou a trincheira,
porque já não há homens soldados fiéis à bandeira.
Recomendo o amor da família, a paz de Deus,
e o Evangelho de Mateus.
Não há muito mais p’ra fazer, na verdade,
que por regra desconfiar da autoridade.
E sobretudo rejeitar a pretensão e o mito
que são constantes do discurso perito.
Não há nada que o justo repórter mais mereça
que um leitor que pense pela sua cabeça.
Confia pois nos teus melhores instintos
e que o bem e o mal são valores distintos.
Desaconselho a tolice ou a violência,
mas não a redentora virtude da desobediência.
Recomendo a verdade de Cristo, a sua paixão
e o Evangelho de João.
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